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Legitimidade de Atos

20 de Abril de 2019 às 22:01

Durante estas duas semanas, bastante atribuladas em Sorocaba, em que a operação Casa de Papel iniciada numa manhã chuvosa de segunda-feira trouxe a atenção dos diversos veículos de informação e das redes sociais, além de trocas de secretários da Prefeitura, a comédia leve de Shakespeare começa a fazer sentido: muito barulho por nada. Para não ficarmos em nada, pode-se dizer que se achou alguns indícios de favorecimento de contratos, o que não deixa de ser grave, porém, na medida justa. O que se percebe hoje fica no campo de troca de acusações pessoais e, para uma investigação iniciada pela Polícia Civil há mais de seis meses, esperava-se, de fato, menos alarido e mais fatos objetivos e concretos. Uma pergunta que não consegue ficar escondida é aquela célebre: a quem interessa tudo isso?

Há tempos existe uma declarada disputa pelo Poder em Sorocaba, desde quando o prefeito ficou impedido de exercer seu cargo por cerca de 40 dias em meados de 2017, com uma ajuda totalmente explícita da Câmara de Vereadores. O que se viu na época, quando a vice-prefeita assumiu a gerência da cidade, foi uma grande influência de vereadores de esquerda, alguns ligados a sindicatos que, com ideias bizarras postas em prática em tão pouco tempo, conseguiram bloquear os negócios imobiliários na cidade e quase quebraram o cidadão com alguns aumentos de IPTU que chegaram próximo dos 1.000%. Negócios em andamento, de forma geral, tornaram-se suspeitos e contratos foram cancelados sem a devida verificação em seu conteúdo.

Desde o retorno do prefeito, com o então outro presidente na Câmara (embora do mesmo partido) a oposição cresceu ainda mais.

O que nos traz a situação atual. O vereador que na época do afastamento do prefeito foi impedido de votar, o mesmo Anselmo Neto (PSDB), é agora o presidente da comissão de acompanhamento das investigações Casa de Papel que diz “... é claro que, na Justiça, nada está comprovado. Não existe prova nenhuma que ligue o prefeito com essas denúncias. O que existem são depoimentos, denúncias” para concluir o óbvio: “percebe-se que Sorocaba está em uma situação sem governo”.

O que se deve levar em consideração neste disque-disque-denúncias é o que interessa para a cidade, numa avaliação não emocional e, ainda menos, que traga vendetas pessoais que, sabe-se, existe nessa Casa de Papel, e por si, inflamável. O que interessa ao cidadão? Ninguém faz essa pergunta. Com pouco mais de um ano e meio de governo para o término da gestão, a mudança do prefeito é de interesse de quem, considerando-se que, até agora, não se conseguiu ligá-lo às denúncias em investigação? Ao máximo poderão dizer que o alcaide pode sair arranhado do episódio da voluntária e caberá a ele lidar com isso junto à opinião pública. O próprio prefeito é um natural candidato à reeleição se fizer um bom trabalho. É por essa razão que existe a reeleição.

Outra questão que é preciso considerar, partindo-se do pressuposto de que, até agora, o prefeito não tem ligações com as denúncias até então apresentadas como diz o nobre vereador Anselmo, para que mãos iria o Executivo de Sorocaba caso a Câmara atente, de novo, para o impedimento. A primeira hipótese é a vice-prefeita, que já é ré em processo que corre na Justiça. Logo, seria passível de fácil cassação. Aliás já está sendo criada uma situação para esse fim. A outra hipótese é que com o impedimento também da senhora vice-prefeita a liderança do Executivo iria para o presidente da Câmara, Fernando Dini, que é potencialmente um dos concorrentes à Prefeitura em 2020. Conseguiria ele, em questão de um ano e pouco, exercer um mandato que o levasse à reeleição? Ele teria apoio da Câmara que também tem seus próprios candidatos interessados na Prefeitura? Poderia Dini ser um apaziguador, um tertius, que permitiria Sorocaba finalmente voltar à normalidade institucional? Deixariam esse homem trabalhar? São questões que devem estar passando pela cabeça do nobre vereador.

As respostas não são fáceis e nem se pretende aqui tomar posições, a não ser a do cidadão, nosso leitor. O que Sorocaba precisa hoje é governabilidade, de cabeças focadas no bem do cidadão, no ordenamento e cuidado com a cidade nas questões sociais acima de tudo, com as necessidades da zona norte por exemplo, na manutenção da qualidade de vida em toda as regiões.

Acima de tudo, é preciso ter um gerenciamento de cabeça fria, de ânimos focados nos interesses da cidade. E transparência, legitimidade de atos, sejam do Executivo, do Legislativo e mesmo, pasmem a que ponto estamos, dos investigadores.