Na última quinta-feira, a Santa Casa de Misericórdia de Sorocaba, hospital referência na luta contra a Covid-19 no município, prestou uma homenagem singela, porém tocante, aos seus profissionais de enfermagem, aqueles que atuam na linha de frente no combate à pandemia desde que os primeiros casos da doença foram registrados na cidade. A cerimônia foi realizada no jardim frontal da instituição, no bairro Árvore Grande, com o hasteamento das bandeiras, inclusive uma bandeira da Santa Casa com a assinatura de todos os profissionais de enfermagem que trabalham na instituição. A homenagem contou com a presença da Banda Marcial de Votorantim e serviu ainda para celebrar a marca de 200 altas de pacientes que se recuperaram da Covid-19 depois de permanecerem internados na Santa Casa.

Homenagens como essa, que certamente todos os hospitais e unidades de saúde gostariam de fazer para seus profissionais de saúde, acabou se transformando em um símbolo bastante apropriado para esta semana de aniversário de Sorocaba. Uma forma de homenagear aqueles que não estão medindo esforços, sacrificando muitas vezes sua vida pessoal para atender os pacientes de uma doença da qual ainda se sabe muito pouco, não têm medicamentos específicos e as vacinas ainda estão em fase de pesquisa.

Poucas reportagens do portal do Cruzeiro do Sul na internet e nas redes sociais da publicação tiveram tantas manifestações positivas, de agradecimento a esses profissionais, extensivos também aos médicos e pessoal de apoio e limpeza, sem os quais o trabalho nos hospitais seria impossível. A homenagem é justa não só pelo trabalho que esses profissionais vêm realizando para atender as vítimas da pandemia, mas também pelo sacrifício e o risco a que estão sujeitos.

A morte de profissionais de saúde causou impacto desde o início da pandemia. O médico Li Wenliang, apontado como um dos primeiros a identificar a existência de um surto do novo coronavírus e alertar as autoridades chinesas, foi uma das primeiras vítimas. Ele chegou a ser convocado pela polícia chinesa por ter alertado para o perigo do vírus, o que causou revolta na população. Em Sorocaba tivemos o caso do técnico em enfermagem Douglas Barbosa de Medeiros, de 33 anos, funcionário de um hospital particular que morreu vítima da Covid-19 no dia 26 de abril. Como homenagem do poder público, o hospital de campanha construído na Arena Multiúso, para os pacientes da pandemia, recebeu o seu nome.

Em meados do mês de junho, entidades representativas dessas categorias fizeram um alarme que sensibilizou a opinião pública. Segundo o Conselho Federal de Enfermagem, o Brasil chegou a ser recordista mundial em mortes de profissionais de enfermagem pela Covid-19. Um levantamento realizado pela Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo informou que a cidade conta com 90 mil profissionais de saúde e destes, pelo menos 23 mil (26%) já tiveram Covid-19, o que mostra como esses profissionais estão expostos ao vírus ao atender a população, mesmo usando todos os equipamentos de proteção individual recomendáveis. Outro estudo indica que mais de um milhão de profissionais de saúde do Brasil já tiveram sintomas da Covid e mais de 10 mil profissionais da saúde já foram afastados por Covid-19 no Estado de São Paulo. O pico de infecções entre os profissionais da área ocorreu entre 28 de março e 17 de maio. O número de casos regrediu para aumentar novamente em junho. Nesse mês 200 casos foram notificados e mais de mil ficaram sob investigação. Muita gente tem certeza que, passada a pandemia, a enfermagem e outras da área da saúde, que lutaram na linha de frente do combate à doença sejam bastante valorizadas. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha, diante do número de profissionais que adoeceram e do trabalho que realizam na luta contra a Covid-19, lançou a campanha Valorize o Essencial, uma proposta para combater o estigma e fomentar o respeito e o apoio aos que estão combatendo a pandemia. E lembrou que desde o registro das primeiras infecções os profissionais passaram a ficar expostos a alto risco de contaminação.

É por tudo isso que a homenagem prestada pela diretoria da Santa Casa aos profissionais de enfermagem e pessoal de apoio merece aplausos. Impossível dizer como seria o enfrentamento da epidemia se não tivéssemos esses profissionais trabalhando dia e noite para cuidar dos enfermos.