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Isolamento em nova fase

31 de Maio de 2020 às 00:01

Sorocaba e uma boa parte dos municípios paulistas iniciam nesta segunda-feira o processo de reabertura dos estabelecimentos comerciais e de serviços que estiveram fechados durante a quarentena. Sem nunca ter alcançado a taxa ideal de isolamento estabelecida pelo governo estadual, que é de 70%, a cidade se prepara para a abertura parcial e bastante limitada de sua economia. A volta, mesmo que parcial à normalidade, é um pedido geral dos comerciantes, prestadores de serviços e empresários que tiveram de fechar as portas em meados de março quando a pandemia começou a tomar corpo no território brasileiro, principalmente no Estado de São Paulo, epicentro da Covid-19 no Brasil.

Sorocaba foi classificada como área de flexibilização 2, que impõe sérias limitações às atividades econômicas, mas resultar em alívio para alguns setores. Estão liberados para funcionamento concessionárias de veículos, escritórios, comércio de rua, imobiliárias, mas com restrições. Shopping centers funcionarão quatro horas por dia podendo admitir em seu interior 20% de sua capacidade, o que é, convenhamos, um cálculo difícil de fazer. As vagas nos estacionamentos serão limitadas. Galerias de hipermercados também poderão abrir durante quatro horas. Há um emaranhado de regras e horários estabelecidos pelo decreto municipal. Shoppings e galerias têm permissão para abrir das 15h às 19h, enquanto o comércio de rua abre das 9h às 13h. Concessionárias, imobiliárias e escritórios das 15h às 19h e todos os estabelecimentos terão que adotar procedimentos de segurança como higienização dos ambientes e distribuição de álcool em gel para os clientes e funcionários. Não são poucas as pessoas que questionam a decisão da prefeita em abrir o comércio em um período limitado, pois pode concentrar mais gente, apesar do limite de ocupação. A abertura do comércio do Centro em um horário e o dos shoppings em outro, também recebe críticas. O uso de máscaras de proteção continua obrigatório.

O decreto também altera o funcionamento do transporte coletivo, que passa a utilizar 50% da frota; a zona azul volta a ser cobrada em todo o município. Templos religiosos foram autorizados a funcionar, mas terão igualmente uma série de restrições, entre elas uma distância mínima entre fiéis. A Igreja Católica informa que a volta das missas ainda é objeto de estudo.

Na verdade, é um emaranhado de regras nem sempre muito claras que precisam ser observadas. A dúvida é se o poder público municipal terá como realizar a fiscalização. Pelo decreto, os responsáveis são os órgãos competentes da fiscalização regular das posturas municipais -- que sabidamente têm número reduzido de funcionários -- que podem solicitar apoio da Guarda Civil Municipal e até da Polícia Militar, caso necessário.

Por outro lado, é perfeitamente compreensível a ansiedade com que muitos comerciantes e prestadores de serviços têm para reabrir seus negócios, mesmo com algumas limitações. No período em que foram obrigados a baixar as portas suas despesas não pararam. A grande maioria paga aluguel, tem impostos e fornecedores para pagar e funcionários na folha de pagamentos. Os que conseguiram resistir até agora, mesmo demitindo parte dos colaboradores e negociando o pagamento de aluguéis e outras despesas, enfrentarão uma realidade bastante adversa daqui para a frente.

Embora a cidade nunca tenha atendido completamente a meta de isolamento -- na última semana o índice foi de apenas 39% ante os 70% solicitados -- é difícil dizer se haverá consumidores para os serviços e comércios reabertos. Na última sexta-feira, a Secretaria da Saúde municipal registrou oficialmente mais 60 novos casos de Covid-19 na cidade, quando atingimos 930 casos confirmados. O número de óbitos também aumentou e chegamos a 43, um número bem superior aos 30 mortos pelo surto de dengue registrado no município em 2015.

Especialistas lembram que a quarentena ficou praticamente insuportável para a população pela sua duração. Opiniões desencontradas entre governo federal e governos estaduais confundiram a população que não fez um isolamento como deveria. Por isso muitos acreditam que a flexibilização agora é arriscada, pois a epidemia poderá aumentar de intensidade com o relaxamento das medidas de proteção. Há ainda a questão dos testes, realizados até agora em parcela mínima da população, o que faz com que as autoridades da saúde trabalhem sem referências concretas sobre o avanço da doença. E as dúvidas sobre os benefícios ou não da reabertura também atingem a população. E é certo que haverá uma parcela significativa que vai preferir continuar em casa, mantendo o isolamento, até que a situação melhore, um prenúncio do comportamento que pode prevalecer no pós-pandemia.