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Invasões previsíveis

14 de Junho de 2019 às 00:01

Na última quinta-feira, moradores do Residencial Carandá assistiram a uma mobilização que, infelizmente, tem se repetido com alguma frequência naquele que é um dos maiores conjuntos habitacionais da região: uma ação de reintegração de posse. Desta vez, a ação planejada pelo Banco do Brasil -- a instituição financeira responsável pelo empreendimento -- removeu 13 famílias que ocupavam irregularmente imóveis há vários meses. Para a remoção das famílias foram mobilizados funcionários das secretarias municipais da Habitação e Regularização Fundiária (Sehab), Igualdade e Assistência Social (Sias) e Guarda Civil Municipal. Coube à Prefeitura providenciar transporte para as mudanças das famílias em uma ação que contou também com a participação da Polícia Militar.

Não é a primeira vez que o poder público é mobilizado para auxiliar na reintegração de posse e certamente esta não foi a última. Segundo os vizinhos dos desalojados, os imóveis invadidos pertenciam a cinco condomínios diferentes dentro do conjunto habitacional. Sabe-se que alguns deles já tinham dono, isto é, pessoas já os haviam adquirido formalmente junto ao Banco do Brasil, mas ainda não haviam ocupado o imóvel. Outros apartamentos não tinham proprietário definido pelo agente financeiro e igualmente estavam vazios. As famílias removidas dos apartamentos foram orientadas a participar de um programa habitacional. A Associação dos Moradores do Residencial Carandá alerta que se a Secretaria da Habitação ou o Banco do Brasil não agirem rapidamente para entregar os apartamentos ainda desocupados, eles podem sofrer invasões. É uma situação que se repete desde a entrega atabalhoada do conjunto habitacional por iniciativa da Prefeitura e sem o aval do agente financeiro, em 2017.

O Residencial Carandá foi construído por meio do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal. Ao seu lado, na rodovia Emerenciano Prestes de Barros, que liga Sorocaba a Porto Feliz, foi erguido outro conjunto gigantesco, o Residencial Altos do Ipanema. O primeiro foi inaugurado em março de 2017 e o segundo no ano passado. Juntos somam milhares de unidades habitacionais em local distante do Centro e tem mais de 20 mil habitantes, uma população superior a muitos municípios paulistas. Foram construídos, como já foi comentado mais de uma vez neste espaço, com um conceito equivocado de núcleo habitacional, que é erguido em área distante de toda infraestrutura disponível, forçando a Prefeitura a providenciar todo o resto, como ligações de água e esgoto, transporte coletivo, sistema viário, escolas, creches, postos de saúde, entre tantas benfeitorias necessárias para atender um número tão grande de pessoas. Conjuntos habitacionais desse porte trazem inúmeros inconvenientes para seus moradores. Em primeiro lugar é preciso destacar a distância dos empregos e escolas e os custos dos deslocamentos diários em transporte coletivo nem sempre eficiente. Por mais que a administração municipal se empenhe, dificilmente consegue suprir essa nova “cidade” com todos os equipamentos necessários. Muitos moradores têm de se deslocar também para estudar, fazer visitas a médicos ou postos de saúde e até para fazer compras. É por esses e outros motivos que muitos apartamentos ainda estão vazios. Muitos proprietários, após a aquisição dos imóveis, levam em conta as dificuldades que terão de enfrentar no novo endereço e adiam a mudança.

As características dessas novas “cidades” erguidas nos limites do município, onde o policiamento ainda é precário, também atraem o crime organizado que se infiltra em um ambiente composto, em sua grande maioria, por gente trabalhadora que fez um grande sacrifício para adquirir seu imóvel. Além da prisão e apreensão de pequenos traficantes, fato comum a praticamente todos os bairros, a polícia prendeu no final do ano passado, em um apartamento do Carandá, uma pessoa apontada como o contador e distribuidor de drogas para a zona norte da cidade de uma facção criminosa. Tinha em seu poder, além de vários quilos de entorpecentes, a contabilidade do tráfico daquela região da cidade.

Os dois gigantescos conjuntos habitacionais da zona norte são uma realidade. Caberá agora ao poder público acelerar a implantação de infraestrutura que ainda falta e cuidar com especial atenção da segurança daquela região. Sem um aparato de segurança bem preparado, invasões continuarão ocorrendo e maus elementos estarão tentando se infiltrar na grande massa de moradores para praticar seus crimes.