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Hortas urbanas

13 de Março de 2020 às 00:01

Mesmo uma cidade que cresce muito rápido como Sorocaba, cuja malha urbana se espalha sem parar em todas as direções, encontramos um grande número de hortas urbanas em várias regiões da cidade como mostrou reportagem publicada por este jornal no último domingo.

Algumas são pequenas, destinadas a abastecer um grupo de amigos, outras já são maiores, produzem em grandes quantidades e se tornam referência para quem busca verduras e legumes comprovadamente frescos e de boa qualidade.

Na verdade, hortas urbanas não são recentes, pelo contrário. Há registros de cultivo de hortaliças, frutas e legumes desde a Antiguidade para fins alimentares nas cidades da época.

Chegaram até nós fortes referências desse tipo de cultivo na Idade Média, principalmente em conventos e palácios, principalmente por questões de segurança e subsistência.

No continente europeu, somente com o adensamento das cidades provocado pela Revolução Industrial, no final do século 19, é que começou a transferência da produção de legumes e verduras para áreas mais distantes das cidades.

Na década de 1970, a agricultura urbana voltou a ganhar destaque nas discussões de desenvolvimento sustentável, meio ambiente e segurança alimentar.

Mas no Brasil as hortas urbanas ainda são encontradas, principalmente nas pequenas comunidades e até em grandes centros, desde que exista espaço apropriado, como mostrou a reportagem do Cruzeiro do Sul.

Houve um período, há algumas décadas em que, tanto o governo estadual como a Prefeitura de Sorocaba, incentivaram a criação de hortas em áreas disponíveis do município.

Em meados dos anos 1980, em um contexto de grave crise econômica, durante o governo Sarney, com altíssimo desemprego e inflação estratosférica, foram criadas pelo governo de André Franco Montoro políticas públicas destinadas a amenizar esse problema.

Foram criados incentivos para a produção de gêneros de primeira necessidade com apoio ao pequeno e médio produtor, fomento de novas formas de comercialização desses produtos, como feiras do produtor e compras comunitárias e incremento da produção de alimentos para autoconsumo, com a criação de hortas comunitárias, projetos em parcerias com prefeituras e comunidades.

Obteve sucesso a criação das hortas comunitárias, muitas aproveitando inclusive espaços públicos que eram cedidos em comodato.

A iniciativa tinha como entusiasta a esposa do governador, dona Lucy Montoro, que criou uma horta modelo na cobertura do Palácio dos Bandeirantes e se empenhava no crescimento desse tipo de atividade que proporcionava alimentação sadia com custos baixíssimos.

O Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo e a Secretaria da Agricultura e Abastecimento passaram a incentivar a criação de hortas para amenizar os efeitos do desemprego e da recessão daquele período.

A empresa de transmissão de energia elétrica, a Eletropaulo, à época uma empresa estadual, passou a ceder para cultivo terrenos de sua propriedade localizados sob as linhas de transmissão. Esses terrenos existem em praticamente todos os municípios de médio e grande porte, o que incrementou o projeto.

Um balanço do governo da época mostra que foram criadas 248 mil hortas domiciliares e aproximadamente 4.700 hortas comunitárias e escolares em praticamente todas as cidades do Estado. O projeto colaborou na complementação alimentar de milhões de pessoas.

A grande vantagem dos produtos produzidos em hortas urbanas, desde que certos cuidados sejam observados, é que eles são realmente frescos.

Verduras e legumes adquiridos no comércio convencional, como quitandas, supermercados e até feiras livres foram cultivados nos cinturões verdes das grandes cidades, vendidos para os grandes entrepostos comerciais e daí distribuídos para a rede varejista, depois de várias viagens, o que envelhece o produto e aumenta seu custo.

Em uma horta urbana, o consumidor tem a oportunidade de escolher o que quer ainda no pé, assistir à colheita e levar o produto para casa. Muitas hortas ainda existentes na cidade têm sua origem nas hortas comunitárias, como a localizada na avenida Santa Cruz, sob as torres de energia.

O poder público precisa avaliar a possibilidade de incentivar a criação de hortas, individuais ou coletivas, inclusive nas escolas, como forma de melhorar a oferta de alimentos de boa qualidade para a população, um tipo de projeto que teve êxito em um passado não muito distante.