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Hora de atenção e responsabilidade

23 de Dezembro de 2020 às 00:01

Diferentemente do que imaginávamos, o final de ano não será de relativo alívio pela chegada das primeiras vacinas contra a Covid-19 em alguns lugares do mundo -- e a possibilidade de uma vacinação em massa para a população brasileira em 2021. Dizem que depois da tempestade vem a bonança. No caso da pandemia atual, infelizmente não deu tempo da bonança chegar antes de nova turbulência. A segunda onda do coronavírus chegou forte em todo o mundo, antes do alívio que a vacinação promete trazer no futuro.

Nas últimas quatro semanas, todos os índices relativos à pandemia do novo coronavírus aumentaram em São Paulo. O número de novos casos da doença subiu 54%, as mortes tiveram alta de 34% e as internações cresceram 13%. Em todo o Estado, há mais de 1,3 milhão de pessoas que testaram positivo para a doença e 45.395 óbitos pela Covid-19. Esse crescimento fez o governo estadual realizar ontem (22) uma atualização extraordinária do Plano São Paulo. A região de Presidente Prudente, no oeste paulista, foi rebaixada para a fase vermelha, por atingir 83,1% de ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), três pontos porcentuais acima do limite. Esta foi a única mudança imediata. As outras 22 áreas, incluindo a região de Sorocaba, permaneceram na classificação 3 (amarela). Mas detalhe: isso só vale até a quinta-feira (24), pois as 48 cidades do Departamento Regional de Saúde (DRS) de Sorocaba e todo o Estado de São Paulo voltarão para a fase 1 (vermelha) no Natal e Ano Novo. Assim, entre os dias 25 e 27 de dezembro e 1º a 3 de janeiro de 2021, apenas os serviços essenciais poderão funcionar, como farmácias e hospitais. Já bares e restaurantes, por exemplo, deverão estar fechados. E o mais inquietante é que Sorocaba está entre as regiões que despertam mais preocupação, ao lado do ABC, na área metropolitana da capital, e de Registro. De acordo com a secretária estadual de Desenvolvimento Econômico, Patrícia Ellen, essas três regiões entraram na mira do governo devido ao elevado índice de ocupação de leitos nas UTIs. Caso não regridam no avanço do contágio, podem ser as próximas na fase vermelha, igual a Presidente Prudente.

Os dados de Sorocaba nos últimos cinco dias comprovam a preocupação da secretária. Nesse período, os novos casos na cidade saltaram de 206 para 474. O número de mortes também subiu. Foram 18 entre 18/12 e 22/12, com seis por dia na segunda e na terça-feira (ontem).

O objetivo desse endurecimento do governo estadual é claro: tentar evitar o aumento de novos casos, mortes e internações pela Covid-19 com as festas de fim de ano. A principal meta é combater as aglomerações costumeiras nesse período de Natal e réveillon. Mesmo com os números de casos e mortes por Covid-19 crescendo, aeroportos e terminais rodoviários da capital e de cidades do interior registram filas e aglomerações de pessoas que estão de malas prontas para passar as festas de final de ano em outra cidade.

São vários os motivos que levaram a essa explosão casos em todo o mundo. A segunda onda da doença era previsível, mas ela se aproveitou da flexibilização natural das pessoas. O vislumbramento das vacinas -- que já são realidade em alguns países da Europa e nos Estados Unidos -- certamente causou um inconsciente afrouxamento quanto ao isolamento social.

Além disso, o mundo começa a ter de se preocupar com uma nova variante do vírus, confirmada inicialmente pelo governo britânico. Considerada 70% mais contagiosa, essa nova cepa está se espalhando rapidamente pela Inglaterra, gerando novas restrições e quarentenas. Em Londres, por exemplo, ela já está sendo responsável por mais de 60% dos novos casos. A epidemia chegou a ser considerada fora de controle pelas autoridades de saúde britânicas. Como consequência, dezenas de países suspenderam os voos de ida e vinda do Reino Unido.

De todos os vírus, incluindo o novo coronavírus, novas cepas ou variantes estão constantemente surgindo, algo para o qual os cientistas que desenvolvem vacinas estão se preparando. No caso da variante de Sars-CoV-2 do Reino Unido, a virologista Wendy Barclay, da universidade Imperial College London, explicou que duas dezenas de mutações foram identificadas em seu código genético, o que é incomum e gera uma preocupação imediata.

O alento é que especialistas garantem, com base nas informações disponíveis até o momento, que essa nova variante não prejudicará a eficácia das vacinas já aprovadas.

Todos esses fatos apontam para um recado claro para a população. É necessário reforçar o uso de todas as medidas preventivas, respeitar o distanciamento social, manter o isolamento que for possível, usar e abusar do álcool em gel e se deslocar o mínimo possível, somente para as atividades essenciais.

A próxima atualização do plano de flexibilização ocorrerá em 7 de janeiro. O governo estadual já adiantou que, na ocasião, nenhuma região avançará para a fase 4 (verde), mais flexível. Ou seja, ainda será preciso uma boa dose de paciência, sacrifício, persistência, colaboração e bom senso de todos para chegarmos à bonança tão desejada e almejada.