Fundec: a arte não pode parar
A Fundação de Desenvolvimento Cultural de Sorocaba (Fundec), com 28 anos de atividades, é uma espécie ilha de qualidade no cenário cultural da cidade. Desde o início de suas atividades, quando tinha como principal objetivo administrar a Orquestra Sinfônica do município, tornou-se uma referência nas áreas artística e cultural. Em período de pandemia que tem prejudicado particularmente as atividades artísticas, a entidade tem se destacado pela maneira como vem enfrentando as adversidades.
Desde que a pandemia causada pelo novo coronavírus provocou a política de isolamento social, com o fechamento de casas de espetáculos, cinemas, teatros e principalmente instituições de ensino de todos os níveis, a Fundec tratou de se reinventar, como mostrou recente reportagem publicada por este jornal (Fundec mantém aulas on-line e lança sarau, pág. 13, 22/7) do repórter Felipe Shikama. Por meio desse trabalho ficamos sabendo que as aulas do Instituto Municipal de Música de Sorocaba (IMMS), mantido pela instituição, continuam sendo oferecidas gratuitamente a todos os seus 700 alunos. Por conta da pandemia, as aulas têm sido a distância. Para que isso acontecesse foi preciso que os professores se adaptassem à nova forma de ensino musical, a compreensão dos pais e a vontade de aprender dos alunos. Mesmo com as dificuldades iniciais que aos poucos foram sendo superadas, o cronograma de quase vinte cursos de instrumentos está sendo mantido. A adesão dos alunos e o aproveitamento têm sido surpreendentes para os dirigentes da entidade.
Com a impossibilidade de apresentações ao vivo em suas dependências ou mesmo em outros ambientes, também por conta da pandemia, a Fundec criou o primeiro Sarau Cultural on-line que é apresentado em suas redes sociais. Nesses encontros, professores e alunos da instituição fazem apresentações intercaladas pela declamação de versos de grandes poetas brasileiros. A edição de estreia desse tipo inédito de espetáculo já foi assistida por mais de 5 mil pessoas e segundo os organizadores, pelo menos mais três saraus estão programados para as próximas semanas. O diretor técnico da Fundec, Roberto Samuel, adiantou que o formato do sarau deu bastante certo e que outros dois estão sendo preparados, um com a participação de professores e membros da orquestra sinfônica, e um terceiro com a participação exclusiva de alunos da instituição. A ideia é ampliar a participação também para cantores e pessoal de teatro. Os saraus passarão a ser apresentados nas tardes de domingo nas redes sociais da Fundec.
Mas as atividades on-line, segundo a diretoria da entidade, não param por aí. Está previsto para os próximos meses que a prestigiada Orquestra Sinfônica de Sorocaba, que também é mantida pela Fundec, publique um “collab”, como são chamados os vídeos de música produzidos coletivamente durante o isolamento social. Cada músico tocará seu instrumento em sua casa e, por meio da tecnologia, será montada uma apresentação virtual. A intenção da Orquestra, sob a regência do maestro Eduardo Ostergren, é revisitar trechos de composições mais marcantes da música erudita mundial nesse espetáculo diferenciado.
Essa rápida adaptação da estrutura da Fundec à nova realidade provocada pela pandemia foi obtida com treinamento. Segundo Antonio Carlos Sampaio, presidente da entidade, quando o prédio da Fundec precisou fechar as portas para as atividades presenciais por conta da quarentena, os professores tiveram férias antecipadas e esse período serviu para que o corpo docente se preparasse para trabalhar com ensino a distância. As apresentações têm dado certo e os professores, muitos dos quais não tinham qualquer intimidade com transmissões ao vivo pela internet, já pensam em manter alguns tipos de atividades on-line mesmo após o final do período de isolamento social.
E tratando-se da Fundec, é importante registrar que ela ocupa o prédio histórico mais bem conservado de Sorocaba. A instituição ocupa as instalações do antigo Teatro São Raphael, construído em 1844, no período áureo do ciclo do Tropeirismo, quando durante a feira anual de muares que reunia vendedores de animais vindos do sul do continente e compradores de todo o País, a cidade vivia um período de efervescência cultural, com companhias de teatro de fora se deslocando para se apresentar em Sorocaba. A majestosa construção foi erguida em taipa de pilão em terreno cedido pela família do Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, ex-governador da Província de São Paulo, e teve sua construção financiada pelas famílias mais abastadas desse ramo de atividade. Uma sede que combina com a missão de polo irradiador de cultura da entidade.