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Faltou autocrítica

27 de Outubro de 2018 às 06:00

Quando a atual campanha eleitoral for analisada daqui algum tempo, com os atenuantes naturais do distanciamento histórico, perceberemos que neste momento de ânimos exaltados de lado a lado, com nervos à flor da pele e a emoção tomando todo espaço onde deveria prevalecer a razão, faltou um amplo trabalho de autocrítica no processo eleitoral.

Amanhã, mais de 140 milhões de brasileiros comparecerão às sessões eleitorais de todos os Estados da federação, para escolher governadores, onde há necessidade de segundo turno, e o futuro presidente da República, que governará pelos próximos quatro anos. A campanha eleitoral, uma das mais polarizadas desde a redemocratização do País, termina sem que os grandes partidos, principalmente o Partido dos Trabalhadores, que inclusive chega ao segundo turno, tenha feito a tão esperada autocrítica pelos problemas que trouxe ao País. Não foi só o PT que deixou de analisar suas falhas e erros e pedir desculpas aos eleitores. Várias outras agremiações que em um momento ou outro se envolveram em negócios escusos, passaram toda a campanha política sem tocar no assunto. Entre as siglas com maior representatividade, MDB, PSDB, PTB, DEM, entre outros, ficaram devendo o gesto de mea-culpa. Nem o PSL, partido praticamente desconhecido antes desta eleição, veio a público pedir desculpas por excessos e várias escorregadas de alguns de seus membros que perderam a mão nas críticas durante a campanha.

Mas o caso mais emblemático destas eleições, aquele que não se perderá nas análises históricas futuras, é o fato de o PT disputar esta eleição sem assumir os erros cometidos por seus dirigentes enquanto investidos em cargos públicos nos últimos 14 anos. Não é normal, em nenhum lugar do planeta, que vários ex-presidentes de um mesmo partido tenham sido condenados e presos, a mesma degradante situação de vários ex-tesoureiros, parlamentares, ministros e um ex-presidente da República, todos envolvidos com enriquecimento ilícito, entre outros delitos.

A lambança com dinheiro público não começou agora. Todos se lembram do Mensalão, uma estratégia do governo petista para conseguir maioria no Congresso por meio do pagamento de parlamentares. Num primeiro momento, o ex-presidente Lula alegou que havia sido traído pelos companheiros e que não sabia de nada. Passado algum tempo, esqueceu-se de tudo, inclusive do que não sabia e do escândalo que existiu e levou para o xadrez vários dirigentes da sigla. O mesmo acontece com o Petrolão, em que a maior empresa do País foi saqueada em bilhões de reais com o uso da velha triangulação: políticos corruptos, dirigentes de estatais corruptos e empreiteiros igualmente desonestos.

Sobre a política econômica equivocada dos governos petistas, também nenhum arrependimento. Baseada no incentivo ao consumo interno e crédito barato, o esquema começou a fazer água logo depois da “marolinha”, nos governos de Dilma Rousseff quando houve uma queda no mercado internacional de commodities e a consequente diminuição do fluxo de recursos externos. O resultado, além das pedaladas fiscais que fizeram a presidente sem apoio perder o mandato, foi uma das maiores crises econômicas que este País já viu e que serviu para o empobrecimento geral da população, praticamente anulando os ganhos dos tempos da economia aquecida e jogando na rua mais de 50 milhões de pessoas sem carteira assinada, que ainda estão aí, entre desalentados, desempregados, sem emprego formal, espalhados por todo o Brasil.

No pleito deste domingo, mesmo com as oscilações previsíveis de final de campanha e fruto de uma disputa acirrada, todas as pesquisas de intenção de voto indicam que há um favorito, e não é o candidato do PT. É um deputado que veio do baixo clero, filiado a um partido pouco conhecido e que praticamente ficou afastado da campanha por 50 dias, boa parte deles internado em hospital para recuperar-se de um atentado que quase lhe tirou a vida. Esse candidato conseguiu captar na população, inclusive entre os mais humildes, seus anseios e aspirações. Percebeu que a população quer um País em que governantes não pensem somente no próprio enriquecimento e de suas legendas. Que os governantes não julguem as pessoas somente pelo viés ideológico e que não queiram aparelhar o Estado de tal maneira que fique ingovernável quando estiverem fora do poder. Um País sem o “nós contra eles”. Um País em que a honestidade derrote a bandalheira. Cabe lembrar que quem quer que venha a ser eleito terá que fazer uma composição política legítima, apaziguar ânimos de adversários e não inimigos e governar para todos. Estará como nunca sob o olhar atento da população e a lupa da imprensa.