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Falta de planejamento

31 de Maio de 2019 às 00:01

Entidades assistenciais que há décadas atendem pessoas carentes, hospitais públicos e a até postos de saúde têm enfrentado severa falta de recursos nos últimos anos. Na mesma semana que a Prefeitura anunciou corte de 44% nos recursos que seriam repassados para as entidades que atendem crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, percebe-se em reportagens publicadas pelo Cruzeiro do Sul que há uma carência generalizada de recursos e a última saída de muitas entidades é recorrer a doações e à solidariedade da população e de empresas privadas para tentar sobreviver.

A OAB de Sorocaba, por exemplo, por meio da Comissão de Direito Médico e da Saúde, iniciou uma campanha para arrecadar medicamentos que serão destinados à Santa Casa de Misericórdia e ao Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil de Sorocaba (Gpaci). A campanha é permanente e tem como objetivo suprir as falhas existentes nos estoques desses hospitais. O próprio Gpaci, dias antes, iniciou uma campanha com o objetivo de arrecadar alimentos para compor a alimentação dos atendidos: crianças e adolescentes com câncer. Todos os anos, boa parte da receita desse hospital especializado de elevado conceito e gerido basicamente por voluntários, vem da colaboração de uma rede de fast food que realiza um dia especial de vendas para arrecadar recursos para essa entidade. Todo o dinheiro resultante da venda do mais conhecido sanduíche da rede em Sorocaba é revertido para ajudar na manutenção do hospital que recebe pacientes de 47 municípios da região e ainda oferece apoio e acolhimento às famílias dos pacientes.

Existem vários outros exemplos em que a obrigação do poder público é substituída pela solidariedade dos cidadãos. Também nesta semana, os alunos do curso de Relações Públicas da Universidade de Sorocaba (Uniso) escolheram o Serviço de Obras Sociais (SOS) para um projeto de início do ano letivo. Os alunos estão arrecadando alimentos para elaborar e distribuir um jantar para alimentar pelo menos 60 pessoas em situação de rua atendidas pela entidade.

O festival de carências nos serviços que servem basicamente a população mais pobre não para por aí. Pacientes que dependem de medicamentos e insumos médicos encontram dificuldades em obtê-los na rede pública de saúde. Na Policlínica Municipal há pelo menos três meses faltam alguns medicamentos controlados que normalmente são distribuídos aos pacientes. A distribuição de fraldas geriátricas em algumas unidades básicas de saúde também está irregular. A Prefeitura admite a falta desses medicamentos por conta de problemas burocráticos e informa que há problemas na distribuição de alguns tamanhos de fraldas por conta do atraso dos fornecedores.

E os problemas não param por aí. Pessoas que dependem da Farmácia de Alto Custo do Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS) reclamam que foi interrompido o fornecimento de alguns medicamentos, entre eles um adesivo utilizado para retardar o avanço da doença de Alzheimer. A Secretaria de Saúde do Estado, que é responsável pela farmácia, informa que esse medicamento é fornecido pelo Ministério da Saúde que compra e distribui o remédio, mas está enfrentando problemas de distribuição.

Há algo de errado com a distribuição de recursos da área da saúde e da assistência social quando um hospital referência no tratamento de câncer infantil precisa de ajuda da população para comprar alimentos para seus pequenos pacientes. Há algo de errado quando pessoas que precisam de medicamentos de uso continuado não conseguem obtê-los nas Farmácias de Alto Custo criadas justamente para isso. Também não está correto que entidades como a OAB tenham de se mobilizar para conseguir medicamentos que irão suprir a farmácia de hospitais da cidade, uma obrigação do poder público. Todas essas campanhas mostram que existe solidariedade entre a sociedade civil que percebe as carências em determinadas áreas e se mobiliza. Mas o correto seria que a União, Estados e municípios tivessem previsão orçamentária para esses gastos. Vereadores e representantes da população na Assembleia Legislativa, Congresso e membros do Poder Executivo têm a obrigação de observar essas situações. Campanhas de solidariedade para suprir esta ou aquela necessidade deveriam ser exceções. Hoje, sem elas, muitos serviços nessas áreas seriam ainda mais precários.