Esgoto nos córregos
A reportagem do Cruzeiro do Sul, após receber informações de moradores do município de Itu, constatou graves irregularidades no despejo de esgoto sem qualquer tratamento em córregos que fazem parte da bacia do rio Sorocaba.
Foram localizados dois pontos onde está sendo despejado o esgoto, nas proximidades do km 82 da rodovia Castelo Branco e no bairro Portal do Éden, ambos no município vizinho.
Itu construiu uma Estação de Tratamento de Esgotos naquela região, inaugurada em 2018, mas ela não está funcionando, como constatou um dia depois a fiscalização da Cetesb que esteve no local.
Como foi verificado, o primeiro ponto de despejo de esgoto é um córrego que fica próximo à rua José Benedito de Morais. De acordo com moradores do bairro Portal do Éden, esse córrego corre em direção à ETE Pirajibu e continua até atingir o rio do mesmo nome, um afluente do Sorocaba.
A situação no outro ponto, próximo à rodovia, é semelhante. Há vários pontos onde o esgoto é lançado no curso d’água e esse esgoto seria proveniente da região do Pirapitingui, bairro que se formou ao redor do antigo hospital.
Ocorre que em 2018 a Prefeitura de Itu e o serviço responsável pelo abastecimento de água e esgotamento sanitário da cidade inauguraram uma Estação de Tratamento de Esgoto na região, próximo ao bairro Portal do Éden, justamente para evitar esse problema, mas que hoje está desativada.
Quando foi inaugurada essa estação, a promessa era que 100% do esgoto produzido na região passaria por tratamento antes de seguir para os córregos e rios.
Questionada, a Companhia Ituana de Saneamento não comentou o despejo de esgoto nos córregos e nem deu informações sobre a paralisação do funcionamento da ETE.
A legislação estadual proíbe que esgoto sem tratamento seja despejado em cursos d’água, mas pelo jeito isso ocorre com frequência na região.
Especialista em recursos hídricos ouvido pela reportagem lembra que o rio Pirajibu, além do esgoto que recebe em Itu, já chega à região com uma carga de esgoto e outros poluentes que recebe no município de Alumínio. E vai além, alerta que vários rios da bacia do Sorocaba como o Pirapora, Pirajibu e Ipanema recebem esgoto não tratado.
Um dia após a publicação da reportagem, técnicos da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) confirmaram que a ETE do Pirajibu, em Itu, está realmente inoperante.
O órgão, que é responsável pela fiscalização e monitoramento de atividades geradoras de poluição no Estado, informa que após realizar a vistoria, constatou que serão necessários reparos significativos na instalação da ETE para que ela volte a funcionar e prometeu retornar à região para nova vistoria na área.
A Prefeitura e o Serviço Autônomo de Água e Esgotos (Saae) de Sorocaba há pelo menos duas décadas trabalham para a despoluição do rio Sorocaba, um trabalho que começou com o afastamento do esgoto de todos os córregos da cidade com seu direcionamento para as estações de tratamento.
Foi um trabalho demorado e caro, pois custou aos cofres públicos aproximadamente R$ 200 milhões. O tratamento de todo o esgoto produzido no município e o controle de poluição das indústrias realmente surtiram efeito e melhorou consideravelmente a qualidade da água do rio.
O abastecimento de água de Sorocaba, como se sabe, depende da represa de Itupararanga. Cerca de 70% de toda água consumida vem desse manancial que fica distante 15 quilômetros da principal estação de tratamento da cidade, a do Cerrado. As adutoras, para chegar até o ponto de tratamento, atravessam trechos da Serra de São Francisco, locais de difícil acesso e regiões urbanizadas.
Por conta da instabilidade desses terrenos, em mais de uma oportunidade ocorreram deslizamentos de terra e outros acidentes que romperam as adutoras, deixando a cidade sem água.
Para diminuir a dependência de uma fonte de água tão distante, decidiu-se pela construção de uma estação de tratamento que retire a água do rio Sorocaba, a ETA do Vitória Régia, aproveitando as boas condições da água do rio.
Ocorre que o rio Pirajibu, que traz esgoto sem tratamento de Itu, desemboca perto da estação que deverá ser inaugurada em dezembro e poderá eliminar problemas de abastecimento em algumas regiões da cidade durante períodos de estiagem.
Segundo o Saae, o ponto em que será captada a água para a estação fica a jusante do rio Pirajibu, ou seja, eventualmente a água terá que passar por um processo mais rigoroso de tratamento para poder ser consumida.
A Cetesb e o Ministério Público precisam tomar uma posição forte contra essa situação o mais rápido possível. É inadmissível que o município vizinho continue a jogar esgoto sem tratamento nos córregos, poluindo o meio ambiente e prejudicando o futuro sistema de abastecimento de água.