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Esforço reconhecido

28 de Julho de 2019 às 00:01

Para um país que tem problemas para levar a toda população atendimento digno na área da saúde e que é o segundo maior produtor de tabaco no mundo, perdendo somente para a China, foi um feito o Brasil ser considerado o segundo país que melhor combate o tabagismo pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Brasil e Turquia foram considerados os únicos dois países - dentre os 171 que aderiram ao programa -- que conseguiram redução no consumo de tabaco. O resultado foi divulgado na última sexta-feira no Rio de Janeiro e está no 7º Relatório da OMS sobre a Epidemia Mundial do Tabaco. O relatório aponta os progressos conseguidos pelos países para ajudar as pessoas a deixar de fumar. Na avaliação do órgão internacional, o Brasil, na segunda posição, é exemplo para o mundo no combate ao tabagismo.

O Brasil e a Turquia se tornaram referências no combate ao consumo de tabaco ao alcançar o mais alto nível das chamadas seis medidas Mpower, um plano elaborado para reverter a epidemia do tabaco. São elas: monitorar o uso do tabaco e as políticas de prevenção; proteger as pessoas contra o tabagismo; oferecer ajuda para parar de fumar; avisar sobre os perigos do tabaco; aplicar proibições à publicidade, promoção e patrocínio do tabaco e aumentar os impostos sobre o tabaco.

O sucesso das campanhas antifumo é facilmente perceptível. Em um país onde anos atrás fumava-se em todos os locais, desde ambientes de trabalho, salas de aula, escritórios, bares e restaurantes, houve uma mudança radical. Hoje ninguém discute que fumar nesses locais é prejudicial tanto para a saúde do fumante como para a das demais pessoas. Toda pessoa que deseja fumar sai de ambientes fechados e vai para a rua. Tornou-se um hábito em quase todas as cidades. O Estado de São Paulo foi pioneiro e adotou legislação própria há dez anos. Vários Estados seguiram o exemplo, mas o restante do País só veio adotar a legislação mais rigorosa. Somente dois anos depois, em 2011, uma nova lei federal unificou a legislação em todo o Brasil, com um pouco mais de restrições, como não poder fumar debaixo de toldos. Essa legislação só foi regulamentada em 2014.

Essas restrições, aliadas a campanhas publicitárias de impacto, ao aumento considerável dos impostos sobre os cigarros e os alertas estampados agressivamente nas carteiras de cigarro, ajudaram a reduzir consideravelmente o número de fumantes. Em um tempo em que as marcas de cigarro estavam presentes nas competições esportivas e nos comerciais de televisão, a direção do jornal Cruzeiro do Sul, e da Fundação Ubaldino do Amaral (FUA), sua mantenedora, consciente dos malefícios provocados pelo fumo, foi pioneira e decidiu não publicar mais anúncios de cigarros.

Todas essas ações levaram a uma redução importante no número de fumantes. Uma pesquisa realizada pelo Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas mostra que em 2018 9,3% dos brasileiros ainda tinham o hábito de fumar, enquanto que em 2016, 15,7% da população fumava, ou seja, em 12 anos houve uma redução de 40% no número de fumantes, e a tendência, segundo o Ministério da Saúde, é uma queda ainda maior. Embora o Brasil tenha registrado redução no número total de fumantes e tenha seu trabalho nesse sentido reconhecido internacionalmente, há muito que avançar. A taxação dos cigarros com impostos elevados, por exemplo, um mecanismo utilizado para conter o consumo, é burlado descaradamente pelo contrabando de cigarros populares baratos, geralmente procedentes do Paraguai, e que inundam o mercado brasileiro.

O tabagismo é considerado a principal causa evitável de morte no mundo, contribuindo diretamente para ao menos 20% de todos os óbitos. O hábito de fumar é a principal causa de câncer de pulmão no mundo. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que até o final do ano serão registrados mais de 390 mil novos casos de câncer de traqueia, brônquio e pulmão no Brasil em função do tabagismo. Além disso, o uso do tabaco tem relação direta com mortes por doenças cardíacas; doença pulmonar obstrutiva crônica; outros cânceres, câncer de pulmão, pneumonia e mortes por acidente vascular cerebral. Sem contar os milhares de leitos hospitalares ocupados por pessoas com doenças provocadas pelo fumo. O combate ao tabagismo é uma questão de saúde pública e precisa avançar sempre.