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Equilíbrio no trânsito

29 de Junho de 2019 às 00:01

Crédito da foto: Fábio Rogério

Na última quinta-feira, dia 27, foi comemorado o Dia do Motociclista, uma data nacional instituída em 1984 em homenagem a um jovem sorocabano, Marcus Bernardi, piloto e mecânico de motos que morreu prematuramente naquela data, em 1974. É uma homenagem a todos aqueles que pilotam seus veículos de duas rodas para lazer ou profissionalmente.

O mercado de motocicletas no Brasil passou por várias fases. Até pouco mais da metade do século passado dominavam o mercado motocicletas e motonetas (Lambretas e Vespas) de origem norte-americana ou europeia. A partir dos anos 1970, com a chegada das motos e mais tarde dos scooters de origem japonesa -- que rapidamente construíram fábricas na Zona Franca de Manaus --, houve uma explosão no mercado e esses veículos inundaram as cidades brasileiras. A partir daí, os maiores fabricantes passaram a despejar no mercado milhões de motos todos os anos, hoje contando também com a concorrência de fabricantes chineses. O preço acessível para boa parcela da população, o baixo consumo e a mobilidade que esses veículos oferecem os transformaram em opção mais barata e mais prática que o transporte coletivo.

O problema é que o motociclista em seus deslocamentos diários, pelas próprias características do veículo, se torna a parte mais frágil no caso de um acidente de trânsito. A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo divulgou recentemente levantamento que mostra que de 2013 a 2018 houve um aumento de 15,8% no número de internações em hospitais do SUS no Estado decorrentes de acidentes de trânsito e 80% das internações estão ligadas a acidentes com motos. Em 2018 foram mais de 26 mil internações de pessoas envolvidas em acidentes e desse total, 22.500 (86%) eram motociclistas. No mesmo período constatou-se queda nas internações de acidentados que ocupavam carros, certamente um reflexo dos equipamentos de segurança obrigatórios para esse tipo de veículo, como cintos de segurança, airbags e freios com ABS.

Um balanço do Ministério da Saúde aponta que em 2018 mais de 11 mil motociclistas perderam a vida e o seguro DPVAT pagou mais de 167 mil indenizações a vítimas de acidentes com moto no mesmo ano, sendo que um terço das indenizações foi paga no Nordeste. Houve também nos últimos anos um grande aumento de amputações. De acordo com dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (Sihsus), de 2008 a 2015 foram registrados em todo o Brasil 361.585 procedimentos de amputações de membros inferiores e superiores, sendo que acidentes de trânsito são a segunda maior causa, superada apenas pela diabete.

Diante desse quadro trágico, constata-se que temos cada vez mais motos circulando pelo País. Além dos motociclistas que usam seus veículos para lazer ou para locomoção diária, há vários anos a profissão de motoboy se tornou uma alternativa de renda a milhares de jovens que se arriscam entre os veículos de maior porte para transportar documentos. A esses profissionais se juntaram os entregadores de refeições prontas e, mais recentemente, os entregadores de aplicativos. Esta última atividade está para o motociclista desempregado como o Uber está para aquele cidadão que perdeu o emprego e tem um carro na garagem. A atividade atrai principalmente pessoas que encontram dificuldades em se inserir no mercado de trabalho, inclusive um grande número de mulheres, todos dispostos a um enorme sacrifício para conseguir alguma renda. Boa parte desses novos motociclistas não têm experiência de trânsito, mal dominam o veículo que pilotam e se arriscam para fazer suas entregas cada vez mais numerosas. São, infelizmente, candidatos em potencial a figurar nas estatísticas de acidentes.

A presença cada vez maior de motocicletas e scooters nas ruas é irreversível. Mas é preciso que algumas providências sejam tomadas com urgência. Para aumentar a segurança no trânsito, sobretudo para aqueles que pilotam motos, é preciso, em primeiro lugar, melhorar a formação tanto de motociclistas como motoristas de todos os tipos de veículos para que convivam no trânsito com mais harmonia. A criação de faixas exclusivas, fiscalização rigorosa sobre o uso de equipamentos de segurança para quem conduz veículos de duas rodas e limites de velocidade compatíveis com as nossas vias são algumas medidas que precisam ser tomadas para evitar que tantos acidentes aconteçam e as estatísticas sejam menos trágicas no ano que vem.