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Editorial: Quando a obrigação vira exceção e motivo de prêmio

05 de Agosto de 2018 às 10:35

Numa semana muito estranha no ninho dos legisladores de Sorocaba, quando atos de pessoas que querem ser mais espertas que outras a qualquer preço e, no cenário nacional, observa-se a escalada em busca do poder central, a reflexão sobre obrigações básicas de um indivíduo se faz necessária. E, pode-se acrescentar também, sobre gesto de civilidade e de delicadeza.

Vivemos um tempo estranho. Tão estranho que comemoramos, destacamos e até premiamos a regra. Espera-se que as pessoas sejam honestas; trabalhem e executem suas tarefas com cuidado e dedicação. Mas isso se tornou muito infrequente; os golpes; o “se dar bem”; a esperteza; “passar a perna” tornaram-se valores de quem é esperto e se deu bem. E, em geral, aqueles que cumprem as leis, seguem regras e ordens, são corteses e seguem regras básicas de séculos de civilização são vistos como pouco inteligente, ou nada espertos.

Levar vantagem passou a ser invejado. Exatamente como preconizava, de forma deplorável, mas real, há quase 40 anos, um comercial de cigarros. Hoje quem devolve a carteira de documentos ou devolve o troco a mais ou ainda, acha um objeto na rua que não lhe pertence e devolve, é visto como trouxa. Agradecer ou pedir por favor saíram do repertório das pessoas.

Passou-se a valorizar o que deveria ser obrigação como sendo uma virtude. Ser considerado honesto e correto passou a ser uma característica de exceção. Sem dúvida, está tão difícil ser correto ética e moralmente que, quando alguém faz o que seria obrigação de todos de modo isolado, recebe destaque até na tal de mídia. O mesmo acontece com momentos de delicadeza, em especial no tratamento de pontos de vista divergentes. O velho Brucutu, o homem das cavernas impera. Age a qualquer custo, qualquer finalidade vale tudo.

Assim vamos procurando heróis a cada dia. Alguém que possa representar um resto de ética e da dignidade, de honestidade. E porque não de polidez, de forma respeitosa no trato com as pessoas. Casos cada vez mais raros entre os políticos candidatos à Presidência ou entre aqueles que trazem visitante à nossa Casa de Leis. Devemos reconhecer valores e dedicação, entretanto, considerar exceção atos de honestidade e éticos dá uma mostra de como perdemos a noção desses valores. Atos éticos, em especial, ausentes em pessoas que usam tema de saúde pública e pessoas para finalidades de política rasa é um exemplo.

Noutros tempos honestidade era considerado parte inerente do caráter de qualquer cidadão e particularmente dos homens públicos. Hoje temos um País ou uma cidade que os procura com uma lanterna como fazia o filósofo grego Diógenes de Sínope. Talvez por isso haja tantos candidatos e tão poucos capazes de realmente conquistar corações e mentes, como dizem os americanos.

Segundo eles, para conquistar um povo é necessário ter deles o coração ou o convencimento que apaixona pela ideia ou proposta. E a mente que representa a lógica, compreender o que se busca.

Só a emoção/coração sem compreensão resulta em paixão que não dura. A mente/inteligência sem o apego a uma causa deixa os homens pragmáticos, insensíveis, frios. A união dos corações e mentes conduzem um povo ao sucesso. Resta saber quem, no nosso país e em nossa Sorocaba irá resgatar os valores básicos da sociedade em sua conduta diária, com seu exemplo e que não trate obrigação como exceção. Alguém, com até alguma fineza e cuidado, possa conquistar corações e mentes do nosso povo.