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Editorial: Faroeste caipira

10 de Agosto de 2018 às 11:40

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou ontem, em São Paulo, que o Brasil bateu em 2017 o recorde histórico de mortes violentas intencionais -- homicídios e latrocínios. Foram 63.880 vítimas, o que dá uma média trágica de 175 mortes por dia ou sete por hora. A taxa de mortes por 100 mil habitantes, um padrão internacional de aferição de violência, foi de 30,8. Em 2016 foram 61,6 mil mortes violentas, um crescimento de 2,9%. O estudo revela que 12 Estados brasileiros tiveram crescimento nesse tipo de ocorrência, sendo o Rio Grande do Norte o líder entre os mais violentos, com taxa de 68 mortes por mil habitantes, seguido pelo Acre (63,9) e Ceará (59,1). As menores taxas do País são dos Estados de São Paulo (10,7), Santa Catarina (16,5) e Distrito Federal (18,2), o que mostra que, em algumas unidades da federação, combate-se a criminalidade com mais eficiência.

Um dia antes, uma grande operação envolvendo as polícias Civil e Militar e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público Estadual prendeu no interior do Estado de São Paulo 31 pessoas ligadas a uma facção criminosa. As ações desarticularam células do bando que agiam no tráfico de drogas e assaltos nas regiões de Sorocaba, Vale do Paraíba e litoral sul do Estado. Especificamente na região de Sorocaba, dez pessoas foram detidas, como noticiou o Cruzeiro, envolvidas com assaltos, tráfico, extorsão e roubos a bancos. A estratégia dessa célula da facção era atuar em pequenas cidades da região onde dificilmente seria notada e teria mais liberdade para executar os crimes. O grupo desarticulado dominava também o tráfico de entorpecentes em Conchas, Cerquilho, Laranjal Paulista, Tietê e Cesário Lange. Além das prisões, a operação resultou na apreensão de armas, drogas, munição e cadernos com anotações sobre crimes e contabilidade do tráfico, material que será analisado na continuidade das investigações.

Mas ao mesmo tempo em que temos notícias positivas que revelam a atuação das forças de segurança no Estado de São Paulo, temos também informações conflitantes, mostrando que além do tráfico de drogas ter se tornado um problema extremamente sério na região, os ataques a caixas eletrônicos, principalmente em agências bancárias de cidades de pequeno e médio porte continuam a todo vapor. Na madrugada de quarta-feira, criminosos fortemente armados levaram terror a Ibiúna, onde atacaram três agências bancárias e uma joalheria. A ação durou pelo menos 25 minutos, tempo suficiente para dispararem centenas de tiros para atemorizar a população e explodir os caixas eletrônicos, praticamente destruindo os prédios das agências. Os criminosos se espalharam em pontos estratégicos da cidade para cercar os locais dos ataques. Na fuga espalharam os chamados "miguelitos", pregos retorcidos que furam pneus, para dificultar sua perseguição.

Ontem, usando os mesmos métodos e aproximadamente no mesmo horário, bandidos explodiram caixas automáticos de uma agência bancária de Conchas, também na região de Sorocaba. Foram seis explosões, mas aparentemente não conseguiram levar o dinheiro. Essa é a quarta vez que a mesma agência é alvo de criminosos nos últimos três anos: foram dois ataques em 2016 e um em dezembro do ano passado.

Esse tipo de roubo está cada vez mais comum na nossa região, a ponto de várias cidades perderem suas poucas agências bancárias e caixas eletrônicos devido à ação dos bandidos. Nesses dois ataques mais recentes, felizmente não houve confronto com a polícia, mesmo porque, muitas vezes o contingente policial nesses municípios é menor que o dos bandidos, e com armamento inferior. Ações com esse tipo de organização e poder de fogo não são realizadas por grupos isolados, mas por quadrilhas bem organizadas. E esses grupos precisam ser enfrentados o quanto antes. Pesquisadores que estudam o tema sugerem que é necessário criar uma grande força-tarefa para mobilizar o país no combate ao crime organizado, com forte investimento em inteligência policial e respaldo jurídico, uma espécie de Lava Jato das facções, que crescem e se espalham muito rapidamente. Antes que seja tarde demais.