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Atraso perverso

20 de Junho de 2019 às 00:01

Esta semana os sorocabanos foram surpreendidos pela divulgação da extinção do terceiro turno de trabalho das fábricas da Toyota de Sorocaba e Porto Feliz, criado no final do ano passado, tendo como base a previsão do crescimento do mercado interno e de exportação. A crise argentina afetou a projeção das exportações e o crescimento modesto do mercado interno, somado à insegurança cambial levou a empresa a tomar uma decisão quase inédita nos 60 anos do Brasil: demitir 740 funcionários da fábrica de Sorocaba e 100 da de Porto Feliz, onde são produzidos motores. Uma demissão em massa dessas proporções, além do problema social que acarreta, traz prejuízos imensos para a empresa, tanto no campo financeiro como na sua imagem perante o País. São quase mil trabalhadores qualificados e treinados que irão se juntar aos mais de 13 milhões de desempregados no País, a maioria sem trabalho há mais de dois anos. E evidentemente afetará também a cadeia produtiva, gerando um círculo vicioso de demissões.

No mês de fevereiro, outra notícia semelhante também afetou Sorocaba, mais diretamente os fabricantes de componentes instalados na região. Trata-se da decisão da Ford do Brasil de fechar sua tradicional fábrica de São Bernardo do Campo, interrompendo a fabricação de caminhões no Brasil e de um modelo de automóvel que era produzido naquela planta. A decisão atendeu pressão dos acionistas da empresa que não queriam mais arcar com prejuízos com aquela fábrica e certamente não viam no horizonte próximo uma recuperação dos negócios nessa área. O resultado foi a demissão de quase 3 mil trabalhadores diretos e reflexos em toda cadeia produtiva de caminhões, afetando várias empresas de Sorocaba.

A atividade econômica no Brasil está bem longe do que se projetava no início do ano, quando tomou posse um novo governo e houve uma renovação considerável no Congresso, tanto na Câmara Federal como no Senado. Passados seis meses, o que se vê são idas e vindas dos parlamentares e do próprio governo para implementar as esperadas reformas, ponto de partida para uma recuperação, mesmo que em ritmo lento, da economia brasileira. As últimas eleições foram marcadas por um desejo de mudança, de realização das reformas, sobretudo da Previdência e tributária, mas não é o que está acontecendo. A reforma da Previdência foi bastante alterada pelo Legislativo, temeroso em contrariar certos setores da sociedade, principalmente o funcionalismo público, e mesmo assim não avança com a velocidade necessária. Estados e municípios, muitos com suas contas em situação desesperadora, foram retirados da reforma, e mesmo assim ela patina.

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O resultado é que pesquisas recentes apontam para uma situação de estagnação e pessimismo que se reflete em vários setores da economia. A expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019, que começou o ano em torno de 3%, um índice modesto, hoje já caiu abaixo de 1%. As últimas pesquisas mostram que não deverá ultrapassar 0,93% ao chegar ao final do ano, um crescimento pífio. Essa queda já reflete inclusive nas previsões do mercado financeiro para 2020, que alterou sua previsão de expansão do PIB de 2,23% para 2,20%. Há algumas semanas a previsão era de 2,50%. Ou seja, a previsão de crescimento do PIB para o primeiro ano do novo governo já é inferior ao crescimento dos dois anos da administração de Michel Temer.

O mesmo está ocorrendo com a projeção do crescimento da produção industrial. O Relatório de Mercado Focus, bem-conceituado no mercado financeiro, aponta um crescimento de 0,65% para 2019, um índice que era de 1,45% há pouco mais de um mês. O crescimento modesto afeta também o resultado de 2020 nesse setor. A inflação, felizmente, está sob controle e deverá fechar o ano abaixo do centro da meta, que é de 4,25%.

Toda essa situação cria insegurança entre os investidores. Os dois exemplos relacionados à indústria automobilística são apenas uma amostra de como ocorrem as reações dos setores produtivos diante da atual situação.

A morosidade com que as reformas estão caminhando leva ao descrédito o Legislativo e já começa a se voltar também contra o governo federal, que não tem se concentrado na apresentação de soluções viáveis para o crescimento econômico. É por isso que parlamentares e autoridades precisam ter como foco a situação econômica e a consequente geração de empregos, deixando de lado interesses regionais ou pessoais. É preciso uma postura mais firme dos agentes políticos, pois a pior das projeções, aquela que é necessário evitar a qualquer custo, é a da queda da esperança da população.