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Acima da média

20 de Agosto de 2019 às 00:01

Levantamento realizado pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) divulgado há alguns dias revela que o Produto Interno Bruto (PIB) da Região Administrativa de Sorocaba (RA), formada por 47 municípios, cresceu acima da média do restante do Estado de São Paulo no período de 2002 a 2018, inclusive da Região Administrativa de Campinas, que abriga um dos polos industriais mais dinâmicos do País.

A RA de Sorocaba, de acordo com o órgão vinculado do governo estadual, cresceu em média 3,4% ao ano, enquanto que a RA de Campinas registrou crescimento de 2,9%. A Região Metropolitana de São Paulo, que é responsável por 54,3% do PIB paulista, registrou um crescimento médio anual de 1,8% no período, enquanto que o PIB paulista como um todo cresceu 2,3% ao ano.

Esses dados traduzem em números um fenômeno que especialistas analisam há quase duas décadas, que é o da desarticulação do parque industrial da Capital e da região do ABC, beneficiando primeiramente as regiões de Campinas e, em seguida, a de Sorocaba, ambas relacionadas ao processo de expansão industrial e que cresceram em ritmo mais acelerado.

Alguns fatores explicam esse crescimento desigual em um mesmo Estado da federação. A industrialização de São Paulo teve forte impulso no início do século passado e abrangia inicialmente a Capital e algumas cidades em seu entorno, além de alguns pontos isolados no Estado, como Sorocaba, por conta da presença da indústria têxtil. A partir dos anos 1950, essa industrialização se espalha para as cidades do ABC -- quando surge a indústria automobilística e de autopeças -- e pelo corredor formado pela rodovia Presidente Dutra, que ligava os dois maiores centros consumidores do País, São Paulo e Rio de Janeiro. A concentração de indústrias nesse corredor transformou a Dutra, em seu trecho paulista, praticamente em uma avenida com indústrias dos dois lados da rodovia. Na sequência, o polo de desenvolvimento se deslocou para a região de Campinas e o eixo formado pelas rodovias Anhanguera e dos Trabalhadores, onde novamente ocorreu uma grande concentração de empresas, em detrimento do parque industrial de São Paulo e ABC. Mais recentemente, as novas indústrias passaram a se instalar na região de Sorocaba, acompanhando o eixo das rodovias Castelo Branco e Raposo Tavares, dando prosseguimento ao esvaziamento gradativo da Capital e ABC. As mudanças ocorrem porque as indústrias precisam de áreas para expansão, terrenos mais amplos, muitas vezes doados por prefeituras. Buscam ainda isenção de alguns impostos, rodovias de primeira linha que facilitem o escoamento da produção, mais segurança, acesso fácil a portos e aeroportos e mão de obra mais barata. Dessa maneira, as regiões de Campinas e Sorocaba deslancharam no período que vai de 2002 a 2008, que teve como característica o aumento do consumo interno, expansão de investimentos e explosão dos preços das commodities no mercado internacional.

O estudo da Fundação Seade mostra que de 2009 a 2013, a desaceleração da economia influenciou negativamente quase todas as regiões paulistas, menos as de Sorocaba e Campinas, que conseguiram ainda taxas altas de crescimento. Em 2014 começou a crise econômica profunda, que se prolongou até 2016 impactando de maneira geral todo o parque industrial paulista. Somente a partir de 2017 é registrada alguma reação com lenta recuperação, com destaques para as regiões de Sorocaba e São José dos Campos. Hoje as pesquisas mostram que a recuperação é lenta. Dados divulgados ontem pela Fundação Seade, com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, mostram que no segundo trimestre deste ano foram gerados mais de 74 mil empregos no Estado de São Paulo. Nesse período, a RA de Sorocaba criou 5.513 vagas. São números tímidos e insuficientes diante do grande desemprego que ainda existe na região, mas mostram que a região de Sorocaba tem potencial para recuperar os empregos perdidos. O interior do Estado de São Paulo é o maior mercado consumidor do País e é preciso que as prefeituras da região aproveitem o período positivo que deve surgir nos próximos meses e planejem seu crescimento para evitar problemas que afetaram regiões pioneiras. É preciso aprender com erros e equívocos do passado que levaram outras regiões a situações críticas.