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A boa surpresa

30 de Junho de 2019 às 00:01

Uma semana que começou com notícias preocupantes sobre projeções de crescimento divulgadas pelo Banco Central e pesquisas oficiais indicando aumento pífio de empregos formais, terminou surpreendente bem com o acordo comercial firmado entre o Mercosul e a União Europeia. Representantes do governo brasileiro tiveram papel importante nas negociações em Bruxelas e mantiveram contato direto com o presidente Jair Bolsonaro que se encontrava no Japão para a cúpula do G20, com sete fusos horários de diferença.

Esse acordo comercial começou a ser planejado em 1995 e previa que a integração dos dois blocos comerciais se concretizaria em 2005. Chegou com 14 anos de atraso em um momento que o Brasil precisa urgentemente acelerar seu crescimento e gerar empregos e renda. Na última sexta-feira, Mercosul e União Europeia concluíram o processo de negociação e celebraram o tratado de livre-comércio. Os dois blocos somam um mercado de 750 milhões de pessoas e que têm um PIB de 19 trilhões de dólares.

Sem exageros, esse é um dos acordos comerciais economicamente mais importantes já assinados pelo Brasil por permitir o aumento do acesso das exportações brasileiras ao mercado europeu e com isso, estimular fortemente a economia. De modo geral, a abertura permitirá a aceleração de reformas estruturais para melhorar a competitividade dos países que integram o bloco sul-americano.

O presidente Jair Bolsonaro usou o twitter para comemorar o acordo. Segundo ele, “esse será um dos acordos comerciais mais importantes de todos os tempos e trará benefícios enormes para nossa economia”, digitou na rede social. O presidente brasileiro lembrou que os países que formam a UE e o Mercosul, juntos, representam 1/4 da economia mundial, um enorme mercado aberto aos produtores brasileiros.

O acordo vai beneficiar a agricultura, a indústria e o setor de serviços do Brasil. As negociações, bastante complexas, fizeram com que os representantes brasileiros concordassem com cláusulas relativas à preservação ambiental, como a participação do Acordo de Paris, e proteção a direitos trabalhistas, exigências dos países europeus. Segundo fontes oficiais do Brasil, antes do acordo, somente 24% das exportações brasileiras entravam na UE livres de tributos. As tarifas para produtos industriais brasileiros serão 100% eliminadas, assim como para produtos agrícolas como frutas, café solúvel, suco de laranja, peixes, crustáceos e óleos vegetais. O acordo não detalha as cotas acordadas para carnes bovina, suína e de aves, açúcar, etanol, arroz, ovos e mel. O acordo pode agregar perto de 10 bilhões de dólares às exportações do Brasil para a UE, de acordo com cálculos da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O aumento das exportações da agroindústria terá reflexos positivos também em outros setores, uma vez que a cada R$ 1 bilhão exportado pelo agronegócio são consumidos aproximadamente US$ 300 milhões em bens industrializados no País em setores como aço, máquinas e equipamentos e produtos químicos. A CNI salienta ainda que o acordo reduz a zero as tarifas de importação, que hoje oneram os bens industriais que o Brasil exporta para o bloco. Hoje, 56% das vendas para a EU são de bens industriais.

Em dez anos, mais de 90% das exportações do Mercosul terão tarifas zeradas, mas o acordo não promoverá uma abertura abrupta do mercado e haverá tempo para que o Brasil e os demais países, que compõem o grupo, planejem e adotem medidas concretas para aproveitar as novas oportunidades. O Ministério da Economia, que desde o início do governo está às voltas com o déficit das contas públicas estima que, em 15 anos, as exportações brasileiras para o novo grupo parceiro crescerão perto de US$ 100 bilhões, ao mesmo tempo em que os investimentos no País no mesmo período ultrapassem US$ 110 bilhões.

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O texto final, com todos os seus detalhes, só será divulgado dentro de alguns dias e resta ainda um longo caminho para ele entrar em vigência. O acordo comercial só entrará em vigor após provação no parlamento da União Europeia e no Congresso de cada um dos países do Mercosul. Algumas cláusulas só entrarão em vigor após o aval da cada um dos Congressos dos 28 países que compõem a UE. De toda maneira, é inegável o avanço e o incentivo que o acordo comercial propiciará a diversos setores da economia. A abertura comercial, mesmo que gradual, incentivará o aprimoramento dos nossos métodos de produção. Talvez seja esse, junto com as reformas propostas pelo governo, o incentivo que faltava para a recuperação mais rápida da economia, uma aspiração de todos os brasileiros.