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É hora de união

09 de Maio de 2020 às 00:01

O governo do presidente Bolsonaro, ao tomar posse em janeiro do ano passado mostrou, desde o começo, justificada preocupação em fazer deslanchar a economia, aumentar o mercado de trabalho e deixar para trás problemas dos governos anteriores que haviam jogado o País em uma piores crises econômicas que se tem notícia. Para combater essa situação o presidente levou para o Ministério da Economia Paulo Guedes, que tem um reconhecido perfil liberal na área econômica e que montou uma equipe afinada com as reformas que, num ritmo mais lento que o esperado, começaram a ser introduzidas no País. Mesmo com velocidade reduzida, a atividade econômica estava crescendo, o desemprego caindo aos poucos, até que desembarcou no Brasil o novo coronavírus. Sem vacina para a Covid-19 e ainda sem tratamentos eficazes para os doentes, o único caminho encontrado por todos os países foi a adoção da política do distanciamento social, com períodos rigorosos de quarentena que se por um lado ajudam a diminuir a velocidade de propagação da epidemia, também podem levar a economia do País para a UTI.

A pressão dos setores produtivos sobre o governo federal é muito forte. Mesmo reconhecendo a gravidade do momento, alguns setores apelam diretamente ao presidente para a abertura gradativa da atividade econômica. Na última quinta-feira, possivelmente sentindo-se incomodado com as solicitações, o presidente resolveu fazer uma visita surpresa ao Supremo Tribunal Federal e atravessou a pé a praça dos Três Poderes acompanhado por alguns ministros e por empresários representantes de vários setores da economia. Na Corte, apelou para o ministro Dias Toffoli pela reabertura do comércio. Foi um gesto com grande simbolismo que mostra a situação em que chegamos.

Outra iniciativa, com mais conteúdo, foi a apresentação, no final do mês de abril, do plano Pró-Brasil, um projeto para alavancar o crescimento no período pós-economia. O plano consiste em um grande pacote de obras, a maioria a ser realizada com parcerias público-privadas e uma parte com recursos públicos. Para muitos observadores essa foi uma grande guinada na política econômica do governo, tanto que a apresentação do plano ficou a cargo do ministro-chefe da Casa Civil, Braga Netto, e não contou com a participação do ministro da Economia. Inicialmente o plano tem um orçamento de R$ 250 bilhões com parcerias com a iniciativa privada e R$ 30 bilhões vindos do Tesouro Nacional. As obras deverão ser direcionadas, em sua maioria, para melhorar a infraestrutura do País. É evidente que essa aparente mudança de rumo na orientação econômica cria atritos dentro do governo. Ao ser escolhido para comandar a economia no governo, Paulo Guedes, chamado de Posto Ipiranga, recebeu um superministério, resultado da fusão das antigas pastas da Fazenda, Indústria, Comércio e Serviços, Desenvolvimento e Gestão, Planejamento e Trabalho. Com essa imagem de comandante da economia, a sua ausência na apresentação do plano foi considerada, no mínimo, estranha e deu chance para uma série de especulações sobre sua permanência no governo, o que não ajuda em nada o País que passa por momentos difíceis e busca um caminho para quando a pandemia acabar.

Quem fez uma análise ponderada sobre a situação foi o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, que é reconhecido pela eficiência com que conduz os projetos de sua Pasta. Nesta semana, ele defendeu uma espécie de “trégua” e “paz política” para que o governo possa dar passos firmes na superação dessa imensa crise. Ele fez esses comentários em um momento que analisava o plano Pró-Brasil e sua missão de promover a retomada da economia após a pandemia em um debate promovido pelo Tribunal de Contas da União. Na opinião do ministro, o governo precisa agir rápido para, assim que o pico da doença passar em todo o mundo, tenha capacidade de atrair investidores para leilões de concessões e privatizações. Sem essa agilidade e ambiente político saudável será difícil atrair investidores que, com recursos represados, poderão escolher outros destinos. Ele acredita que o plano pode funcionar como um pacto pela infraestrutura e unir o Congresso, o Judiciário e o Executivo. Para isso ele defende a paz para poder trabalhar e paz política para caminhar em direção à superação da crise e geração de empregos. Tem razão. O País precisa de uma união dos Poderes para a retomada do crescimento. Um ambiente tóxico na área política, com desavenças internas por conta de orientações econômicas não ajudarão em nada o Brasil a sair da crise.