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E a Cidade Educadora foi vencida

02 de Setembro de 2018 às 13:56

Para uma organização como o jornal Cruzeiro do Sul, que através de sua mantenedora, a Fundação Ubaldino do Amaral (FUA), tem acreditado na Educação como crescimento do indivíduo, como a única maneira de melhoria de nossa sociedade e País, as notícias da semana não foram as melhores: Sorocaba, que orgulhosamente ostentava o título, dada a si própria e reconhecida pelo Brasil como Cidade Educadora, perdeu seu título. Perdeu-se.

Para quem tem muitos anos de (boa) vida em Sorocaba deve lembrar-se de que entre os diversos títulos e definições que se dava, nas escolas, à Manchester Paulista, além de Cidade das Indústrias, estava também a de Cidade das Escolas.

E agora poderá ter um novo título, a de Cidade que Desistiu das Escolas.

No início da semana o governo municipal resolveu trocar o Saber, o Conhecimento, pelo Policiamento, pela aparente Segurança. Sinal de nossos tempos?

Enquanto isso, e talvez isso seja mais significativo que aparenta nossa triste realidade, as escolas públicas de Sorocaba apresentam números de desempenho nada animadores, conforme o leitor poderá ver na página... que reproduzimos parte aqui: “os alunos das disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática da rede municipal e estadual de ensino de Sorocaba melhoraram os índices da cidade nas médias do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), mas continuam com números abaixo de alguns municípios da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS). As escolas municipais e estaduais da cidade não conseguiram emplacar no topo na maior parte dos índices nos 27 municípios da região. Conforme o ranking, a cidade ocupou a 9ª posição na RMS na média obtida pelo 5º ano escolar em Língua Portuguesa. Com índice de 231,89, Sorocaba ficou atrás de Cerquilho, Jumirim, Boituva, Alambari, Tapiraí, Salto de Pirapora, Piedade e Pilar do Sul. A situação piora e a cidade fica na 10ª posição quando o quadro comparado é a média do 5º ano escolar em Matemática. Nesse caso, ficando atrás de Cerquilho, Jumirim, Boituva, Tapiraí, Alambari, Pilar do Sul, Salto, Piedade e Salto de Pirapora. A média de Sorocaba foi de 241,91. Para se ter ideia, é mais de 20 pontos menor que a de Cerquilho, que obteve média 264,35. Já no 9º ano, a situação é um pouco melhor. Sorocaba fica na 4ª colocação com média 272,52 em Língua Portuguesa. Lidera o ranking na RMS a cidade de Salto, com média 284,83. Na sequência, aparece Cerquilho e Salto de Pirapora. Já na média do 9º ano para Matemática, a cidade também ocupou a 4ª posição, com média de 274,79, ficando atrás de Salto de Pirapora, Salto e Cerquilho.”

Isso acontece ao mesmo tempo que as Torres do Sabe Tudo, abandonadas e agora entregues à Guarda Municipal, concretizam o abandono ao conhecimento, à educação. As torres do Sabe Tudo são -- ou eram -- espaços de aproximadamente 200 m2, construídas em escolas públicas, que tinha computadores, acesso à internet em banda larga, acervo de livros, revistas e jornais diários. O Sabe Tudo começou voltado ao acesso à Cultura e se transformou rapidamente num programa de acesso à internet e à inclusão digital utilizando a internet como ferramenta de pesquisa.

Ok, o smartphone venceu. Hoje todos têm um celular e conseguem acesso a qualquer coisa, por conta própria e não precisam de um centro de tecnologia. Ou precisam? Ou podem, com a inclusão digital preparar-se ainda mais para o mundo profissional que quer, cada vez mais, pessoas jovens com habilidade da web, de tecnologia da informação, de jogos educativos e todo um novo universo que desponta? Quem sabe até poderiam desenvolver um app para estacionamento em Zona Azul, assunto que Sorocaba continua atrasada? Hoje, o sorocabano pega seu automóvel e estaciona em São Paulo com app. Vamos ficar no atraso gerencial mesmo.

Porém o grande quadro que fica é a real, dura mensagem: trocamos o saber pela polícia para evitar que aqueles que deveríamos ter educado não nos ameacem. Trocamos alunos por deliquentes com solução, não no professor, mas no repressor que, aliás, está se expondo a um perigo maior, em pequenas duplas de patrulha, sem ter o aparato necessário para sua segurança.

Um filme famoso dirigido por François Truffaut em 1966, a partir do livro de Ray Bradbury, Fahrenheit 451, fala de uma distopia, uma sociedade que queimava livros com a força de bombeiros-policiais -- daí o nome do filme, o grau de queima do papel -- para destruir conhecimento.

Em Sorocaba, os espaços vazios de conhecimento não são substituídos por novos saberes. Uma triste, triste mesmo, fotografia de nossos dias na Cidade Educadora. E no que pode resultar isso? Como disse um dos criadores de conteúdo dos Sabe Tudo, “pararam de filtrar água para enxugar gelo”.