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Duas décadas de atraso

31 de Janeiro de 2020 às 00:01

O governo do Estado de São Paulo tem uma dívida com a região de Sorocaba e os municípios que ficam na região Sudoeste que utilizam a rodovia Raposo Tavares, a SP-270. Entra governo e sai governo e a duplicação da rodovia, uma reivindicação de décadas, não é concluída.

É incompreensível a demora na duplicação de uma rodovia que liga municípios importantes do que já foi a principal ligação entra a capital paulista e a região sul do País. As obras começaram em vários trechos no final do século passado e foram sendo entregues homeopaticamente.

A rodovia que recebe cada vez mais veículos e corta municípios populosos ainda tem trechos de pista simples, alguns perigosíssimos, como o existente entre os quilômetros 67 e 89, na região de Sorocaba, onde os acidentes são constantes e estão matando muita gente.

Foi nesse trecho que morreu, vítima de um acidente automobilístico, o ex-prefeito de Sorocaba José Theodoro Mendes, no dia 24 deste mês. No mesmo dia, no período da manhã, no km 73 morreu um jovem, também em consequência de uma colisão.

Os trechos não duplicados no percurso de São Paulo a Sorocaba estão entre os quilômetros 46 e 63, entre os municípios de Vargem Grande Paulista e São Roque e do km 67 ao 89, entre Mairinque e Sorocaba. Os problemas e acidentes, entretanto, não ocorrem somente nos trechos não duplicados.

Esta semana, ao ser consultada pela reportagem do Cruzeiro do Sul sobre a duplicação ainda não realizada, a Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) informou que o processo de duplicação no trecho que vai do km 67 ao 89 deverá começar no ano que vem. Segundo a agência os trabalhos deverão começar no primeiro semestre de 2021.

Ao mesmo tempo, a CCR ViaOeste, empresa concessionária da rodovia, informa que a duplicação está confirmada nos trechos que ainda têm pista simples, mas não tem cronograma para o trabalho. A concessionária argumenta que está trabalhando para obter licenças ambientais, que são emitidas pela Cetesb.

Informa ainda que os projetos funcionais e executivos devem ser aprovados pela Artesp. Somente após vencer essas etapas é que poderá montar um cronograma de trabalho com a data do início das obras e com todos os dispositivos que serão desenvolvidos.

Ou seja, a concessionária diz uma coisa e a Artesp informa outra. É quase impossível acreditar que a CCR ViaOeste ainda esteja aguardando licenças ambientais ou que não tenha concluído projetos funcionais e executivos, pois a duplicação da Raposo Tavares foi anunciada em 1997.

Na edição do dia 17 de abril daquele ano, ou seja, há quase 23 anos, a Folha de S. Paulo noticiou que o Estado anunciaria naquela semana a concessão do bloco composto pelas rodovias Castelo Branco e Raposo Tavares e a empresa privada que vencesse a concorrência para a concessão das rodovias -- no caso a CCR ViaOeste -- iniciaria em outubro daquele ano a construção das avenidas marginais da Castelo Branco entre Barueri e São Paulo e a duplicação da Raposo Tavares, em troca da exploração dos pedágios dessas rodovias.

De acordo com o edital, a empresa teria dois anos para concluir as marginais da Castelo e quatro anos para fazer a duplicação da Raposo Tavares entre São Roque e Araçoiaba da Serra. O trecho entre Cotia e São Roque ficaria sob a responsabilidade do Departamento de Estradas de Rodagem (DER).

Como se vê, a obra foi anunciada há 23 anos quando houve o processo de concessão das duas rodovias e desde então a concessionária explora as praças de pedágio que já existiam e as que foram implantadas em seguida, algumas na Raposo Tavares, muito antes da duplicação.

A duplicação da Raposo Tavares, de acordo com esse edital, pelo menos no trecho entre São Roque e Araçoiaba da Serra, deveria estar concluída em 2001, quase duas décadas atrás. Os trechos duplicados, muitas vezes de alguns poucos quilômetros, foram sendo entregues aos poucos, normalmente em períodos pré-eleitorais.

Mas não é só a falta de duplicação em longos trechos que deixam aquela rodovia perigosa. Ela apresenta problemas sérios no trecho que corta a área urbana de Sorocaba, onde já foi feita a duplicação e existem avenidas marginais, o que mostra que praticamente toda a rodovia precisa passar por um processo de revisão.

Precisam ser estudados dispositivos de segurança, principalmente retornos e acessos eficientes e seguros em toda a sua extensão. É o mínimo que se pode fazer para tentar diminuir o número de acidentes e mortes.