Buscar no Cruzeiro

Buscar

Driblando a crise

02 de Setembro de 2020 às 00:01

Nas próximas décadas, por suas características particularíssimas, o período atual será objeto de grande número de estudos na área da economia.

A pandemia do novo coronavírus, uma catástrofe de dimensões mundiais que não estava no horizonte de nenhum especialista em planejamento, afetou a economia de praticamente todos os países, alguns mais, outros menos.

O maior problema, evidentemente, foi a paralisação repentina da atividade econômica, com as políticas de isolamento social, única forma de enfrentar a disseminação do vírus, uma vez que não temos remédios eficazes, nem vacinas à disposição.

No Brasil o isolamento social também afetou muito fortemente a economia.

O IBGE divulgou nesta terça-feira a queda de 9,7% do PIB no segundo trimestre deste ano, resultado direto da pandemia.

Um levantamento do próprio IBGE mostra que na primeira quinzena de junho, quando a quarentena estava severa em praticamente todo o País, foi registrado o fechamento de 522 mil empresas no País, quase 40% dos 1,3 milhão de estabelecimentos que estavam fechados temporariamente naquele período.

Dessas empresas fechadas, segundo o levantamento, 99,2% eram de pequeno porte, isto é, que tinham até 49 empregados.

A metade eram de empresas do setor de serviços e 36% do setor comercial.

Sem falar nos milhões de trabalhadores informais das mais variadas áreas que, de um dia para outro, ficaram sem rendimentos e precisaram recorrer ao auxílio do governo federal.

Todos conhecemos algum pequeno empresário afetado pela pandemia.

É o dono da lanchonete, da cantina da escola, do pequeno restaurante, ou da pequena empresa de transporte escolar que não resistiu a um período de fechamento tão longo.

A maioria da população se trancou em casa por vários meses, mudou hábitos de consumo e forçou muitos empresários a reverem seus negócios.

É o que mostrou a reportagem publicada por este jornal no último domingo (Empreendedores apostam em novos caminhos para driblar efeitos da crise, 30/8/2020, pág. 5) de autoria do repórter Erick Rodrigues.

Pois foi nesse cenário adverso para os negócios tradicionais que muitos empreendedores resolveram ousar e encontraram nos tempos difíceis estímulo para explorar novos nichos comerciais.

Solução engenhosa encontrou o proprietário de academia de ginástica que, diante da impossibilidade de colocar seu negócio em funcionamento diante das restrições direcionadas ao setor, resolveu alugar os equipamentos de ginástica para que os interessados pudessem fazer os exercícios em casa.

O setor de academias foi um dos mais afetados pela quarentena.

São locais fechados e propensos à aglomeração de pessoas.

Os empresários desse setor que não buscaram alternativas tiveram que amargar vários meses de inatividade.

Além de salvar o proprietário do aperto, a nova modalidade pode ter criado um tipo de negócio, pois ele não afasta a ideia de continuar alugando equipamentos no futuro.

Outro exemplo notável de criatividade é o do rapaz que trabalhava com transporte escolar e, de uma hora para outra, viu sua atividade ser seriamente afetada pela pandemia, pois as aulas presenciais foram paralisadas em todos os níveis.

Aproveitando sua experiência como padeiro na juventude, o rapaz resolveu transformar sua van em uma padaria móvel e passou a vender e fazer entregas em condomínios.

Com divulgação nas redes sociais, ele produz a maioria dos pães e ainda faz vendas de porta em porta em alguns bairros.

A alternativa deu resultados e ele já pensa em continuar no ramo mesmo quando acabar a pandemia e voltarem as aulas presenciais.

Também foi engenhosa a solução de negócio encontrada pela dupla de empresários do ramo de automação dirigida ao setor de autopeças que com a pandemia resolveu investir em um mecanismo criado para controlar a entrada de pessoas em ambientes, evitando assim aglomerações, como prevê o plano de distanciamento social do governo.

Eles perceberam que a maioria dos locais fazia a contagem da entrada de pessoas manualmente ou não tinha mão de obra especializada para operar equipamentos mais sofisticados.

Foi desenvolvido então um limitador eletrônico de aglomeração, um equipamento que mostra o número de pessoas em determinado ambiente e ainda controla o fluxo de entrada e saída.

Trata-se de um produto que será útil, mesmo depois da pandemia.

Pois poderá ser usado para controle de pessoas em vários tipos de ambientes.

Essas improvisações e esses novos desafios mostram que situações de crise podem estimular soluções inusitadas e criativas.

Muitas das pessoas que desenvolveram novos negócios, novas tecnologias neste período difícil certamente vão prosseguir com essas iniciativas, mas é importante manter o espírito inovador nos negócios, uma maneira de oxigenar com ideias novas os empreendimentos.