A pandemia do novo coronavírus que ainda está infectando muitos brasileiros, provocou sérios problemas na área da saúde. Além dos milhões de contaminados que levaram as autoridades sanitárias a criar programas específicos de atendimento para a Covid-19, inclusive a criação de hospitais de campanha -- a maioria já desativada -- causou também problemas paralelos, como represamento de consultas e exames. Muitos pacientes, com temor de contaminação pelo vírus, interromperam tratamentos, deixaram de comparecer a consultas e a procedimentos agendados. Esse afastamento do ambiente médico-hospitalar afetou também outro setor essencial para a saúde da população - a doação de sangue nos hemocentros espalhados por todo o País. O Dia Nacional do Doador de Sangue foi celebrado ontem, o que leva a uma reflexão sobre a importância desse gesto humanitário.

De acordo com informações da Coordenação-Geral de Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde, foi registrada uma queda em torno de 20% nos estoques de hemocomponentes em outubro, na comparação com o mesmo mês do ano passado. A situação chegou a um ponto preocupante e o Ministério da Saúde informou que, diante do risco de desabastecimento durante a pandemia, foi acionado o Plano Nacional de Contingência para Grandes Eventos, o que possibilitou a mobilização de hemocomponentes em todo o território brasileiro, transferindo para os Estados mais afetados o material necessário, garantindo assim o tratamento daqueles que precisavam de transfusão.

No Estado de São Paulo, a Fundação Pró-Sangue está com estoque muito baixo, um quadro que pode comprometer cirurgias eletivas de médio e grande portes. Segundo os coordenadores da entidade, os doadores não têm se apresentado nos hemonúcleos, uma situação que se repete em praticamente todos os Estados. Até a semana passada, a entidade contava com apenas 30% das bolsas para suprir a necessidade de mais de 100 instituições de saúde localizadas na Região Metropolitana de São Paulo. No último dia 12, por exemplo, alguns tipos sanguíneos como O+, O-, B+, B- e A- chegou-se a uma posição de emergência, ou seja, tinham estoques suficientes para menos de um dia. A situação é considerada a mais crítica desde a fundação da Pró-sangue, em 1984, e isso se deve pelo longo período em que a pandemia tem afetado as doações.

A situação crítica leva a entidade a se movimentar para recuperar o estoque no período mais curto possível. Precisa de todos os tipos de sangue, mas o que mais é necessário, no momento, segundo os técnicos da entidade, é o tipo O, porque a maior parte da população tem esse tipo de sangue.

Em Sorocaba, para incentivar a doação de sangue durante este período, o hemonúcleo intensificou campanhas para convocar doadores. A direção da Colsan de Sorocaba informou recentemente que o afastamento de doadores provocado pela pandemia provocou uma redução nos estoques de sangue entre 30% e 40% no mês de outubro. Essa situação deixa a entidade vulnerável, pois é preciso manter um número constante e estável de doações para atender todos os pacientes atendidos nos hospitais da região, com patologias diversas. O hemonúcleo tem capacidade para receber até 170 doadores de sangue por dia.

Essa carência geral de doadores e de sangue provocou a realização de várias campanhas de mobilização. Uma delas reúne as 20 concessionárias que integram o programa de concessões de rodovias da Agência de Transporte do Estado de São Paulo, a Artesp. A campanha consiste na instalação de mais de 390 painéis eletrônicos distribuídos nas rodovias do estado com mensagens de incentivo à doação de sangue. A iniciativa também se estenderá aos funcionários das concessionárias. Em Sorocaba foi criado um aplicativo, o Sangue Amigo, que promove entre cooperados de um plano de saúde uma campanha de incentivo à doação de sangue.

Para ser doador de sangue é necessário ter entre 16 e 69 anos, estar com a saúde em dia, ter, no mínimo 50 kg de peso e apresentar documento de identidade oficial. O doador não pode ingerir bebida alcoólica, no mínimo, 12 horas antes da doação, estar bem alimentado e com o sono em dia. Os hemocentros adotam medidas de segurança para evitar qualquer tipo de contaminação. Uma única bolsa de sangue pode salvar até quatro vidas.