Desastre ambiental
O que há algumas semanas parecia ser reflexo de um acidente corriqueiro na costa brasileira, com pequeno derramamento de petróleo de algum navio ou lavagem em local indevido de tanques de um petroleiro, está se revelando um dos maiores acidentes ambientais da década nas praias brasileiras.
As manchas de petróleo cru que começaram a chegar a pontos isolados do litoral no início do mês passado, hoje chegam em grande quantidade a praticamente todo litoral nordestino, da Bahia ao Maranhão, prejudicando toda a fauna e a flora da região, sem que se saiba a origem desse óleo cru.
Segundo informações da Marinha do Brasil, responsável pelas investigações sobre a origem do óleo que atinge as praias do Nordeste, cinco navios e uma aeronave estão patrulhando a região em busca das causas e início do vazamento. Também ajudam no trabalho mais de 1.500 pessoas com embarcações e viaturas das Capitanias dos Portos estaduais.
Os primeiros relatos de manchas de óleo foram confirmados no dia 2 de setembro, inicialmente em pontos isolados. Depois o número de praias atingidas passou a crescer rapidamente. Segundo o Ibama, 138 localidades em nove Estados já foram atingidas com um número ainda indefinido de animais mortos por conta do contato com o óleo.
De acordo com a Marinha, que abriu um inquérito para apurar o desastre ambiental, existem algumas hipóteses que estão sendo investigadas, entre elas um possível naufrágio ou derramamento acidental de petróleo. Os peritos consideram remota a possibilidade de vazamento de petróleo do subsolo ou lavagem de tanques de navios, diante do gigantesco volume de óleo recolhido nas praias atingidas.
Especialistas da Petrobras que analisam as amostras recolhidas em todo o litoral informam que se trata de óleo cru de uma mesma procedência e, aparentemente, parece ser de origem venezuelana. Por isso é importante que o desastre ecológico seja exaustivamente investigado para que não se tirem conclusões precipitadas.
Embora uma ação criminosa não possa, nesta altura dos acontecimentos, ser descartada, a prudência indica que é preciso ter certeza do que aconteceu. No momento, a Polícia Federal atua na área criminal, enquanto que o Ibama coordena o recolhimento das borras de petróleo no litoral.
Até agora já foram recolhidas 100 toneladas de resíduos com óleo nas praias atingidas. À medida que esse óleo se espalha está colocando sob ameaça tartarugas, aves e o peixe-boi marinho, o mamífero dos oceanos mais ameaçado de extinção do Brasil.
Biólogos dizem que o petróleo cru pode afetar a digestão dos animais e o desenvolvimento de algas, essencial na cadeia alimentar dessas espécies, além de riscos para a saúde humana, pois o produto é altamente tóxico. Há inúmeros relatos de banhistas atingidos pelas manchas de óleo nas praias, o que deverá, a curto prazo, prejudicar o turismo nessa região do País, onde as praias são os principais atrativos.
O vazamento de óleo já é considerado o maior desastre ambiental registrado no litoral do Nordeste brasileiro. Pelo menos 16 tartarugas marinhas, espécie ameaçada de extinção, foram contaminadas pela substância e só dois animais seguem com vida. Por conta disso, o Projeto Tamar, em Sergipe, deixou de lançar 800 tartarugas no oceano.
O derramamento de petróleo, pelo seu potencial de danos faz lembrar o naufrágio, em 24 de março de 1989, da embarcação Exxon Valdez, no Estreito de Prince William, que causou o derramamento de 40 milhões de litros de petróleo cru que se espalhou pelo oceano e atingiu 2 mil quilômetros da costa do Alasca.
O acidente causou uma verdadeira destruição na fauna local, com a morte de centenas de milhares de aves marinhas, focas e lontras, entre outros animais. Os esforços para a limpeza das praias duraram mais de três anos, com a mobilização de 11 mil pessoas, mas tanto as consequências ambientais como a batalha jurídica que o acidente causou perduram até hoje.
Além de prudência nas investigações até que o assunto seja esclarecido e não dar motivos para crises com países vizinhos, é importante começar um trabalho de esclarecimento para quem vive no litoral sobre os perigos do óleo para o ser humano. E os danos ambientais precisam ser dimensionados para que se inicie o combate aos efeitos nocivos do óleo.