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Defenestrados pelo voto

09 de Outubro de 2018 às 08:46

O primeiro turno das eleições gerais deste ano, que definiu a futura composição do Congresso e uma parte dos governos estaduais, além de mostrar que a disputa será acirrada no segundo turno entre dois representantes de campos políticos opostos, em que o PT terá que se reinventar para tentar conseguir uma virada inédita nas eleições, trouxe várias surpresas. A primeira delas é que os institutos de pesquisa passaram longe da realidade em várias abordagens. Erraram feio na eleição para governador em alguns Estados, como Rio de Janeiro e São Paulo, para citar somente dois casos e perderam a mão na pesquisa sobre a composição do Senado em várias unidades da federação.

O pleito revelou também que o marketing político tradicional agoniza e se saiu melhor quem teve mais habilidade nas mídias sociais. A campanha mostrou que um dos maiores mitos do processo eleitoral, o tempo na propaganda eleitoral na TV, não é sinônimo de eleição garantida se o candidato não estiver afinado com o que o eleitor quer ouvir. Prova disso foi o desempenho pífio do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) que costurou uma aliança com o Centrão para conseguir praticamente a metade do tempo de TV de todos os candidatos.

A eleição serviu também para defenestrar parte do Congresso. O verbo defenestrar vem da palavra latina fenestra, janela. O episódio das “Defenestrações de Praga” (início do século 17), quando nobres protestantes invadiram um castelo e arremessaram representantes do governo imperial pelas janelas, deu o novo sentido à palavra. No Senado, foram registradas baixas de lideranças importantes de vários partidos. O exemplo mais contundente é o do presidente do Senado e do Congresso Nacional, Eunício Oliveira (MDB-CE). Ele aliou-se à candidatura petista em seu Estado natal, as pesquisas indicavam como certa a reeleição, mas acabou ficando de fora. Ontem, distribuiu nota informando que, ao terminar seu mandato em janeiro de 2019, deixará a vida pública. Mas não foi só Eunício que teve seu retorno ao Senado barrado pelos eleitores. Outras lideranças também tiveram problema semelhante. É o caso, por exemplo, de Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), do senador Cristovam Buarque (PPS-DF), Edison Lobão (MDB-MA), Garibaldi Alves Filho (MDB-RN) e do ex-governador paranaense Beto Richa (PSDB). A lista vai além. Ficaram também sem mandato Romero Jucá (MDB-RR) e Magno Malta (PR-ES). Malta foi convidado, mas rejeitou, o convite feito pelo candidato Jair Bolsonaro para ser seu vice, preferindo disputar mais um mandato no Senado. Não conseguiu. O campo da esquerda também teve baixas importantes: não retornam ao Senado Jorge Viana (PT-AC); Lindbergh Farias (PT-RJ); Roberto Requião (MDB-PR) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), entre outros.

A vontade popular também barrou alguns nomes tradicionais da política que aspiravam a uma vaga no Senado, como é o caso da ex-presidente Dilma Rousseff (PT-MG) -- que durante toda a campanha apareceu nas pesquisas liderando a disputa -- e o ex-senador e atual vereador paulistano Eduardo Suplicy (PT-SP), que também aparecia bem nas pesquisas de opinião. Esta é a segunda derrota consecutiva na disputa pelo Senado. Em 2014 ele perdeu para José Serra (PSDB) e desta vez foi superado por Mara Gabrilli (PSDB) e Major Olímpio (PSL), que cresceu juntando sua imagem à de Bolsonaro.

Em Goiás, o ex-governador Marconi Perillo (PSDB) também não conseguiu se eleger. Terminou em quinto na disputa pelas duas vagas. E no clã Sarney o baque foi grande. Além do senador e ex-ministro Edson Lobão (MDB), Sarney Filho (PV) também não conseguiu vaga. Roseana Sarney perdeu a disputa para o governo do Estado. Essas derrotas encerram um ciclo de 50 anos de protagonismo do clã na política local.

Dois dos filhos de Jair Bolsonaro foram eleitos com votações expressivas. Eduardo Bolsonaro tornou-se o deputado federal mais votado da história do Brasil, com 1,8 milhão de votos e Flávio Bolsonaro conquistou a primeira vaga para o Senado pelo Rio com 4,2 milhões de votos. A influência paterna, entretanto, não ajudou outros candidatos como Marco Antônio Cabral (MDB), filho de Sérgio Cabral, Danielle Cunha (MDB), filha de Eduardo Cunha e Fernando James Collor (PTC), filho do ex-presidente Fernando Collor. Tanto esses jovens políticos como velhas raposas foram, simbolicamente, jogados pela janela.