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De quem é o buraco?

22 de Julho de 2018 às 11:46

Vivemos um momento particular da história. A comunicação entre pessoas deixou de ser uma limitação; chegar até o outro seja aqui ou acolá tornou-se um mero exercício de digitação. O mundo encolheu; a Babel de línguas pode ser trocada por emoticons, acenos, imagens de selfies, mensagens por este ou aquele meio. No entanto nossos governantes ainda pecam em coisas simples.

No dia a dia de cada cidadão, nas suas atividades básicas de ir e vir, no conforto mínimo e na sua segurança, falta ao poder público ouvir queixas quase corriqueiras, mesmo assim ou, até por isso, ignoradas. Na maioria das vezes são as pequenas ações que mais favorecem os munícipes, como a certeza de ter uma rua onde se possa transitar sem cair em algum buraco; uma calçada que não seja uma armadilha de desnível; uma iluminação que nos garanta alguma segurança ao voltar para casa, um vazamento de água, um terreno ou espaço fechado por mato e animais.

A maioria das pessoas não sonha com mansões, carrões ou fama. A população sabe exatamente do que precisa para viver com dignidade e não exige nada de extraordinário.

A maioria espera um transporte adequado para ir e voltar para casa em segurança e uma habitação com algum conforto. Não é pedir muito aos poderes públicos que garanta ao cidadão -- e contribuinte -- que tenhamos parques limpos, ruas e praças bem cuidadas e que ele saia de manhã e chegue à sua casa no final de cada dia em paz, sabendo que tem água na torneira e silêncio no entorno para repousar.

Mesmo esse pouco, no entanto, parece ser muito para as autoridades. Muitas vezes vemos que um problema de responsabilidade municipal, estadual ou em outra esfera público/privada, não tem dono.

O Jornal Cruzeiro do Sul tem publicado constantemente casos de postes, árvores, fios, valetas e buracos, calçadas perigosas com enormes desníveis ou sua falta que obriga o pedestre a caminhar no leito carroçável com fins trágicos. De quem é a responsabilidade?

Ainda na semana encerrada ontem o Jornal publicou foto de um poste de madeira a quase 45 graus de inclinação que em pouco tempo será notícia, uma tragédia anunciada. A ironia da história é que, embora o poste esteja caindo, tem uma placa nova de trânsito colocada lá pela Urbes, para garantir que não se ultrapasse o limite de segurança da via de 40 km/h. Só pode ser brincadeira.

O local, via de acesso, é muito usado como estacionamento de caminhões com carretas, estreitando ainda mais a passagem de carros. Quem, do Poder Executivo, que colocou a placa não poderia avisar da tragédia em prenúncio?

Tema de reportagem neste domingo, a eterna questão dos atropelamentos em rodovias e avenidas, um assunto que não quer ter solução. De quem é a responsabilidade? Será apenas da concessionária que explora a via ou também do poder público local e seu staff que supostamente deveriam pensar no bem-estar da cidade? E se for um caso estadual, que representante eleito observa essas coisas mundanas, de custo de manutenção baixo, mas que, se não cuidado, resulta em acidentes e mortes de pessoas?

Os postes inclinados ou cheio de fios de diferentes origens e finalidades são alugados para serviços de terceiros. No caso de troca de um desses postes, que são da CPFL Piratininga, as equipes terceirizadas que executam os serviços apenas reconectam os cabos de eletricidade das CPFL, deixando outros igualmente importantes -- telefonia, TV a cabo e outros -- entregues à própria sorte. Sorte de quem não é atingido por esses cabos. Sorte de quem não tem serviços interrompidos. De quem é a responsabilidade que não observa que os serviços sejam cumpridos com qualidade sem afetar o cidadão?

Assim é pela cidade e região. O buraco no leito carroçável e a valeta do gás, que se somam ao da água, que se somam a obras de ampliação do fechamento de vias e avenidas, do pó das ruas sem pavimentação dos buracos que se abrem da noite para o dia, como denunciou uma moradora do Jardim São Carlos, ainda esta semana, cuja via que liga à avenida Armando Pannunzio está com asfalto destroçado.

Enquanto postes novos e eretos e ruas asfaltadas ou remendadas cumprem seu papel, há donos, aos montes, para se arvorar como provedores. Os buracos e postes e ruas com problemas parecem ser responsabilidade de ninguém.

Muitas vezes a culpa fica sendo do cidadão, como diz a CPFL, para qual Sorocaba é uma das cidades que mais problemas provoca com acidentes de trânsito em postes elétricos. Já o poste inclinado que vai cair ou fios derrubados pelos terceirizados, de quem é a responsabilidade? Tudo resulta num ciclo sem fim: do não é comigo! Ou este problema é deste ou daquele órgão. Um jogo de empurra que custa caro! Muito caro para o município e munícipes.

Resta ao munícipe saber quem se sensibiliza com o seu problema e se este será resolvido brevemente. O que se quer é somente a rua iluminada, o buraco fechado, o poste no lugar, o vazamento de água ou esgoto contido. E que alguém também se empenhe em solucionar os problemas e não apenas aqueles que funcionam bem.

É muito pouco que se pede pelo tanto que se paga em impostos no nosso país.

O que se espera é que tendo as mídias sociais, as dezenas de solicitações, graças a essa era da comunicação, as autoridades e entidades responsáveis por resolver esses problemas não ignorem a população, não deixem que o cidadão tenha que recorrer a imprensa para exigir seus direitos. Diante de problemas básicos, espera-se que o poder público se antecipe, detecte o que não vai bem e dê uma solução rápida. Deseja-se eficiência e não desculpas ou protelação do poder público. Acima de tudo espera-se que alguém assuma quem é o dono da rua, do poste ou de quem é o buraco.