Buscar no Cruzeiro

Buscar

Corte nos juros

25 de Junho de 2019 às 00:01

Em reunião realizada na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve, pela décima vez consecutiva, a taxa básica de juros, a chamada Selic, em 6,5% ao ano, a menor taxa da série histórica. O ciclo de afrouxamento monetário começou em outubro de 2016, dois meses após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, quando a Selic estava em 14,25% ao ano. De lá para cá, por conta de condições favoráveis da inflação e com o objetivo de acelerar o ritmo de atividade econômica, a Selic foi reduzida em 54,4%. Esse estímulo, entretanto, não cumpriu plenamente seu objetivo uma vez que não chegou ao consumidor que viu os juros caírem muito menos nesse período. Em outubro de 2016, os juros do crédito livre, aquele destinado a pessoas físicas, estava em 43% ao ano e recuou para 31,7% em abril último, segundo informações do BC.

Essa diferença do corte da taxa básica de juros e o juro cobrado do consumidor foram objetos de um estudo elaborado pela equipe de economistas da Confederação Nacional do Comércio (CNC). De acordo com o estudo, se o repasse do corte da Selic tivesse sido integral, o consumidor estaria pagando na atualidade uma taxa de juros bem menor, algo em torno de 26% ao ano. Uma taxa de juros menor poderia baratear as compras de itens que são vendidos normalmente a crédito como veículos, móveis, eletrodomésticos e materiais de construção. São segmentos da economia que têm grandes cadeias de produção e poderiam incentivar a atividade econômica. O fato é que os bancos não repassaram integralmente o corte das taxas básicas dos juros, o que prejudicou o consumidor. A receita que poderia beneficiar o setor comercial e de serviços, que são os grandes geradores de emprego, acabou beneficiando principalmente o setor financeiro.

O estudo da Confederação Nacional do Comércio concluiu que, se houvesse maior queda na taxa de juros ao consumidor, o comércio varejista poderia ter vendido R$ 41 bilhões a mais nos últimos 12 meses e incentivado maior consumo, emprego e renda. A Febraban, entidade que representa os bancos, afirma que é um equívoco pensar que a queda dos juros deveria ser proporcional à Selic, pois além do custo de captação do recurso emprestado, afetado pelo juro básico, há outros componentes a serem considerados como a inadimplência, tributos, despesas administrativas, além da margem financeira dos bancos.

Outro exemplo de como medidas para beneficiar a população nem sempre chegam ao consumidor final é o dos combustíveis. Desde que a Petrobras adotou nova política de reajuste dos combustíveis acompanhando os preços internacionais, muitas variações negativas do preço dos combustíveis que saem das refinarias não chegaram ao consumidor. Essa política de reajustar com frequência os combustíveis foi adotada após o impeachment da presidente Dilma que, para manter artificialmente a inflação em índices baixos, determinou que a Petrobras não repassasse os aumentos aos produtos. Essa política equivocada, ao lado da drenagem de recursos provocada pela corrupção, quase quebraram a maior empresa do Brasil. Ocorre que a nova política da Petrobras, mantida com pequenos ajustes pelo atual governo, nem sempre beneficia os consumidores. Quando há aumento nos preços, eles são imediatamente repassados. Quando há queda no preço do produto, como se sabe, isso não ocorre.

Este ano, em diversas ocasiões, houve queda no preço dos combustíveis nas refinarias. Os preços caíram em maio e em junho, mas esse reajuste pouco beneficiou o consumidor. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) acompanha essa situação há tempos. No ano final do ano passado, por exemplo, houve uma situação limite. De setembro a novembro, foi registrada queda de 31% no preço da gasolina nas refinarias, mas no caminho até a bomba, o desconto foi sumindo. A ANP constatou que o preço nos postos naquele período caiu somente 2%. Ou seja, nos postos os preços caem como uma pluma, mas sobem como um foguete.

A questão dos juros e dos combustíveis são apenas dois exemplos de como ações positivas dos governantes nem sempre são suficientes para beneficiar a população. Precisam de um acompanhamento e fiscalização rigorosos para não ocorrerem distorções ao longo do caminho e praticamente chegarem sem efeito junto ao consumidor final.