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Confira o editorial desta quinta-feira: 'A cultura do medo'

25 de Outubro de 2018 às 09:38

O terror como forma de amedrontar e submeter uma população a um domínio salvador é beatificado pela pureza dos bons: “Livrai-nos do mal!”.

As propagandas do PT na televisão e rádio passaram do discurso edificante das grandes conquistas do povo nos anos dourados -- pelos menos para os membros do partido de seu governo -- para o possível horror que será instituído pelo opositor baseado num passado do qual também seus integrantes foram ativos na violência e terror.

A história ensina que existem três verdades: a verdade deles, a verdade nossa e a verdade de fato. Os avanços cantados pelo PT e em muitos casos reconhecidos, foram insuficientes como camuflagem de uma prática que angariava apoio popular de um lado e festejava nas sombras acordos com empreiteiras, dinheiro em contas no exterior, “laranjas” e aparelhamento do Estado. A história dos grupos aliados ao PT mostra ataques do MST e MTST com ação de invasores e vandalismo. Neste momento da campanha passam a impressão que nunca tiveram grupos de vândalos e fanáticos em suas fileiras.

O medo sempre foi recurso de conquistadores tirânicos desde que Gengis Khan varreu a terra. Nas grandes conquistas romanas há muito menos glórias do que violência e servidão dos vencidos. Com a Alemanha de Hitler, ou a União Soviética de Stalin, a China de Mao Tse Tung, a cultura do medo continua sua investida como forma de disciplinar o povo. É preciso projetar o horror no outro para se vender como salvação e esperança. Depois de eleito, a história é outra.

A propaganda do PT apelou para imagens de tortura e violência das quais a população brasileira anda farta. A desgraça não agrada e nem atrai pessoas normais. Causa revolta e repulsa e não simpatia por este e ou aquele candidato. Os apelos do medo.

Há no livro “Os anjos bons de nossa natureza” do neurolinguista de Harvard, Steve Pinkler, um estudo acadêmico sobre a violência desde as primeiras civilizações. O autor prova que houve uma drástica redução da violência na história humana em nome do diálogo e da civilidade. Procurar incutir nos eleitores o horror e o medo é dar a medida do tipo de linguagem ideológica que se pretende para o país caso venham a governá-lo. Medo do medo para submeter um povo.

Uma cultura que continua funcionando com os desinformados e contra os que lutam por um mundo e um país mais pacífico que, com inteligência, quer soluções para reduzir criminalidade, violências domésticas, violência no trânsito, nos presídios, utilizando-se de métodos racionais e organizados. Não será cultuando o medo, atribuindo um possível compromisso de um candidato com o horror que se vai atrair votos. Antes, quem usa dessa linguagem atrai repulsa e a sensação de apreço por um mundo cão, no pior sentido da barbárie.

O Brasil e suas instituições já foram testados com afastamentos de presidentes da República, atentados a políticos e até mortes mal esclarecidas de homens públicos, sem que fossem registrados levantes populares. Os erros históricos foram reconhecidos, esperava-se que de lado a lado, para podermos prosseguir, fechar essas páginas. Mandela, que passou a maior parte da vida preso, poderia ter cultivado ódio e vingança, mas pregou a conciliação ao sair do cárcere.

É lamentável usar a dor como instrumento de propaganda do medo. Esse recurso serve apenas para reavivar dores e rancores com a esperança de receber alguns votos nas urnas. O que se pretende com a propaganda do PT é assustar, causar horror, atribuir tortura a quem nem tinha idade para isso e nem como interferir no que ocorreu. O que se pretende é um espetáculo de grupos extremistas que se explodem, mutilam, executam em massa para lembrar: o horror virá. Como arautos do anjo vingador.

Sem esquecer que quem denuncia as práticas de tortura também pegou em armas, matou, sequestrou e roubou, inclusive com mortes internas por “traição”. Não há inocentes. A estratégia do medo, do terror não vai vender nunca, será combatida e abominada. Se os grupos do crime organizado de hoje têm sua origem no convívio com presos políticos no passado, quando aprenderam técnicas de guerrilha conforme relata a história, a situação parece se inverter agora e políticos utilizam a prática de intimidação e horror do crime organizado para atrair ou submeter uma população. Nossas crianças, idosos e pessoas de bem, muitas nem nascidas nos “anos de chumbo”, sabem diferenciar o que é realidade do que é truque para atrair devotos pelo medo.

Medo não!