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Ciclovias no entulho

26 de Dezembro de 2018 às 14:55

Quase tão difícil quanto criar uma grande infraestrutura pública é manter essa mesma infraestrutura. Ainda mais difícil quando essa mesma infraestrutura é exemplo nacional e começa a dar sinais de abandono. A cobrança de muitos é inevitável, mesmo porque a população tende a se acostumar com um padrão de qualidade. De coisa boa todos gostam. Todos gostam das ciclovias de Sorocaba. Mesmo aqueles que não usam as ciclovias gostam, comentam, falam com orgulho dessa emblemática maneira de locomoção, esporte, diversão.

Quem parece não gostar é a atual administração municipal, representada por quem deveria cuidar das ciclovias -- e poucas ciclofaixas -- é a Urbes - Trânsito e Transportes. E chega a ser contraditório esse descaso atual com o estado das ciclovias na cidade, uma vez que em seu próprio website e nas notícias, as ciclovias são mostradas com bastante destaque.

Os atuais 127 quilômetros de ciclovias de Sorocaba, assunto na página A7, permanece o mesmo já há alguns anos. A presente administração não construiu nenhum quilômetro novo. Ao contrário, está quebrando importantes acessos e faixas de ciclovia na região da avenida Itavuvu e, passado um tempo considerável que essas mesmas faixas já poderiam estar de volta em uso, continuam soterradas em entulhos ou simplesmente desapareceram. O que poderia ser um transtorno momentâneo, de poucas semanas, conforme foi explicado há poucos meses aos Cruzeiro do Sul, caiu na mesmice das obras sem planejamento ou cuidados com os arredores, com a construção do BRT na zona norte. Não bastasse o enorme abate de árvores que demoraram anos para crescer e que estão no trajeto do novo e caro sistema de transportes, o descaso com uma das principais projeções positivas de Sorocaba em todo Brasil -- e possivelmente no mundo -- nossas vias de bikes, simples e literalmente estão sendo levadas para pilhas de entulho. São tratadas como lixo.

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Alguns poderão dizer que o nosso sistema de ciclovias, o maior como tal no Brasil, isto é, vias seguras e isoladas, construídas para permitir o tráfego limpo e saudável de bicicletas, atende a muita pouca gente. A princípio pode parecer assim e, ainda, não justifica o descaso com essa conquista de vários anos em Sorocaba que, em qualquer pesquisa na web, mostrará o quanto nosso sistema é elogiado e comentado por ciclista em todo lugar, de qualquer faixa de idade, de diferente poder aquisitivo, de qualquer objetivo de uso: lazer ou trabalho. “Hoje, o número de bicicletas nas ruas passou de 190 mil para 300 mil”, segundo a própria Prefeitura disse em 2013! Ainda, na mesma data: “Sorocaba tem uma bicicleta para cada 1,9 habitantes, já que a população total é de 586 mil pessoas. As bicicletas estão praticamente igualando o número de veículos automotores, que são 383 mil no município.” Mas a melhor informação que hoje está sendo hoje negligenciada pela Urbes é a seguinte, ainda em 2013: “depois da instalação de 103 km de ciclovias em Sorocaba, a cidade teve apenas um acidente envolvendo bicicletas e carros em 4 anos. O único ciclista atropelado estava fora da via exclusiva para bicicletas. Hoje, o município tem a maior rede cicloviária do Estado de São Paulo.”

Há 8 anos -- agosto de 2010 -- este Jornal publicou em sua revista em homenagem ao aniversário de Sorocaba, uma bela reportagem com o então repórter -- e hoje produtor e apresentador na rádio Cruzeiro FM -- Fernando Guimarães sobre sua experiência ao pedalar nas ciclovias de Sorocaba, indo e vindo de sua casa ao trabalho. O leitor encontra acessando o portal jornalcruzeiro.com.br. Essa reportagem mostra o avanço, hoje parado, da cidade nesse setor.

Sorocaba se acostumou a um determinado padrão de qualidade de vida e cuidados com a cidade. A população elevou sua cobrança e sabe que faz jus ao cuidado com aquilo conquistado. Tanto é que o próprio Poder Executivo tem sido sensível em sua percepção e tem mantido a cidade bem limpa, com seus jardins em ordem, apesar do calor e chuvas, quando os canteiros públicos requerem cuidados mais intensos.

No caso das ciclovias observa-se não apenas uma estagnação na malha viária. Novos trechos previstos como na avenida São Paulo vindo da Raposo Tavares, a continuação da Luís Mendes de Almeida, continuam em planos como em 2014. E uma possível integração com o distrito industrial, que poderia atender a um número ainda maior de pessoas, ainda não aconteceu.

Pode ser que as reclamações pela manutenção da qualidade das pistas que usam tintas que ficam escorregadias em dias de chuva -- por que não fazer pistas com apenas uma boa base concreto? -- ou que estão partindo ou sendo levantadas por raízes de árvores possa parecer um luxo. Até pode ser, no entanto são reclamações legítimas. É uma conquista advinda de administrações anteriores. E prontas, requerem pouco investimento para muito resultado. Mesmo a expansão de novos trechos tem um baixo investimento em comparação ao que está sendo feito em obras na cidade e, repita-se pra ficar bem claro, destruindo e não devolvendo, pistas que são de direito e uso do cidadão, qualquer cidadão.

Ou será que, por exigir pouco investimento, não é algo de atenção da administração municipal, em especial daqueles que gerenciam obras no município?