Caminho sem volta
Crédito da foto: Felipe Pinheiro / Arquivo Secom (2/8/2018)
A automação e a transformação digital nas empresas estão mudando o mercado de trabalho e vão causar mudanças ainda maiores nos próximos dez anos. Como mostrou a reportagem publicada no Cruzeiro do Sul do último domingo (Automação avança e exige requalificação profissional, 21/7, pág. 9), de autoria da repórter Larissa Pessoa, essas alterações no mercado de trabalho chegaram fortes em Sorocaba. Como destacou o texto, a automação está presente em shopping centers, postos de combustíveis e supermercados onde o consumidor já consegue pagar pelos produtos e serviços sem a presença de um funcionário. É possível pagar o estacionamento, sacar dinheiro, pagar pelo combustível em máquinas estrategicamente instaladas, o que diminui o custo das empresas e, de certa forma, agiliza os serviços, uma vez que os equipamentos podem ficar ligados 24 horas por dia. Se um simples caixa de estacionamento automático fosse novamente substituído por um trabalhador exigiria a presença de pelo menos três funcionários, cada um com um turno de oito horas de serviço, eventuais substitutos em casos de férias ou ausência do funcionário, pagamento de adicional noturno, sem contar os encargos sociais.
A automação está aumentando com muita velocidade no comércio, com o uso de aplicativos, sistemas de códigos de barras e autoatendimento, o que começa a afetar o volume de mão de obra desse setor. No setor financeiro e de serviços, a presença da automação é mais antiga e praticamente já foi assimilada por boa parte da população que hoje usa caixas eletrônicos, paga contas pelos celulares e faz transferências de valores por aplicativos. Mas foi na indústria que a automação começou a se firmar como fator importante para o aumento da produtividade. Os primeiros robôs começaram a chegar nas linhas de montagem da indústria automobilística, por exemplo, nos anos 1990. Cada robô -- utilizados inicialmente em setores de solda de carrocerias e setor de pintura -- custava uma fortuna, mas comprovadamente desempenhavam bem um papel difícil e insalubre para os seres humanos. Durante o período do “apagão” (de 2001 a 2002), onde o sistema elétrico brasileiro entrou em colapso por falta de planejamento e aumento de consumo, a Volkswagen inaugurou uma moderna fábrica de automóveis em São José dos Pinhais, ao lado de Curitiba (PR). O nível de automação era tanta que boa parte da fábrica funcionava praticamente no escuro, para poupar energia. Lá só trabalhavam robôs...
Com o avanço da automação, praticamente tudo que envolve trabalho braçal será executado, cada vez com mais frequência, por máquinas, o que vai alterar consideravelmente a natureza do trabalho. O Brasil ainda está atrasado na automação de serviços e ainda vai atingir vários outros serviços. Mas não há motivo para pânico. Novos estudos provam que uma série de profissões irá surgir na próxima década à medida que a automação ocupa espaços no mercado de trabalho. Mas essa adaptação aos novos tempos exige qualificação profissional ininterrupta. Todo sistema automatizado, como salientaram vários entrevistados na reportagem, exige desenvolvimento e manutenção, trabalhos realizados por profissionais capacitados.
Um levantamento realizado no final de 2017 pela empresa de consultoria americana McKinsey revelou as potenciais mudanças no mercado de trabalho. Segundo essa pesquisa, pelo menos um terço das atividades de 60% das funções que existem no mercado de trabalho mundial podem ser automatizadas, o que significa que entre 400 milhões e 800 milhões de trabalhadores poderão ser substituídos pela automação nos próximos dez anos. Para sobreviver no mercado de trabalho, esses trabalhadores terão de mudar de categoria ocupacional e aprender e desenvolver habilidades novas, pois o mundo continuará precisando de obras de infraestrutura (edifícios, estradas, pontes) e uma ampla gama de produtos de consumo para atender a uma população sempre em crescimento.
Os especialistas no assunto concordam que existe a necessidade de se criar políticas públicas para estimular a preparação daqueles que hoje se ocupam de funções que no futuro deixarão de existir. Um esforço conjunto para requalificação profissional de boa parte dos trabalhadores para que se adaptem às novas profissões que irão surgir.