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Avanço perigoso

14 de Junho de 2020 às 00:01

Em pouco mais de um mês, o epicentro da pandemia da Covid-19 no território paulista migrou da capital e municípios adjacentes para as áreas localizadas no interior e na faixa litorânea. Visualizando além das consequências óbvias desse deslocamento indesejável -- porém previsível --, a maior preocupação no momento é com o temível colapso na saúde, ou seja, a possibilidade de os hospitais não conseguirem dar conta do aumento acelerado da demanda em um curto espaço de tempo.

O cenário de crise, lamentavelmente, é uma contingência evidenciada nos próprios dados oficiais disponíveis. Segundo a Secretaria da Saúde, a taxa média atual de ocupação de leitos destinados aos pacientes com suspeita e/ou comprovação de infecção pelo novo coronavírus já atinge nível preocupante em todo o Estado, subindo cerca de 3% a cada período de 24 horas. Porém, na última semana, o avanço mais expressivo foi verificado fora dos limites da região metropolitana paulistana, com a ocupação de vagas crescendo quase 4% apenas na última sexta-feira (12).

Segundo o boletim mais recente divulgado pelo Centro de Contingência do Coronavírus, os hospitais públicos dos 645 municípios paulistas estão utilizando 69,4% das vagas existentes nas Unidades de Terapia Intensivas (UTIs) e 54,3% dos leitos disponíveis nas enfermarias. O número de pacientes internados é de 14.056, sendo 8.557 em enfermarias e 5.499 em unidades dotadas de monitoramento contínuo.

A dinâmica das estatísticas referentes à doença nas últimas semanas nas diversas regiões do Estado de São Paulo corrobora a necessidade de reações imediatas, quer seja na mudança das estratégias de flexibilização do isolamento social -- comprovadamente impactantes --, quer seja na preparação de mais vagas nas UTIs e enfermarias. Ainda conforme o boletim divulgado na última sexta-feira pelo Centro de Contingência do Coronavírus, ao invés dos 15% de casos confirmados e óbitos registrados em todo o Estado no início de maio, agora as cidades que estão fora da Grande São Paulo concentram 77,8% dos pacientes infectados e 71,2% das mortes relacionadas à doença. Anteontem, os dados oficiais apontavam que entre os 167.900 doentes, 130.626 residem nas áreas interioranas e do litoral. O mesmo relatório contabilizou um total de 10.368 falecimentos, sendo 7.382 de pacientes que moravam em municípios do interior ou das regiões litorâneas paulistas.

No âmbito do Departamento Regional de Saúde de Sorocaba (DRS 16) -- que engloba 48 municípios e 2,4 milhões de habitantes --, o colapso no sistema de atendimento aos pacientes suspeitos ou com quadro de Covid-19 comprovado é uma probabilidade que não pode ser descartada até mesmo no curto prazo. Os motivos são a baixa disponibilidade de leitos na maioria das cidades e as poucas unidades de referência no tratamento da doença.

A fragilidade da estrutura disponibilizada na DRS 16 tem um parâmetro na taxa de ocupação da sua principal referência, o Hospital Estadual Dr. Adib Domingos Jatene -- conhecido como novo Hospital Regional, localizado no quilômetro 106 da rodovia Raposo Tavares. Segundo o censo diário de leitos mais recente -- levantamento realizado pela própria Secretaria de Estado da Saúde --, todas as 30 vagas de UTI estavam ocupadas. No caso dos leitos clínicos, a ocupação chegava a 86,6%, significando que 13 das 15 unidades disponíveis estavam com pacientes.

O crescimento do número de pessoas contaminadas nas diversas regiões do interior do Estado é um fato, e não será surpresa se em algumas delas o isolamento social volte a ser mais rigoroso, como forma de diminuir o ritmo das contaminações e dar tempo para a ampliação no número de vagas hospitalares.

Diante do irrefutável alerta que os números oficiais vêm apresentando já há algumas semanas, está na hora de se redimensionar as necessidades dos municípios da DRS 16 no que se refere ao enfrentamento da pandemia do novo coronavírus. Vale lembrar que países considerados livres da doença, após superarem os picos de infecções, estão voltando a enfrentar o pesadelo.