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Atos humanitários

08 de Junho de 2019 às 00:01

É com frequência que os leitores encontram neste Jornal reportagens sobre crianças e adolescentes vendendo doces e outros produtos nas avenidas mais movimentadas de Sorocaba, geralmente aproveitando o fechamento dos semáforos para oferecer seus produtos. Hoje essas vendas ocorrem não só na região central, mas também nas avenidas mais movimentadas dos bairros, principalmente na zona norte. A lei proíbe que crianças trabalhem.

A Secretaria de Igualdade e Assistência Social (Sias), em parceria com o Conselho Tutelar e a Guarda Civil Municipal tentam impedir que o trabalho infantil aconteça nas ruas da cidade, mas é como enxugar gelo. As mercadorias oferecidas a motoristas ou transeuntes e a logística de distribuição desses produtos, com reposição imediata do que vai sendo vendido ou mesmo apreendido, mostra claramente que há um trabalho bem organizado de exploradores de menores que utilizam as crianças para ganhar dinheiro. Grandes quantidades de mercadorias são apreendidas, chega-se a toneladas ao final de uma semana, mas isso não impede que o comércio ilegal prossiga. Tanto o Conselho Tutelar, a Sias, como a Guarda Civil Metropolitana orientam a população a não comprar nada das crianças e adolescentes, pois elas praticamente nada recebem pelo trabalho perigoso que as afasta da escola e de atividades sadias. Mesmo assim esses jovens surgem em vários pontos da cidade, cada vez em maior número, e com frequência conseguem vender seus doces e suas balas diante da compaixão que despertam nos motoristas e passageiros.

As crianças e os adolescentes arregimentados para vender produtos nas ruas são extremamente vulneráveis. Não só correm risco de atropelamento por ter que desviar de veículos em locais movimentados, como também da violência urbana: tornam-se presas fáceis também do tráfico de drogas e da exploração sexual.

Além desse aspecto de exploração de trabalho infantil, é preciso esclarecer também o que essas crianças fazem nas ruas, longe dos pais, e sujeitas a todo tipo de acidentes. É evidente que pertencem a famílias pobres, com necessidades materiais extremas, mas deveriam estar na escola. Muitas delas vêm de outras cidades da região e fazem parte do grande número de crianças que abandonaram a escola, reforçando as estatísticas de evasão escolar ou simplesmente são uma prova real de que nossas políticas públicas de inclusão social, nacional, estadual ou mesmo local, não funcionam. Essas crianças e adolescentes precisam de escola em período integral ou períodos de convivência em instituições no contraturno escolar, com atividades de seu interesse, para evitar que sejam presas fáceis de exploradores do trabalho infantil.

Ao mesmo tempo em que a abordagem dos adolescentes se repete nos cruzamentos, há outra situação que chama a atenção nas ruas, principalmente neste período do ano em que o inverno se aproxima e os termômetros têm caído bastante no período noturno. São as pessoas em situação de rua que se recusam a aceitar ajuda e passar a noite em um dos albergues que a cidade oferece. A recusa acontece muitas vezes porque elas têm um animal de estimação e os albergues, como se sabe, não permitem a entrada de animais, o que faz com que muitas delas prefiram passar a noite ao relento, dormindo sob uma marquise, a se separar de seus animais, talvez o único elo afetivo dessas pessoas que perderam quase tudo. É até compreensível que as entidades que oferecem abrigo às pessoas que vivem nas ruas recusem a entrada de animais, pois diante da grande procura, principalmente no inverno, têm grandes dificuldades em atender esse público. Sorocaba tem inúmeras entidades e grupos de amigos preocupados com os animais, que se mobilizam muito rapidamente por meio das redes sociais. Seria muito proveitoso se esses grupos se mobilizassem e fizessem um trabalho conjunto com os albergues para que os cães também possam ser acomodados se possível com seus donos, ou criassem um local para o pernoite que aceitasse animais. Seria um tratamento inédito oferecido àqueles que precisam de um abrigo digno e aquecido para passar a noite sem separar os poucos pontos de união que ainda mantêm.