Atitudes solidárias
Crédito da foto: Rovena Rosa/ Agência Brasil
Depois de um mês de junho atípico, com temperaturas mais próximas do verão, o mês de julho surpreendeu pelo frio rigoroso. Primeiro veio chuva intensa no Estado de São Paulo em uma época de estiagem, depois chegou o frio com uma intensidade que não se via há anos e que deverá permanecer na região por mais alguns dias. A onda de frio já provocou vítimas: pelo menos seis pessoas morreram no Estado de São Paulo, onde os termômetros em algumas regiões registraram 5ºC. A última vítima foi localizada pela polícia sob uma ponte da Marginal do Tietê e assim como as demais, não aparentava sinais de violência. Todas as demais mortes ocorreram de forma semelhante, eram pessoas em condições de rua, mal agasalhadas e que pernoitavam em locais inapropriados.
Em Sorocaba é grande o número de moradores em situação de rua e felizmente ainda não foram registrados óbitos, apesar do frio intenso dos últimos dias. Essa situação levou a Secretaria de Igualdade e Assistência Social (Sias) a redobrar as abordagens aos moradores de rua neste inverno. O trabalho vem sendo realizado nas noites frias pelo pessoal da Casa Azul, como agora é chamado o antigo Centro POP, e pelas equipes do Serviço de Obras Sociais (SOS), entidade que trabalha com essa parcela da população oferecendo abrigo e alimentação em suas dependências. As pessoas enviadas à Casa Azul, na Vila Rica, também recebem roupas limpas, têm oportunidade de tomar banho, alimentação e podem pernoitar. Desenvolve ainda algumas ações para tentar inserir o morador de rua na sociedade, com atendimento psicossocial e até encaminhamento para as cidades de origem, se houver interesse. Encaminha também para que a pessoa consiga tirar documentos pessoais e oferece proteção em situações de violência.
Apesar de todos esses serviços oferecidos pelos órgãos públicos e por entidades sociais, eles não atraem todas as pessoas que vivem nas ruas e se alimentam de doações da população ou de grupos de auxílio que distribuem refeições prontas em determinadas regiões da cidade. Muitos rejeitam o pernoite em abrigos por motivos variados. Alguns não querem se afastar de animais de estimação; outros não concordam com as regras de disciplina dos abrigos, onde é proibido, por exemplo, o uso de bebida alcoólica e drogas. Uma situação difícil e perigosa, pois muitas dessas pessoas acabam pernoitando na rua, improvisando abrigos em marquises, muitas vezes sob o efeito de álcool ou drogas, apesar das temperaturas muito baixas.
Este inverno especialmente rigoroso, por outro lado, tem incentivado uma série de atos elogiáveis de solidariedade. O trabalho conjunto entre as torcidas arquirrivais do Internacional e do Grêmio, em Porto Alegre, foi sem dúvida o que mais ganhou destaque. As duas torcidas famosas pela rivalidade se uniram para ajudar moradores de rua da capital do Rio Grande do Sul e cidades próximas, onde os termômetros ficaram abaixo de zero. O Internacional abriu as portas de seu ginásio, o Gigantinho, para abrigar os moradores de rua, enquanto que o Grêmio conseguiu encher dois ônibus com cobertores. No chão do ginásio foram dispostos cerca de 300 colchões com cobertores. Os moradores de rua encontram ainda um jantar preparado por voluntários.
Outro tipo de iniciativa que vem ganhando adeptos é o chamado “varal solidário” onde as pessoas que dispõem de peças de agasalho, que não usam mais, penduram suas doações em locais públicos para serem retiradas por quem precisa. Várias empresas e escolas de Sorocaba já adotaram esse tipo de doação de agasalhos que está atendendo muitas pessoas necessitadas. Sem contar as grandes empresas e o Fundo Social de Solidariedade que realizam campanhas mais estruturadas para atender a população carente.
Percebe-se com isso que o rigor do inverno acaba costurando uma interessante teia de solidariedade que chega de uma forma ou de outra, aos mais necessitados e àqueles que vivem nas ruas. Essa doação e ajuda ao próximo revelam, neste início do inverno, os melhores sentimentos de boa parte da população, solidária com os menos afortunados.