Buscar no Cruzeiro

Buscar

Ataque à natureza

01 de Setembro de 2020 às 00:01

Na semana passada, uma notícia publicada pelo Cruzeiro do Sul tanto na sua versão impressa como na digital e ainda nas redes sociais, causou espanto e revolta em muitos de seus leitores.

A notícia era a de que a Polícia Militar Ambiental, após denúncia anônima, localizou em uma propriedade rural de Araçoiaba da Serra, um homem que mantinha em sua casa vários animais silvestres mortos, possivelmente para venda.

O suspeito, que trabalha como caseiro de um sítio, negou a princípio que tivesse qualquer caça em sua casa, mas foi surpreendido tentando se desvencilhar de sacos onde estavam os animais mortos.

Ele armazenava três tatus, 33 aves nativas e uma paca, todos abatidos havia pouco tempo.

Na casa foram apreendidas armas e armadilhas usadas para a caça.

O caseiro foi preso e lavrado um auto de infração ambiental no valor de R$ 18.500 pela caça ilegal.

Mas o que chocou mais os leitores foi a foto distribuída pela Polícia Ambiental em que aparecem, sobre o capô da viatura, os animais mortos, alguns já cortados possivelmente para venda, um retrato do pouco valor que parcela da população ainda dá à fauna e à flora regional.

Apesar de chocante, esse tipo de crime contra a natureza, infelizmente, é mais comum do que se imagina.

O problema para a Polícia Ambiental é saber onde esses crimes acontecem e identificar os caçadores, uma vez que ocorrem geralmente em áreas de mata fechada, de acesso sempre difícil. Há outro aspecto a ser considerado.

A caça ilegal, mesmo com o rigor da legislação que pretende preservar nosso patrimônio natural, ainda é muito praticada possivelmente porque ainda há um mercado clandestino desse tipo de caça.

Não houvessem interessados, certamente o abate indiscriminado de animais silvestres diminuiria.

No caso do caseiro preso em Araçoiaba, ficou evidente que ele não caçou tamanha quantidade de animais para uso próprio.

A região de Sorocaba tem alguns remanescentes valiosos da Mata Atlântica.

Esse bioma que já cobriu praticamente toda a costa brasileira avançando para o Paraguai e Argentina, foi praticamente dizimado no século passado.

No Brasil, segundo levantamentos de órgãos governamentais, sobraram 15% da mata original.

No Estado de São Paulo, boa parte está localizada na região Sudoeste do Estado onde foram criados vários parques para sua preservação, como o Carlos Botelho, com 37mil hectares entre os municípios de Capão Bonito, São Miguel Arcanjo e Sete Barras; e o Parque Intervales (42 mil hectares), na Serra de Paranapiacaba, junto aos municípios da Guapiara, Eldorado Paulista, Iporanga e Ribeirão Grande.

Em janeiro deste ano, a Polícia Ambiental prendeu três homens que foram flagrados com mais de 900 palmitos juçara extraídos irregularmente do Parque Estadual Jurupará, no bairro Élvio, em Piedade.

Os palmitos estavam sendo transportados em mulas, que também apresentavam sinais de maus tratos.

Árvore típica da Mata Atlântica, os frutos da palmeira juçara fazem parte da base alimentar de uma importante cadeia de aves e mamíferos, muitos ameaçados de extinção.

São esses pássaros e animais que espalham as sementes da juçara pela mata, garantindo a reprodução da espécie. Para obter o palmito é necessário cortar a árvore, pois ele nada mais é que parte de seu caule.

Esses três homens presos tinham cortado ilegalmente mais de 950 árvores em poucos dias em área protegida.

Há dois anos a mesma Polícia Ambiental prendeu 16 integrantes de uma quadrilha que cortava palmeiras da espécie juçara para extrair palmito no Parque Estadual da Serra do Mar.

A polícia suspeita que somente esse bando pode ter derrubado 300 mil palmeiras em área de preservação em curto espaço de tempo.

Vários integrantes do grupo tinham passagens pela polícia por outros crimes como homicídios e estupro, além de crimes ambientais.

Os palmiteiros, como são conhecidos, agem em bandos ou individualmente e não respeitam as reservas ambientais do governo, nem mesmo a propriedade privada.

A existência de remanescentes de Mata Atlântica é muito comum em propriedades particulares de municípios da região, como Tapiraí, Piedade, entre outros.

Pois mesmo com o esforço dos proprietários para manter a mata nativa -- o que inclui a palmeira juçara -- as áreas são invadidas, sobretudo no período noturno, e as árvores derrubadas.

O palmito é valioso e os palmiteiros geralmente já têm mercado certo para o que extraem ilegalmente da natureza, mesmo não tendo qualquer cuidado com higiene na manipulação do produto.

O combate à caça ilegal de animais da nossa fauna e ao extermínio da palmeira juçara passa também pelo boicote ao consumo do que é obtido de maneira ilegal.

A falta de mercado ao menos desestimularia parte dos predadores da natureza.