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Água, o ouro do século 21

31 de Março de 2019 às 00:01

A Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou o período 2018-2028 como a Década Internacional para Ação, que começou no Dia Mundial da Água, em 22 de março de 2018, e termina em 22 de março de 2028. Na semana passada, o Cruzeiro do Sul, com o apoio de empresas e organizações diretamente envolvidas com o negócio e ações públicas que envolvem a água, iniciou uma série de reportagens que procuram trazer à tona, sem intenção de trocadilhos, a atual situação da qualidade em nossa região.

A reportagem feita sobre a represa de Itupararanga, que focou em como estamos perdendo uma vital fonte de água potável -- do pote, que pode ser bebida --, teve uma grande repercussão entre nossos leitores, visitantes do jornalcruzeiro.com.br e em nosso Facebook, este com mais de 450 compartilhamentos. O interesse gerado, o apoio pelo assunto é extremamente positivo porque mostra como esse tema, antes tão comum, tão acostumados por estarmos num país cheio de rios e chuva, está ficando caro à população. Caro na questão de como estamos maltratando nossos rios e reservatórios vide o Tietê e toda sua carga de lixo descartado por nós -- e caro em como a água está chegando até nós. E pode ficar ainda mais cara se não pararmos de varrer as calçadas com água potável ou acharmos que lavar um carro pode ser feito com, também, uma mangueira de jardim aberta e sem controle. Está ficando caro, justificavelmente caro porque a que nos chega, a cada dia perde qualidade. Mais investimentos são necessários para atender a demanda. É sempre bom lembrar que a água mais cara é aquela que não temos.

Outro assunto que está trazendo muita atenção de nossos leitores é sobre o combate à poluição do rio Sorocaba. Nasce bem e ao passar por Votorantim começa a ficar sujo, pelo descarte de esgoto doméstico e de empresas. Em reportagem deste Jornal a empresa que cuida das águas e esgotos de Votorantim diz que consegue tratar quase o que não é suficiente todo o esgoto da cidade atirado diretamente ao rio Sorocaba, mas, e aqui um grande mas, que não trata de esgotos jogados nos pequenos córregos que fluem para o rio. Dessa forma, quando chega a Sorocaba, poucos quilômetros a frente, o rio entra sujo, poluído. Em Sorocaba, tecnicamente ao menos, quase todo o esgoto é tratado permitindo um rio que começa a ter oxigênio e vida. E, em poucos anos, será essa mesma água que, após tratamento, também, abastecerá as torneiras do sorocabano.

Dentro desse quadro de sujeira, poluição e degradação da qualidade da água, como foi mostrado pela reportagem, fica uma pergunta no ar. Existe um órgão público, eficiente, de controle de poluição? Alguns vão se lembrar que já existiu uma atuante empresa nos anos 70, 80 e 90 de combate à poluição do ar e das águas: a Cetesb que, conforme ela própria informa “tornou-se um dos 16 centros de referência da Organização das Nações Unidas (ONU) para questões ambientais, atuando em estreita colaboração com os 184 países que integram esse organismo internacional”. E prossegue. “Tornou-se, também, uma das cinco instituições mundiais da Organização Mundial de Saúde (OMS) para questões de abastecimento de água e saneamento, além de órgão de referência e consultoria do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), para questões ligadas a resíduos perigosos na América Latina.”

Uma memória a ser lembrada e que pouco tem a ver com a empresa que atua hoje em Sorocaba, que no máximo reage a escolhidas denúncias que lhe chegam. Há poucos meses, uma invasão de área à beira de um córrego a menos de um quilometro da sede da Cetesb em Sorocaba não foi observada pela empresa, conforme relatou o Cruzeiro do Sul. Ainda no ano passado, a omissão fiscalizatória da Cetesb permitiu que a perigosa área industrial da falida fábrica de baterias da Saturnia fosse sendo invadida por populares para retirada de restos de chumbo e outros materiais. E o solo, subsolo e águas ainda estão à mercê de qualquer ação efetiva ou fiscalizatória. Por último, a degradação da qualidade da água da represa de Itupararanga, que deveria ter na ação fiscalizatória da Cetesb, controle, análise e multas aos poluidores. Talvez seja hora do Ministério Público e das autarquias que dependem da qualidade da água de Itupararanga exercerem seu papel de cobrança dos órgãos omissos em suas funções, mesmo que judicialmente.

Numa observação final, positiva, ressalte-se o trabalho sério que está sendo feito pelos prefeitos que compõe o Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Paranapanema (CBH-Alpa), um dos rios mais limpos (ainda) do Estado de São Paulo. Muitos municípios estão na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), outros um pouco mais distantes: Angatuba, Arandu, Barão de Antonina, Bernardino de Campos, Bom Sucesso de Itararé, Buri, Campina do Monte Alegre, Capão Bonito, Cerqueira Cesar, Coronel Macedo, Fartura, Guapiara, Guareí, Ipaussu, Itaberá, Itaí, Itapetininga, Itapeva, Itaporanga, Itararé, Itatinga, Manduri, Nova Campina, Paranapanema, Pilar do Sul, Piraju, Ribeirão Branco, Ribeirão Grande, Riversul, São Miguel Arcanjo, Sarutaiá, Taguaí, Taquarituba, Taquarivaí, Tejupá e Timburi são membros desse Comitê.

Em encontro recente para reeleição da presidente do comitê, Simone Marquetto, prefeita de Itapetininga, os prefeitos se mostraram seriamente interessados na preservação deste rio de 910 km, que bem mais limpo que o Tietê, também nasce perto do mar e corre em direção ao interior do Estado, até o rio Paraná.

Esse grupo já se deu conta que água limpa é vida, é saúde. É o ouro do século 21.