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A vez da indústria sem chaminés

20 de Dezembro de 2020 às 00:01

A Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) deu, na semana que está se encerrando, o start para um renovado e promissor ciclo econômico: o do turismo doméstico. Ao percorrer, nesta sexta-feira (18) -- pela primeira vez com passageiros --, os trilhos da centenária Companhia Ytuana de Estradas de Ferro, o Trem Republicano inaugurou, na prática, o novo normal da chamada indústria sem chaminés que, certamente, ganhará impulso no período pós-pandemia de Covid-19. O histórico trajeto de 7,3 quilômetros entre os municípios de Itu e Salto pode -- e deve -- servir como exemplo e ponto de referência para iniciativas estruturadas com o intuito de aproveitar o enorme potencial que se abre, indistintamente, para os 27 municípios da região, por conta da proximidade e da facilidade de acesso a três das maiores conurbações do País.

A inédita atração turística da RMS é resultado do Consórcio Intermunicipal do Trem Republicano -- Itu/Salto (Citrem), formado pelas prefeituras dos dois municípios, com o reforço da empresa Serra Verde Express. O projeto se consolida em um momento oportuno e o seu ineditismo no âmbito regional é compatível com o rumo assinalado pelos especialistas do setor, com base nas mudanças de comportamento ditadas pelo novo coronavírus. Pesquisas realizadas pelo Ministério do Turismo e respaldadas por entidades ligadas ao trade turístico, como a Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), apontam que a retomada das viagens de lazer, quando do abrandamento da crise sanitária mundial, se dará a partir dos destinos domésticos localizados a distâncias que possam ser percorridas em menos de um dia. Estudo concluído pela Universidade de Brasília (UnB) no início de novembro -- portanto, antes da definição da política de imunização -- demonstrou que cidades do próprio País representam 60% das viagens pretendidas.

Com base em dados coletados junto a milhares de potenciais turistas de todos os Estados, os alvos preferidos de 21,8% dos entrevistados são os tradicionais destinos do litoral nordestino do Brasil. No entanto, a preferência pelos atrativos do Sudeste cresceu muito, ao ponto de aparecerem quase empatados no topo do ranking. Há pouco menos de dois meses, destinos menos conhecidos de São Paulo -- incluindo municípios próximos a Sorocaba -- e do Rio de Janeiro figuravam como sonho de consumo de 19,8% dos futuros viajantes. Na sequência, os locais prediletos ficavam no Sul (9,6%), no Centro-Oeste (5,7%) e no Norte (3,4%).

Um pouco depois dos levantamentos efetuados pelo governo brasileiro, pela Braztoa e pela UnB acerca da preferência dos brasileiros, uma pesquisa da publicação especializada Panrotas avaliou a tendência entre os empresários do setor. Surpreendentemente, o resultado demonstrou uma percepção bastante semelhante. Operadores, companhias de aviação e grandes grupos hoteleiros entendem que os protocolos de segurança definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e adotados quase que unanimemente pelos órgãos nacionais e regionais de saúde favorecem os roteiros internos ou, no mínimo, de percursos reduzidos.

Reforçando essa concepção de mercado, a Secretaria Estadual de Turismo de São Paulo, em pesquisa divulgada no início deste mês, revelou que 70% dos agentes de viagens que operam em território paulista pretendem aumentar suas ofertas no âmbito do chamado turismo doméstico. Todos esses dados e prognósticos são particularmente auspiciosos para os 27 municípios da RMS -- especialmente para as quatro estâncias e os oito municípios de interesse turístico (MIT). Seus inúmeros atrativos e a proximidade com três regiões metropolitanas paulistas -- Capital, Campinas e Baixada Santista -- os colocam nos roteiros das principais opções de lazer e entretenimento para aproximadamente 20 milhões de pessoas.

Em 2019, conforme levantamento da Secretaria Estadual de Turismo, a RMS recebeu cerca de 1,4 milhão de visitantes, que proporcionaram faturamento de, pelo menos, R$ 1,5 bilhão. Para este ano, o governo estadual estima que a movimentação de turistas nos municípios da região deve apresentar resultados mais modestos, com retração pouco superior a um terço -- algo em torno de 35,4% --, como consequência do isolamento social exigido pelo enfrentamento da epidemia. No entanto, a expectativa é de uma recuperação acelerada a partir da redução das restrições.

Não obstante as expectativas positivas, as novas administrações municipais -- a serem empossadas na próxima virada de ano -- precisam desenvolver estratégias mais eficientes e realistas para aproveitar o momento inusitado do turismo doméstico. Somente assim será possível transformar a exploração dos potenciais turísticos em desenvolvimento real da economia, com oportunidades para empreendedores e geração de empregos. Este é o momento apropriado para as estâncias turísticas da RMS -- Ibiúna, Itu, Salto e São Roque --, para os Municípios de Interesse Turístico (MITs) -- Araçoiaba da Serra, Boituva, Cesário Lange, Piedade, São Miguel Arcanjo, Tapiraí, Tatuí e Votorantim -- e também para os demais 15 municípios da RMS descobrirem os seus caminhos nesta vasta área. Do ecoturismo ao turismo de aventura, cada um tem a oportunidade de colher os frutos de sua localização privilegiada, de seus atrativos naturais e de suas atividades diferenciadas. Portanto, mãos à obra!