Buscar no Cruzeiro

Buscar

A prudência necessária

02 de Março de 2019 às 00:01

Os fatos têm demonstrado que o governador João Doria (PSDB) assumiu uma postura correta como governador do Estado de São Paulo ao adotar a política de afastar todo secretário ou auxiliar direto envolvido em denúncias de corrupção. No início de janeiro, alguns dias depois da posse, aceitou pedido de licença de Gilberto Kassab (PSD), poderoso secretário da Casa Civil de seu governo. Dias antes a Polícia Federal havia rastreado pagamentos de R$ 23 milhões da JBS a empresas ligadas ao ex-ministro Gilberto Kassab que acabava de assumir o cargo estratégico na articulação política no governo paulista. O valor de R$ 23 milhões apareceu em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) no inquérito que investiga repasses de R$ 58 milhões pelos irmãos Wesley e Joesley Batista ao PSD e a Kassab. A operação desencadeada pela PF tem como foco um esquema de recebimento de recursos ilícitos no período de 2010 a 2016. Um dos irmãos Batista informou em depoimento que pagou propina mensal de R$ 350 mil a uma empresa ligada a Kassab envolvendo contratos superfaturados de aluguel de caminhões. Segundo o delator, o valor total dessa operação atingiria R$ 30 milhões. Além disso, a PF investiga o pagamento de R$ 28 milhões ao diretório nacional do PSD que, segundo os delatores, teria como finalidade comprar o apoio da sigla em favor do PT. A residência de Kassab foi alvo de operação de busca e apreensão e na ocasião foram encontrados R$ 300 mil em dinheiro na casa do ex-ministro. Kassab insiste que o contrato foi firmado antes da empresa ter sido adquirida pela JBS e que todos os serviços contratados de locação de caminhões foram prestados.

Ontem, Gilberto Kassab, que também responde a processo por improbidade administrativa com bloqueio de R$ 21 milhões de suas contas bancárias, se tornou réu em outra ação por improbidade administrativa devido a supostas irregularidades na licitação e contratação de empresa para inspeção veicular no período em que foi prefeito de São Paulo, entre 2006 e 2013. A ação civil pública, que inclui outros 25 réus, foi proposta pelo Ministério Público do Estado de São Paulo e aceita no início do ano. Para o MP, agentes políticos agiram irregularmente ao renovar contrato da empresa que prestava serviços de inspeção veicular na cidade, em 2007. O então prefeito paulistano teria dado vantagens indevidas à empresa que não cumpria alguns requisitos básicos para a prestação do serviço.

Kassab não foi o único assessor do primeiro escalão de Doria a ser afastado. No dia 19 de fevereiro, o ex-senador e ex-ministro de Relações Exteriores de Temer, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), pediu demissão do cargo de presidente do Investe São Paulo, agência de fomento do Estado, após ter sido alvo de busca e apreensão pela Polícia Federal, na 60ª fase da Operação Lava Jato. Segundo investigação da PF, Aloysio teria recebido um cartão de crédito em dezembro de 2007 vinculado a contas do exterior mantidas por Paulo Vieira de Souza, ex-diretor da Dersa e acusado de ser o operador do PSDB. Em 2007 Nunes Ferreira era secretário da Casa Civil do governador José Serra (PSDB) e teria sido responsável pela indicação de Vieira de Souza para ocupar o cargo de direção na estatal paulista responsável por obras viárias, entre elas o Rodoanel. A Justiça da Suíça confirmou ter encontrado R$ 113 milhões em contas naquele país e relatos de delatores mencionam a existência de bunkers onde o operador guardaria mais de R$ 100 milhões em dinheiro vivo para beneficiar políticos a mando da Odebrecht.

A decisão do governador Doria em afastar auxiliares envolvidos em denúncias de corrupção é correta e evita inúmeros problemas. Imaginem os reflexos dessas denúncias no cotidiano da administração paulista se Kassab e Nunes Ferreira ainda estivessem nos seus cargos. Mesmo sendo acusados de supostos ilícitos antes de assumirem os atuais cargos, trariam a crise e denúncias para dentro do governo, com reflexos extremamente negativos. Vários governantes que tiveram problemas semelhantes em passado recente poderiam ter evitado muito desgaste político se tivessem agido da mesma maneira. Sem os compromissos governamentais e as obrigações dos cargos, agentes políticos afastados têm melhores condições de estruturar suas defesas, sem comprometer as ações do governo.