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A perder de vista

31 de Agosto de 2018 às 09:57

Depois de criar muita expectativa, uma vez que vem sendo elaborado desde 2013, foi anunciado na última quarta-feira pela Prefeitura de Sorocaba o Plano Municipal de Coleta Seletiva (PMCS), um levantamento minucioso das necessidades do município nessa área, elaborado por uma empresa de consultoria e financiado por recursos federais. São 700 páginas de informações técnicas sobre a necessidade da coleta seletiva e de destinação correta de resíduos sólidos. Mas se a população esperava a adoção imediata de medidas para a coleta domiciliar de produtos recicláveis ou a criação de pontos de descarte, vai ficar decepcionada.

O PMCS é um projeto que espera solucionar o problema com metas para os próximos 20 anos, nada que resolva os problemas ambientais nas próximas semanas ou meses. São 22 metas específicas, mas nenhuma realizável no curto prazo. Entre elas está a reorganização e otimização da coleta seletiva que deverá ocorrer dentro de três anos, se não forem registrados atrasos, ou seja, não acontecerá na atual administração. Outro item importante e que cidades que reciclam seu lixo têm, os chamados Pontos de Entrega Voluntária, onde o cidadão pode depositar o material reciclável já separado, deverão ser implantados dentro de quatro a nove anos. Se tudo correr como o planejado, estarão funcionando a partir de 2022.

É certo que um projeto mais elaborado e que busca alterar o sistema de coleta de lixo e criar o hábito de separação de recicláveis na população precisa ser bem detalhado, com prazos e metas. Mas o plano apresentado, ao que parece, necessita de implantação mais rápida. A coleta seletiva em Sorocaba está muito atrasada, um problema cuja solução vem sendo adiada pelos últimos prefeitos.

Temos hoje um sistema baseado em cooperativas de reciclagem que coleta uma parte muito pequena do lixo reciclável produzido pela cidade. A capacidade de reciclagem hoje é muito pequena e não comporta expansão imediata. Ao mesmo tempo em que a Prefeitura paga uma fortuna para o transporte, encaminhamento e acomodação do lixo doméstico em um aterro sanitário particular, localizado fora do município. Em abril deste ano, a Prefeitura prorrogou por mais um ano o contrato com a empresa que faz esse serviço para que as 490 toneladas de lixo doméstico produzido pela cidade diariamente seja depositado no aterro sanitário da empresa, localizado em Iperó. Uma coleta seletiva ampla e bem organizada diminuiria significativamente esse volume, com economia razoável de recursos, além dos ganhos ambientais.

Como se vê, o plano é visto como parte de um processo que tem por finalidade uma mudança gradual de atitudes e hábitos, com foco na separação e destinação final dos resíduos. A coleta de recicláveis hoje atinge somente 3% dos resíduos gerados pela cidade e a Prefeitura quer trabalhar para que dentro de um ano esse volume suba para 6%, um número ainda muito modesto.

O plano recebeu críticas da representante do Centro de Estudos e Apoio ao Desenvolvimento, Emprego e Cidadania de Sorocaba e Região (Ceadec), que representa as cooperativas de reciclagem, pois teria faltado uma ampla discussão sobre o assunto e não há explicações objetivas de como o modelo proposto vai sair do papel.

Ao mesmo tempo em que esse plano é apresentado e os últimos três ecopontos da cidade de um total de 22 são desativados, deixando o município sujeito ao surgimento de lixões em terrenos baldios e áreas públicas, locais ideais para a rápida proliferação do Aedes aegypti, a Câmara de Sorocaba vota um projeto que proíbe a utilização de canudinhos de plástico em restaurantes, lanchonetes e similares. Os canudinhos são apontados como causadores de poluição marinha, mas é sempre útil observar que não chegariam aos rios e oceanos se fossem corretamente descartados. Um bom programa de educação ambiental obrigatório nas escolas talvez surtisse melhor efeito, pois assim diminuiria a poluição causada por sacos plásticos, copos, garrafas pet e tantos outros objetos construídos com o mesmo material. O caminho para um mundo com menos plástico jogado na natureza passa pela educação e não pela proibição.