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A pandemia e o rio

24 de Setembro de 2020 às 00:01

Em meio a uma série notícias desagradáveis relacionadas ao meio ambiente -- queimadas no Pantanal, no Centro-oeste e na Amazônia, retorno das manchas de óleo no litoral -- uma reportagem veiculada em diversas publicações, inclusive no Cruzeiro do Sul, mostra que o rio Tietê, o curso d’água que corta todo o Estado de São Paulo em direção ao interior, acusou melhora em muitos de seus trechos durante alguns meses deste ano, resultado indireto da pandemia e da quarentena, segundo especialistas em meio ambiente.

O fato foi detectado nas pesquisas de campo periódicas realizadas pela SOS Mata Atlântica e foi amplamente divulgado.

O que os especialistas perceberam após analisar a qualidade da água do rio Tietê nos últimos meses é que a mancha de poluição pesada do rio chegou a 150 quilômetros de extensão a partir da capital paulista.

O rio Tietê nasce na região se Salesópolis, a apenas 22 km do litoral, mas na Serra do Mar, a 1.120 de altitude, de onde inicia um percurso de mais de 1.100 km cruzando todo o Estado de lesta a oeste, até atingir o rio Paraná, na divisa com o Mato Grosso do Sul.

Ao atravessar a Região Metropolitana de São Paulo, ele recebe uma carga gigantesca de poluição que só é eliminada muitos quilômetros a jusante.

A entidade monitora a qualidade da água do rio colhendo amostras em 83 pontos diferentes. O resultado, analisado por especialistas, traz alguns dados importantes.

Eles perceberam, por exemplo, que mesmo nos locais mais poluídos, pela primeira vez desde 2010, não foram registrados trechos com água de péssima qualidade, um fato comum em levantamentos dos anos anteriores.

Foi notada também mais estabilidade na qualidade da água captada nos pontos monitorados em relação às amostras de 2019.

O trabalho de monitoramento realizado pela entidade começou em 2010 e abrange 576 quilômetros do rio Tietê, desde o município de Salesópolis, onde estão suas nascentes, até a eclusa de Barra Bonita, na hidrovia Tietê Paraná.

Os 150 quilômetros de mancha de poluição equivalem a 26,5% da extensão monitorada do rio. Água boa e regular, que permite abastecimento público, abastecimento público, produção de alimentos e uso para atividades esportivas e de lazer, foi encontrada em 382 quilômetros do rio, o que representa mais de 66% desse trecho monitorado.

Ao analisar os dados recolhidos pelos voluntários nos 83 pontos distribuídos em 47 rios da bacia do Tietê em 38 municípios, constatou-se que as mudanças de comportamento da sociedade por conta da pandemia da Covid-19 contribuíram pela redução da poluição do Tietê.

O fator mais importante seria a diminuição da quantidade do lixo nas ruas. Com a maioria das pessoas fechadas em casa, houve menor descarte irregular de lixo que fatalmente acabaria chegando nos cursos d’água.

Também diminuiu a fuligem provocada pelos automóveis que circularam em menor número nos meses de março, abril e maio.

A mancha de poluição medida desta vez não foi contínua nos 150 km e houve interferência da transferência de lodo e poluentes após operações em barragens do Sistema Alto Tietê, criado para controle de cheias.

Não fosse isso, a mancha de poluição seria a menor obtida na série histórica.

É importante constatar que o comportamento humano, mesmo que involuntário, influencia na qualidade da água dos rios.

Se as pessoas se conscientizassem que aquele lixo jogado na rua ou aquela garrafa pet abandonada na calçada irão parar no rio e prejudicar a todos, o combate à poluição seria mais fácil.

Aos sorocabanos essa questão comportamental é fundamental pois dentro de algumas semanas a cidade começará a ser abastecida, ao menos em parte, por água coletada diretamente do rio Sorocaba.

O rio passou por um longo -- e caro -- processo de despoluição, mas é preciso manter essa qualidade da água para que ela possa abastecer a cidade.

A Prefeitura e o Saae necessitam manter um trabalho constante de ampliação da rede de esgoto, acompanhando o crescimento da cidade e fiscalizar com rigor o despejo clandestino de esgoto, principalmente em áreas invadidas ou loteamentos clandestinos.

Sem um controle rigoroso o trabalho de anos e investimentos milionários poderão ser prejudicados.

À população cabe evitar jogar lixo na rua, descartar entulho ou qualquer coisa nas margens do rio e, principalmente, denunciar qualquer tipo de despejo de esgoto ou poluentes sem tratamento em córregos ou mesmo no rio.

Só assim garantiremos um rio limpo e água com qualidade para abastecimento nos próximos anos.