A marca da rosa
Reportagem publicada por este jornal no Caderno Mix, pela repórter Larissa Pessoa, no último sábado, nos informa que, de janeiro a setembro deste ano, a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) do município registrou 904 boletins de ocorrência sobre violência doméstica, uma média de 100 ocorrências por mês. Mas o número real certamente é bem maior por um mal explicado problema burocrático da Polícia Civil em Sorocaba. Isto porque a delegacia especializada não funciona no período noturno, nem nos finais de semana e feriados. Dessa forma, crimes cometidos contra mulheres fora do horário comercial são registrados nos plantões policiais e mais tarde enviados para a DDM, mas não entram, sabe-se lá por qual motivo, nas estatísticas do órgão especializado.
Mesmo assim, os números são assustadores. Nos boletins elaborados pela DDM nos primeiros nove meses deste ano há predominância de casos em que ocorreram lesões corporais e violência sexual. E no total, foram distribuídos 714 inquéritos que se enquadram na Lei Maria da Penha. Outra dificuldade para quantificar os casos de violência contra a mulher está na contagem dos feminicídios. A Secretaria de Segurança Pública disponibiliza as informações por meio do Portal da Transparência, mas para separar esses casos dos demais homicídios praticados nessa enorme região é preciso abrir eletronicamente todos os BOs para identificar o crime.
Ao quadro de horrores que são as agressões contra as mulheres se juntam as informações sobre os atendimentos realizados pelo Centro de Referência da Mulher (Cerem), que atende gratuitamente mulheres em situação de vulnerabilidade. De acordo com o Cerem, somente neste ano 383 mulheres foram recebidas pela entidade, gerando mais de 2 mil atendimentos entre acompanhamento psicológico e de assistência social. Dos casos atendidos nesse serviço, um terço das vítimas relatam agressões psicológicas e 20% denunciam agressões físicas.
As informações coletadas tanto pela polícia como pelas entidades que socorrem as mulheres vulneráveis mostram que a violência contra a mulher não ocorre apenas nas famílias mais carentes. Pelo contrário, mostram que as agressões são muitas vezes nos lares mais improváveis. As estatísticas mostram que mais de 25% dos homens agressores têm ensino médio completo e quase 15% dos denunciados têm ensino superior ou técnico completos.
A Lei Maria da Penha, importante ferramenta jurídica de proteção às mulheres, já completou 12 anos, com importantes serviços prestados à população. E Sorocaba tem uma posição privilegiada com relação a esse assunto. Além de ter uma delegacia especializada para atender mulheres, têm também o aplicativo conhecido como botão do pânico, ferramenta que garante o cumprimento de medidas protetivas. De fevereiro a setembro deste ano, o botão já foi acionado 50 vezes, o que garantiu proteção policial para as mulheres em situação de risco.
Além de medidas práticas que possam evitar casos de violência, a redução da agressão contra as mulheres passa por um amplo trabalho educativo, como, por exemplo, incluir nos currículos escolares tópicos ou disciplina que trabalhem direitos humanos, igualdade de gênero, violência de gênero e discriminação contra as mulheres. Ou ainda por iniciativas como a da jovem estudante identificada na reportagem como “Maria”, de 17 anos, que criou um projeto -- A Marca da Rosa -- que pretende, por meio de fotos, música e dança, debater relacionamentos abusivos. O lançamento da ação está marcado para esta noite, no Barracão Cultural localizado ao lado da Estação Ferroviária. Com apoio da Coordenadoria da Mulher da Secretaria da Cidadania e Participação Popular de Sorocaba, também serão promovidas rodas de conversa em 53 escolas com alunos do ensino médio e em outras nove escolas com alunos do 9º ano do ensino fundamental. A exposição de fotos é itinerante e percorrerá shopping centers e locais públicos. O debate em ambiente escolar, envolvendo estudantes e professores de dezenas de escolas, é uma iniciativa importante pois levará essa questão delicada a jovens e adolescentes que começam a ter suas primeiras relações amorosas. E nada melhor que começar a vida amorosa tendo noção de como é um relacionamento saudável.