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A ineficiência dos Correios

17 de Setembro de 2020 às 00:01

Há exatamente um mês os funcionários dos Correios iniciaram mais uma greve em nível nacional e, entre outras reivindicações, pedem o restabelecimento de um acordo coletivo que teria vigência até 2021 e que não estaria sendo cumprido pela estatal.

Com um serviço deficiente e desprestigiado, a ponto de a população não saber se os funcionários estão em greve ou não, tal a irregularidade da entrega de correspondências, a greve parcial já ultrapassou um mês atrapalhando a vida de milhões de pessoas que estão com correspondências e mercadorias compradas pela internet presas nos depósitos da empresa.

O acúmulo de encomendas é tão grande que tornaram alguns depósitos, inclusive de Sorocaba, intransitáveis e sem qualquer previsão para a regularização das entregas.

Quando os Correios deixam de cumprir prazos de entrega, tem que indenizar o usuário gerando ainda mais prejuízo e quem paga parte dessa conta somos nós, os contribuintes.

A última informação oficial é que os Correios aguardam decisão judicial sobre a greve para normalizar as atividades e para a ação de dissídio coletivo que está marcado para a próxima segunda-feira, dia 21.

A greve nunca foi total entre os funcionários, como podem perceber os usuários que, vez ou outra, ainda recebem alguma correspondência.

Ocorre que como a estatal tem garantido por lei o monopólio para entrega de correspondências pessoais e comerciais, além de emissão de selos, deveria haver mecanismos que impedissem sua paralisação total, como no transporte público, uma vez que não há alternativa para o fluxo de correspondências entre os cidadãos.

A paralisação mesmo que parcial dos funcionários -- o suficiente para atrapalhar milhões de empresas e cidadãos -- acontece em um momento absolutamente inoportuno e pode representar um tiro no pé dos grevistas e defensores da estatal.

Em primeiro lugar ela acontece durante a pandemia do novo coronavírus em que no mundo inteiro se registra uma explosão do e-commerce, modalidade em que a entrega em domicílio é um dos pilares do negócio.

Como a entrega de encomendas e mercadorias não é exclusividade dos Correios, a greve abre uma enorme brecha que é rapidamente preenchida por empresas concorrentes, justamente na parte mais lucrativa do negócio, com possibilidade de crescimento ainda muito forte nos próximos anos.

A irregularidade no serviço dos Correios tem levado muitas empresas de vendas on-line a adaptarem seus sistemas de logística para atender a clientela.

O Mercado Livre, uma das potências nesse setor, por exemplo, orienta seus compradores a optarem por ofertas sinalizadas como “Entregando Normalmente”, o que significa que a entrega será feita por empresas privadas de logística que crescem e se multiplicam pelo País.

Outro fator que mostra a falta de visão dos grevistas é que ela acontece no momento que o Ministério da Economia está enviando ao Congresso Nacional, trabalho elaborado pelo Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) para acabar com o monopólio dos Correios nos serviços postais.

A ideia do governo é encaminhar uma regulamentação ao Legislativo que permita a prestação desses serviços por empresas privadas. Os Correios, como se sabe, está na lista das empresas estatais a serem privatizadas.

O Ministério da Economia, sem meias palavras, aponta os motivos: ineficiência, corrupção, interferências políticas na gestão da empresa, greves constantes e perda do mercado para empresas particulares na entrega de mercadorias compradas pela internet.

Os Correios, que tem sua origem no período Colonial, teve altos e baixos em sua longa história, mas até há alguns anos, era sinônimo de eficiência e bons serviços prestados à população.

Postava-se uma correspondência com a certeza de que chegaria no destinatário, qualquer que fosse o município brasileiro. Essa, por sinal, talvez seja a característica mais marcante da empresa: sua capilaridade.

É a única que tem representantes em todos os municípios brasileiros. Em outras palavras, é a única instituição presente em todos os 5.570 municípios do Brasil. Calcula-se que em 60% deles seja o único representante do poder público federal.

Essa estrutura, criada ao longo de décadas, que garante a presença nos confins da Amazônia ou nas pequenas comunidades dos pampas gaúchos, por exemplo, é um patrimônio da empresa e precisará ser bem analisada em caso de privatização, alertam os especialistas.

Empresas especializadas em encomendas e que crescem rapidamente em todo o País não têm essa estrutura. Implantá-la exige grandes investimentos e por isso acabam recorrendo aos próprios Correios para fazer entregas em determinadas regiões.

Fato é que algo precisa ser feito. O serviço apresentado pelos Correios há muito é precário, prejudica a população. Precisa ganhar eficiência e pontualidade. Do jeito que está, não pode continuar.