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A guarita da discórdia

30 de Novembro de 2019 às 00:01

Foi demolida na última quinta-feira a guarita construída praticamente em frente da Catedral Metropolitana de Sorocaba, na praça Coronel Fernando Prestes, que serviu durante alguns meses como posto fixo da Guarda Civil Municipal (GCM) para supostamente combater a criminalidade no ponto mais central da cidade. A bizarra construção veio abaixo ao final de um trabalho de revitalização daquela praça da cidade. Agora a GCM passa adotar um novo tipo de policiamento na região, com patrulhamento móvel apoiado por videomonitoramento.

A guarita da discórdia foi construída por determinação do prefeito cassado José Crespo (DEM) nos primeiros dias deste ano. O então chefe do Executivo não consultou o Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico e Paisagístico de Sorocaba (CMPD) e ignorou o que determina a resolução de tombamento que protege o patrimônio histórico, pois construiu o quartinho a poucos metros da entrada da Catedral de Sorocaba, prédio tombado pelo patrimônio histórico em grau de preservação 1, o que impede construções em seu entorno. Na avaliação do CMPD, a obra descumpriu uma série de procedimentos que deveriam ter sido adotados no planejamento da construção, como a consulta ao Conselho. A construção da guarita teve repercussão negativa também na Arquidiocese de Sorocaba. O padre Tadeu Rocha Moraes, pároco da Catedral, viu a construção com muita restrição. Ele lembrou que o local da construção era totalmente errado, pois estava a menos de 10 metros da fachada principal da Catedral, que é um patrimônio tombado, um monumento, um referencial de urbanismo. Achou a construção daquela guarita na praça lamentável sob vários aspectos. Sob o aspecto político houve desconsideração dos organismos da sociedade civil e sob o aspecto legal o desrespeito às normas relacionadas ao patrimônio histórico.

Além das severas críticas que a construção recebeu, principalmente pela sua localização, há ainda a questão operacional da pequena base, um conceito pouco utilizado ultimamente, a não ser em casos muito específicos. A justificativa da Prefeitura para construir a guarita era levar segurança para a região central da cidade, motivo de reclamação de moradores e principalmente comerciantes incomodados com casos de furto, mendicância e prostituição. Colocar uma guarita na praça central que seria ocupada durante parte do dia por guardas municipais, como se previa, não eliminou a criminalidade. O que se viu, durante muito tempo, foi a guarita funcionando com uma viatura da GCM estacionada ao lado.

Quando a guarita começou a ser construída, muitas pessoas se manifestaram contra o projeto sugerindo a utilização de uma base móvel, uma espécie de van. Entre os que manifestaram essa opinião está o presidente da Associação Comercial de Sorocaba, Sergio Reze. Para ele, a unidade móvel faria o mesmo papel da guarita sem interferir na arquitetura da área. Pois foi essa a solução encontrada agora pela GCM para o policiamento na região central. Segundo o que informa a Prefeitura, será retomado o policiamento móvel da corporação, com uso de viaturas, reforçado por um sistema de videomonitoramento, um tipo mais atualizado de policiamento. Também será utilizado um ônibus da GCM equipado para funcionar como base móvel que ficará permanentemente na região. O novo tipo de policiamento que será estabelecido certamente permitirá intervenções e ações mais rápidas da GCM quando for necessário.

A construção do pequeno posto, além da desaprovação de muita gente, teve repercussões mais sérias. O Ministério Público do Estado de São Paulo abriu um inquérito para investigar a sua instalação. No documento, o promotor encarregado do caso lembrou que o local é tombado pelo patrimônio histórico com grau de preservação 1 (GP1), o que inclui o seu entorno, além de destacar seu valor histórico e sua importância para a memória da população. A construção também foi alvo de uma representação de uma vereadora e de um inquérito aberto pela Polícia Civil.

Neste sábado a prefeita inaugura a revitalização da praça Coronel Fernando Prestes para a implantação da decoração de Natal. Foram realizados serviços de paisagismo, limpeza e recuperação de monumentos. A guarita polêmica, praticamente um símbolo da administração Crespo, não está mais lá. Foi demolida e em seu lugar foram colocados alguns vasos de flores. Ficará a lembrança de uma obra de mau gosto, de localização imprópria e de utilidade questionável.