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A frota que cresce

19 de Setembro de 2019 às 00:01

Levantamento divulgado pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran-SP) mostra que a frota de Sorocaba atingiu em junho passado 492.317 veículos, um crescimento de 3% em relação a junho de 2018. Ou seja, em um período de um ano, mais de 14 mil veículos passaram a circular pelas ruas da cidade.

O surpreendente é que, com uma população estimada de 679.387, segundo projeção divulgada em agosto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade atingiu uma proporção entre veículos/habitantes próxima a países desenvolvidos: são 1,38 habitante por veículo.

Proporção semelhante só é encontrada nos Estados Unidos, onde existe 1,2 habitante por veículo e Alemanha (1,7). A proporção de carros por habitante em Sorocaba destoa do restante do Brasil, onde a média é de cerca de 4,7 habitantes por veículo.

Ou seja, a frota local está crescendo mais rápido que a população, mesmo se considerarmos dados do próprio IBGE para o aumento do número de veículos, que aponta um crescimento menor da frota, de 11 mil veículos.

E a cidade não está preparada para tamanha quantidade de carros. Tem um traçado antigo, em sua região central são ruas estreitas e os investimentos em obras viárias nunca acompanham o crescimento da frota. E esse conjunto de fatores explica o trânsito cada vez mais caótico em determinadas vias da cidade e a necessidade urgente de transporte coletivo mais atraente para incentivar os proprietários a deixarem seus veículos em casa.

O aumento ininterrupto da frota exige uma adaptação constante de suas ruas e avenidas, o que nem sempre tem sido possível. Sorocaba enfrenta neste momento problemas decorrentes da implantação do sistema BRT (Bus Rapid Transit) que promete melhorar o trânsito ao oferecer mais conforto aos usuários do transporte coletivo.

É uma alternativa que tem dado bons resultados nos municípios em que vem sendo aplicada, mas apenas esse sistema não basta. A cidade precisa pensar também em ampliar áreas de estacionamento no Centro e nos bairros. A Zona Azul melhorou bastante nos últimos dois anos, mas ainda é acanhadíssima, com um número muito limitado de vagas.

A recuperação econômica do país, embora ainda lenta, reflete na produção de veículos e a indústria automobilística vai aos poucos saindo da crise iniciada em 2014. A expectativa da Associação Nacional de Veículos Automotores (Anfavea) é de que perto de 3 milhões de unidades sejam produzidas no país este ano.

E essa retomada é importante, pois a cadeia produtiva desse tipo de indústria é ampla. Para cada emprego direto criado por uma montadora outros cinco empregos são criados pelos fornecedores e prestadores de serviços.

Mas analistas de comportamento e economistas enxergam mudanças no horizonte que podem alterar os conceitos atuais de mobilidade. Pesquisas mostram que uma parcela cada vez maior de jovens brasileiros -- seguindo o que já acontece em outros países -- não tem tanto interesse em adquirir um carro próprio como acontecia com gerações anteriores.

O uso de carros compartilhados e os aplicativos de transporte têm levado muitos jovens, principalmente dos grandes centros, a abrir mão de ter um carro próprio. Uma pesquisa elaborada em 17 países mostra que 62% dos jovens das gerações Y e Z, que utilizam serviços compartilhados, consideram dispensável a compra de um veículo no futuro.

Essa tendência começa a ser sentida no Brasil. Um instituto de pesquisa usando dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) mostra que o número de emissões de carteiras de habilitação vem caindo. Em 2014 foram 494,6 mil emitidas para a faixa de 18 a 25 anos. Três anos depois esse número baixou para 381,7 mil.

Sabe-se hoje que o desinteresse entre os jovens pelos automóveis só aumenta, embora no Brasil ainda pese o custo de tirar uma carteira de habilitação.

Essas mudanças de comportamento já estão em andamento. Saber se elas serão fortes o suficiente para afetar o trânsito e diminuir o número de veículos circulando nos grandes centros já é outra história.