Buscar no Cruzeiro

Buscar

A força do agronegócio

09 de Julho de 2020 às 00:01

A pandemia causada pelo novo coronavírus, além de provocar a maior crise sanitária das últimas décadas, direciona a economia de praticamente todos os países para a crise, que será mais forte ou mais fraca dependendo da saúde de cada economia nacional. No Brasil -- assunto comentado à exaustão neste espaço -- a crise é grande sobretudo devido à política nem sempre bem definida do isolamento social, que tem prejudicado praticamente todas as atividades econômicas. Pequenos comerciantes, autônomos e prestadores de serviços encabeçam a lista dos mais prejudicados.

Uma visão macro, levando em conta todas as regiões do Brasil, entretanto, mostra que a crise atingiu os Estados de maneira desigual. Dados do Banco Central mostram que nos meses de março e abril, quando ocorreu o primeiro impacto da política de isolamento social, a atividade econômica como um todo teve uma retração de 15,29%. O Estado do Amazonas apresentou queda de 21,44% enquanto no Ceará, para dar dois exemplos, foi de 15,89%. A maioria dos Estados registrou retração significativa, mas as unidades da federação onde o agronegócio é a base da economia, a queda foi bem menor. Entre as regiões do País, a Centro-Oeste é a que teve melhor desempenho durante esse período turbulento, com apenas 6,16% de retração da atividade nos meses de março e abril. Não por acaso essa é a região que mais produz soja e carne, dois produtos cujas vendas cresceram durante a pandemia, puxadas, principalmente, pelo imenso mercado chinês. Até o Pará, na região Norte, segurou a retração tendo por base a produção de soja do sul do Estado. A economia do Pará sofreu a retração de 5,22% nesses dois meses, enquanto no vizinho Amazonas a retração ultrapassou 21%. Isso ocorreu porque a base da economia do Amazonas é a Zona Franca e, com a pandemia, a maioria das fábricas do polo industrial fechou ou reduziu drasticamente as atividades.

Em entrevista recente, a ministra da Agricultura Tereza Cristina comentou que o setor agropecuário, de uma maneira geral, cresceu durante o período da pandemia. O Brasil, segundo ela, está cada vez mais sendo procurado para suprir o mundo de alimentos, inclusive para alguns produtos que antes não faziam parte das nossas exportações. Ela lembra que a pandemia trouxe o medo do desabastecimento e isso mexeu com as pessoas que se sensibilizaram para a importância de ter um País bem abastecido, pois somos autossuficientes em quase tudo.

A titular da Agricultura informa que com a pandemia, as exigências dos mercados internacionais estão cada vez maiores, embora o Brasil já tenha desenvolvido padrões muito elevados. Além disso, não existe nenhuma informação que exista coronavírus em alimentos. O Brasil, diz ela, segue os mais rígidos protocolos e regras sanitárias. Como prova de que o agronegócio está segurando os índices da economia brasileira o Ministério da Agricultura informa que nos cinco primeiros meses de 2020 as exportações do setor somaram 42 bilhões de dólares, 7,9% a mais em relação ao mesmo período do ano anterior. Esse crescimento foi puxado, principalmente, pelas exportações de soja e carne bovina para a China, país que adquiriu neste ano 73% da soja em grãos exportada pelo Brasil.

Mas apesar de todas as mazelas provocadas pela pandemia, todas as regiões do País mostraram recuperação no ritmo de vendas no mês passado. Em maio começaram a surgir melhoras, mas que não atingiram todas as regiões. Levantamento da Receita Federal mostra essa recuperação pelo volume de notas fiscais eletrônicas. E já é possível perceber que o fundo do poço da atividade econômica foi o mês de abril.

E há uma explicação para essa reação do mercado. Segundo fonte da Confederação Nacional do Comércio (CNC), as vendas de produtos começaram a melhorar após o mês de abril, quando o auxílio emergencial criado pelo governo começou a chegar na mão dos beneficiados. As vendas nos Estados do Sudeste, por exemplo, que caíram fortemente no mês de abril, tiveram uma pequena melhora no mês de maio e uma recuperação bastante razoável em junho. A média diária de vendas nesses Estados -- os mais populosos do País -- cresceram 17% em relação ao mês anterior. Mas o que realmente surpreendeu os pesquisadores foi a reação das vendas na região Centro-Oeste, onde a média diária de vendas, com exceção do mês de maio, é superior ao do ano passado. Em junho, o valor das vendas foi de 40,7% maior que junho de 2019. E a explicação está no agronegócio, um setor que, como se viu, foi pouco afetado pela pandemia e agora acelera o ritmo da recuperação.