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A farra das obras paradas

14 de Agosto de 2018 às 17:43

O Cruzeiro do Sul publicou na edição deste domingo uma ampla reportagem do jornalista Marcel Scinocca (Obras inacabadas na região somam R$ 69 mi, págs. A6 e A7, 12/8) que revela uma situação quase inacreditável. São inúmeras obras inacabadas ou abandonadas espalhadas por 11 municípios da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), a mesma região que não tem recursos para oferecer um serviço de saúde digno aos seus cidadãos, há falhas na educação pública e faltam creches, para citar apenas algumas carências regionais.

No levantamento realizado pela reportagem há de tudo, de conjuntos habitacionais com obras paradas, Oficina do Saber, posto de informações para turistas, prédios de Câmara Municipal, passarelas, escolas, avenidas. Uma amostra de como se pode desperdiçar dinheiro dos impostos sem oferecer nada em troca à população. Em Iperó, como constatou a reportagem, há um conjunto habitacional financiado pelo programa Casa Paulista que já deveria ter sido entregue. A construção de 38 casas começou em 2014 e deveria estar concluída em um ano. Algumas casas chegaram a ser levantadas, mas nenhuma até agora foi totalmente concluída. Em Sorocaba, além de um prédio da Casa do Turista, está também paralisada a construção de uma Oficina do Saber na zona norte. O prédio foi construído sobre um antigo lixão clandestino e há necessidade de monitoramento ambiental do local.

Em Tietê, cidade do presidente Michel Temer, o projeto de construção de uma passarela pênsil com mais de 90 metros de extensão, é um elefante branco, sem prazo para ser concluída. Boituva, como destacou a reportagem, é o município com maior número de obras paralisadas. Estão nessa situação a construção do futuro fórum da cidade, uma escola estadual, um complexo esportivo e uma avenida.

Em Votorantim está atrasada a construção de um ginásio poliesportivo e também a obra de contenção de enchentes que beneficiará alguns bairros da cidade. Em Mairinque a população reclama da interrupção da pavimentação de ruas e, em Tatuí, uma praça prometida há um bom tempo também não foi terminada. A reclamação dos moradores de Salto de Pirapora é sobre a construção de um conjunto habitacional de médio porte, com 243 unidades, que está fora do prazo, depois de ter ficado parada por dois anos.

Há ainda algumas obras curiosas como a implantação do trem turístico entre Salto e Itu, o chamado Trem Republicano, um projeto lançado há dez anos e a interminável duplicação da rodovia SP-79 entre Sorocaba e Itu. Iniciada em 2012, a duplicação encontrou problemas com desapropriações. A previsão era de que a duplicação estivesse concluída em 2014, mas passados quatro anos, ainda tem muitos problemas. Há terrenos não desapropriados em trechos de Sorocaba e Itu e só existem as fundações de um pontilhão nas proximidades desta última cidade. Faltam várias passarelas e obras de arte para concluir a obra, além da duplicação das pistas em áreas onde as desapropriações ainda não ocorreram.

A reportagem sobre essas obras inacabadas, um verdadeiro sorvedouro de recursos públicos, foi publicada duas semanas depois de uma outra sobre obras paradas ou abandonadas destinadas a instalações do sistema de saúde pública. São inúmeras Unidades Básicas de Saúde, Unidades de Pronto-Atendimento com obras paradas ou mesmo concluídas, mas que não entraram em funcionamento por falta de recursos das prefeituras.

O número de obras abandonadas ou inacabadas na região tem proporções preocupantes. Pelos cálculos da reportagem, são quase R$ 70 milhões investidos nas obras enfocadas no último domingo, um volume de recursos mais que suficiente para merecer atenção do Ministério Público e do Poder Legislativo. É preciso investigar o que há por trás desse festival de obras incompletas. Elas consumiram recursos importantes de uma região carente. Paradas como estão, acabam se deteriorando e trazendo ainda mais prejuízos, sem qualquer utilidade.