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A epidemia anunciada

28 de Janeiro de 2020 às 00:01

Os casos de dengue em Sorocaba praticamente dobraram em uma semana e até quinta-feira da semana passada 47 casos foram confirmados pela Secretaria de Saúde (SES) do município, um número preocupante diante do avanço da doença em todo o Estado de São Paulo.

Há igual número de notificações da doença em investigação. No ano passado a SES confirmou 1.097 casos de dengue na cidade, ante 48 casos em 2018. O alerta sobre uma nova epidemia da doença já foi dado e desta vez está em circulação o sorotipo 2 da doença, que praticamente não havia circulado pela cidade, nem durante a grande epidemia da doença em 2015, quando prevaleceu o sorotipo 1.

Mesmo diante da proximidade de uma epidemia e dos insistentes apelos e ações da Secretaria da Saúde de Sorocaba para alertar a população sobre a proliferação da doença, parece que não convence a população de algumas regiões da cidade que não tem dado a devida importância ao combate aos criadouros.

Na semana passada a Divisão de Vigilância Epidemiológica e Zoonoses da SES informou que suas equipes de campo continuam encontrando muitos imóveis com larvas do Aedes aegypti, o transmissor da dengue e outras doenças como a zika e chikungunya.

Os funcionários encontraram 122 imóveis com larvas do mosquito próximos a pacientes positivos para a doença, ou seja, focos potenciais para espalhar e ampliar os casos da doença. Foram encontrados ainda mais de mil recipientes com água em imóveis, locais apropriados para novos criadouros.

Chamou à atenção a situação do bairro Luciana Maria, onde 14 imóveis tinham larvas do mosquito em um raio inferior a 150 metros de um caso positivo de dengue. Na Vila Angélica foi encontrada situação semelhante, dez residências com larvas foram localizadas próximas da casa de outro paciente positivo. No Parque São Bento a situação se repetiu, 15 casas com larvas muito próximas à moradia de uma pessoa com dengue.

As equipes encontraram ainda larvas em residência de uma pessoa com dengue, uma situação extremamente perigosa para espalhar a doença. Segundo os responsáveis por esse trabalho de campo, os criadouros mais preocupantes foram encontrados no Jardim Pacaembu, onde foram localizados 18 imóveis com larvas ao redor de dois casos positivos de dengue e na Vila Hortência, onde foram encontrados 36 criadouros com larvas em 13 moradias.

Além do descaso de parte da população em combater criadouros do mosquito, a Prefeitura tem enfrentado ainda problemas pontuais que dificultam o combate ao Aedes aegypti. Há oito meses o Ministério da Saúde (MS) não distribui para a Prefeitura de Sorocaba o inseticida Malathion, usado no combate ao mosquito.

A falta do inseticida atinge praticamente todos os Estados e a previsão é que o produto só será reposto em fevereiro. O MS informou que a partir do mês que vem distribuirá 139 mil litros do inseticida para os Estados, mas não informou a razão do atraso e muito menos apresentou uma solução alternativa para combater o mosquito.

O inseticida é utilizado para eliminar a fase adulta do mosquito por meio de nebulização com equipamento acoplado a veículos, conhecidos como “carros do fumacê”. Essa nebulização deve ocorrer somente em ações ao redor de casos positivos de dengue ou aglomerados de casos. Sem o veneno não é possível eliminar as fêmeas infectadas com vírus. Para contornar a falta de inseticida, a SES tem intensificado as ações de bloqueios aos sábados, além da contratação de um terceiro caminhão para atuar na remoção de criadouros de mosquitos na cidade.

Em 2019 a SES removeu 585 toneladas de criadouros do mosquito nos bairros da cidade e realizou 551 mil visitas a imóveis para tentar localizar locais com água parada. É um trabalho coordenado de grande envergadura que só dará resultados positivos se houver efetiva cooperação da população, que infelizmente, parece não estar ocorrendo.

É difícil entender qual a grande dificuldade que parte da população tem em manter lixeiras tampadas e com os sacos plásticos bem fechados, manter garrafas, pneus e frascos em geral em local coberto, longe da chuva. Também não é difícil manter as caixas d’água fechadas e eliminar pratos de apoio a vasos de plantas ou xaxins, dentro ou fora de casa, pois são os criadouros preferidos do mosquito.

São operações simples, mas que podem evitar uma nova epidemia. Sem a colaboração da população na eliminação dos criadouros de nada adiantará o esforço da Secretaria da Saúde e outros setores da Prefeitura. A repetição ou não de uma epidemia de dengue este ano depende mais do que nunca da população.