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A dinâmica da pandemia

01 de Julho de 2020 às 00:01

No dia 22 de junho, o governo do Estado de São Paulo informou oficialmente que a pandemia causada pelo novo coronavírus, que já avançava com velocidade pelo interior, pela primeira vez havia superado a Região Metropolitana de São Paulo nas novas notificações da doença.

O primeiro caso de coronavírus identificado no Brasil ocorreu em São Paulo e a capital do Estado passou a ser o epicentro da pandemia no País, espalhando-se, num primeiro momento, para as cidades da Grande São Paulo. A partir daí começaram a surgir casos confirmados em vários Estados, mas a quantidade de doentes e, consequentemente de mortes, na cidade de São Paulo sempre assustaram.

Governo estadual e prefeitura se uniram em um esforço comum e além das medidas de isolamento social, foram criados dispositivos para combater a pandemia, como hospitais de campanha ocupando grandes espaços no Estádio do Pacaembu, inaugurado dia 6 de abril, e no Parque Anhembi, uma gigantesca área de exposições localizada na zona norte da cidade.

Com o aumento dos casos da doença no interior, o governo passou a olhar com maior atenção para os municípios com grande número de doentes e sugeriu o recrudescimento da quarentena, inclusive com o recuo de faixas em várias regiões, para fazer frente ao avanço da doença.

A taxa de ocupação hospitalar aumentou consideravelmente em algumas regiões do Estado, como a de Sorocaba, comprovando a interiorização da epidemia. O número de casos confirmados tem assustado a população em algumas cidades.

Na última segunda-feira, por exemplo, Sorocaba registrou a confirmação de mais de 800 casos em 24 horas, mas esse alto número estava relacionado com a grande quantidade de testes realizados em guardas municipais e agentes de fiscalização do município e também dos resultados acumulados de testes realizados em clínicas particulares e farmácias, que obrigatoriamente têm que ser encaminhados para a Secretaria da Saúde.

As cidades do interior do Estado, inclusive as que pertencem à Região Metropolitana de Sorocaba, não têm se destacado pelo cumprimento do distanciamento social imposto pelo governo. Os municípios nunca chegaram ao índice de 70%, mesmo no início da pandemia e nos finais de semana, o que de certa forma explicaria o aumento do número de casos.

Alguns prefeitos, inclusive de nossa região, estão resistindo ao retrocesso de faixas de isolamento, que prevê o funcionamento apenas dos serviços essenciais, o que é muito negativo neste momento de avanço da Covid-19 pelo interior. Se há interesse político nessas demonstrações de rebeldia fora de hora, o resultado pode ser diferente do esperado.

Uma pesquisa realizada pelo Datafolha mostra que a maioria dos brasileiros acredita que prefeitos e governadores agem de maneira errada ao reabrir o comércio e serviços fechados pela pandemia. A reabertura ocorre muitas vezes em regiões que ainda não atingiram o pico da doença.

E por esses motivos, a mesma pesquisa revela que duas a cada três pessoas acreditam que a situação da pandemia está piorando no País. Cidades que reabriram o comércio mesmo que parcialmente, mas não fizeram um trabalho rigoroso de fiscalização, estão assistindo ao aumento de casos. Fica evidente que por trás da pressa em reabrir a economia antes que a doença esteja controlada está uma tentativa de reduzir o impacto econômico no comércio em geral.

Muitos comerciantes, principalmente os pequenos, têm amargado muitos prejuízos desde o início da pandemia e este ano teremos eleições municipais. Mas o que a pesquisa mostra é que a reabertura antecipada poderá ter custos eleitorais. Os setores da população que se mostram mais contrários à reabertura são formados por mulheres (58%), jovens e as camadas mais escolarizadas.

Obedecer às determinações de isolamento social neste momento parece ser a medida mais acertada. A pandemia tem uma dinâmica própria, como mostra o que está acontecendo na Grande São Paulo. O número de internações está caindo consideravelmente.

Tanto é que o hospital de campanha do Pacaembu foi desativado nesta segunda-feira e os últimos pacientes que ali estavam internados foram transferidos para o hospital de campanha do Parque Anhembi, que deverá continuar funcionando por mais um período.

A desativação desse hospital está liberando equipamentos hospitalares, sobretudo respiradores, que começam a ser enviados pelo governo a cidades do interior e a hospitais públicos que estão na frente de combate da pandemia.

Um pouco mais de sacrifício nas próximas semanas, com mais rigor no isolamento social e a adoção de medidas de proteção individual, poderão levar o interior do Estado ao mesmo patamar que chegou a Grande São Paulo, com menor número de casos novos e de mortes.