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A crise das vacinas

26 de Julho de 2019 às 00:01

Campanha antirrábica terá, hoje, 33 postos de vacinação  Crédito da foto: Erick Pinheiro (3/11/2018)

A Secretaria da Saúde de Sorocaba (SES) vai alterar sua programação de trabalho neste ano e suspender a campanha de vacinação antirrábica que geralmente começa no mês de agosto e, na maioria das vezes, prossegue até o final do ano. Normalmente a vacinação é feita nas unidades de saúde e em postos volantes, para atender a zona rural. A campanha foi suspensa em vários municípios da Região Metropolitana de Sorocaba por falta de vacina. Vários municípios também informam que estão praticamente sem estoque do soro antirrábico (SAR), que é dado a pessoas que tiveram contato com animais supostamente infectados. As últimas campanhas têm imunizado um pouco mais de 30 mil animais em Sorocaba onde, segundo a SES, existe um estoque de apenas 12.650 vacinas e que são destinadas a ações de rotina, como a vacinação de cães e gatos que entram em contato com morcegos e vacinações eventuais. Com alguma frequência o Serviço de Zoonoses tem encontrado morcegos doentes no município.

A suspensão da campanha de vacinação ocorreu quando o Ministério da Saúde informou que havia desabastecimento nacional dessa vacina por conta do atraso na entrega do fornecedor. A promessa é que o abastecimento seja normalizado em novembro, quando então será realizada a vacinação. Não é a primeira vez que Sorocaba sofre com o a falta de vacina contra a raiva. Por conta do mesmo problema, a SES já realizou campanha de vacinação utilizando seu próprio estoque, até que o fornecimento do governo federal se normalizasse. A raiva é uma doença extremamente grave que pode ser transmitida ao ser humano pela saliva que entra em seu corpo por meio de uma mordida ou da pele com lesões. Embora a vacinação seja direcionada para cães e gatos, os animais domésticos mais comuns no ambiente urbano, a raiva pode ser transmitida por qualquer mamífero como cabras, cavalos e vacas. Mamíferos não domésticos como morcegos, gambás, raposas e macacos contaminados também podem ser vetores para a doença. Felizmente são raros os casos de raiva ou hidrofobia no Brasil nos últimos anos, mas isso ocorre graças à cobertura oferecida pelas campanhas de vacinação que vinham cumprindo um calendário fixo. A Secretaria de Saúde de Sorocaba não registra a presença de animais com raiva no município nos últimos anos, mas em 2018 foram localizados oito morcegos com raiva e, neste ano, três morcegos já foram confirmados com a doença.

O problema para proprietários de animais de estimação é que, independente da realização da campanha de vacinação ou não, a vacina tem de ser dada anualmente e os tutores são responsáveis pelos animais. Boa parte deles certamente procurarão veterinários particulares para fazer a imunização, mas terão de desembolsar entre R$ 60 e R$ 110, que é o preço cobrado por dose. Veterinários orientam que o responsável pelo animal deve vaciná-lo 12 meses após a vacinação do ano passado, período de duração da imunização.

Mas não é só a vacinação de animais que enfrenta problemas. Como mostrou reportagem da edição do Cruzeiro do Sul de ontem, faltam nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município pelo menos cinco tipos de vacinas. A lista inclui a Pentavalente, a Tríplice Bacteriana (DTP), a Tetraviral, a Vacina Oral Poliomielite e BCG, que é dada aos recém-nascidos para prevenir a tuberculose. Segundo a SES, ainda há doses em algumas unidades, por isso é preciso que o cidadão que precisar das vacinas ligue antes para a UBS para se informar.

Com as informações disponíveis até o momento, é difícil saber de quem é a responsabilidade pelo desabastecimento de vacinas na rede pública. O Ministério da Saúde informa que distribui mensalmente as doses das vacinas para os Estados, e a Secretaria de Saúde do Estado ainda não se manifestou. O problema ocorre em um momento especialmente preocupante, pois começam a surgir no Brasil casos de sarampo depois que o país foi classificado como livre dessa doença. Há um aumento mundial de casos de sarampo que cresceram 300% no primeiro trimestre deste ano, segundo a Organização Mundial da Saúde. Em Sorocaba e cidades da RMS já são vários os casos confirmados de uma doença que é evitável por meio de duas doses de uma vacina considerada segura e eficaz.