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Editorial

E a inadimplência, como vai?

20 de Dezembro de 2025 às 20:00
Cruzeiro do Sul [email protected]
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A inadimplência alcançou 8,7 milhões de companhias brasileiras em outubro, recorde da série histórica iniciada em março de 2016, totalizando R$ 204,8 bilhões em dívidas, aponta o Indicador de Inadimplência das Empresas da Serasa Experian.

O indicador - segmentado por unidade federativa, porte e setor das empresas — contempla a quantidade de empresas brasileiras que estão em situação inadimplência, ou seja, possuem pelo menos um compromisso vencido e não pago, apurado no último dia do mês de referência.

A economista Camila Abdelmalack, da Serasa Experian, avalia que a desaceleração na concessão de crédito tem limitado a capacidade das empresas de renegociar dívidas e reorganizar suas obrigações financeiras, aumentando a pressão sobre o caixa. “Paralelamente, o esfriamento da atividade econômica reduz a geração de receita, criando um cenário desafiador para a manutenção da liquidez e para a sustentabilidade das operações, especialmente entre micro e pequenas empresas”, acrescenta.

A dívida média das companhias em outubro de 2025 foi de R$ 23 658,74 e cada negócio inadimplente acumulou, em média, 7,1 contas em atraso, entre as quais o ticket médio por compromisso vencido foi de R$ 3.329,5.

Do total de empresas inadimplidas em outubro de 2025, 54,9% eram do setor de Serviços; 33%, Comércio; 8%, Indústria; 3,1% a Outros; e 0,9% ao segmento Primário. Já em relação aos setores das dívidas negativadas no período, o maior volume de negativações ficou em Serviços (32,2%), seguido por Bancos e Cartões (19,3%).

Do total de 8,7 milhões de companhias inadimplentes em outubro de 2025, a maioria (8,2 milhões) eram Micro, Pequenas e Médias empresas, concentrando, juntas, o volume de 56,8 milhões de dívidas negativadas e somando R$ 184,6 bilhões em contas inadimplidas. As micro, pequenas e médias empresas sentem mais rapidamente os impactos dos juros altos e das incertezas do cenário internacional. Já as companhias maiores têm mais estrutura para honrar as suas dívidas, mesmo com o giro de capital impactado pela retração diante dos desafios atuais do cenário econômico brasileiro.

Os Estados do Sudeste concentraram o maior volume de CNPJs inadimplidos (mais de 4,6 milhões), seguidos pelo Sul (mais de 1,4 milhão) e do Nordeste (mais de 1,3 milhão). O Centro-Oeste (755 mil) e o Norte (516 mil) foram os com menor volume de companhias no vermelho.

Falamos da inadimplência das empresas, mas é bom saber como está a vida das famílias brasileiras. Continuando a sequência de altas preocupantes, o índice de endividados está próximo de 80%, bem como a proporção das famílias que atrasaram as parcelas de suas dívidas por mais de 90 dias, que chegou a casa dos 49%, o maior nível desde dezembro do ano passado (49,2%). O percentual de famílias cuja dívida dura mais de um ano subiu para 32%. Os dados foram apurados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo , na última edição da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor.

O avanço da inadimplência entre famílias e empresas brasileiras tornou-se um dos sinais mais eloquentes do esgotamento financeiro vivido por grande parte do País. Com quase um terço das famílias em atraso e milhões de empresas negativadas. O problema já não pode ser tratado como episódio pontual, mas como sintoma de um modelo econômico que cobra seu preço no cotidiano da sociedade. Juros elevados, inflação resistente, crédito caro e renda pressionada são fatores estruturais que ajudam o endividamento crescente e são terreno fértil para a inadimplência.

A inadimplência recorde é resultado de decisões acumuladas, omissões recorrentes e de um Estado que insiste em empurrar o custo de seus desequilíbrios para a sociedade. Enquanto o debate econômico continuar subordinado a interesses políticos imediatos, famílias e empresas seguirão pagando a conta com atraso, juros e insegurança.

Programas de renegociação ajudam a aliviar casos individuais, mas não enfrentam a raiz do problema. Funcionam como paliativos em um cenário que exige previsibilidade, responsabilidade fiscal e crescimento sustentável da renda.