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Editorial

Quando a juventude vira oposição

17 de Dezembro de 2025 às 21:00
Cruzeiro do Sul [email protected]
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A divulgação da pesquisa AtlasIntel/Bloomberg, no início de dezembro, trouxe à tona um dado que o governo federal não pode tratar como ruído estatístico nem como variação circunstancial de humor do eleitorado. Pela primeira vez de forma clara e mensurável, a reprovação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ultrapassou a marca simbólica dos 50%, atingindo 50,7% dos entrevistados. Em política, cruzar essa linha não é detalhe técnico e sim sinal de desgaste real.

Mais interessante do que o número consolidado, porém, é o perfil de quem rejeita o governo. A desaprovação cresce justamente entre jovens e brasileiros com ensino médio, grupos que funcionam como termômetro social do presente e do futuro. Quando esse segmento se afasta, não se trata apenas de perda de apoio momentâneo, mas de erosão de expectativa.

Os jovens que expressam desaprovação majoritária ao modo petista de governar pertencem a uma geração que não experimentou diretamente os anos de crescimento econômico e ascensão social do início dos anos 2000. Para eles, o “Lula do passado” é uma construção narrativa, não uma vivência concreta. Seu julgamento é feito com base no agora: renda, emprego, custo de vida, perspectiva profissional e autonomia.

É uma geração que ingressa no mercado de trabalho em condições adversas, convive com informalidade persistente, salários achatados e vê o consumo básico pressionado pela inflação. O discurso da reconstrução institucional, embora relevante no plano simbólico, não paga aluguel, não garante estabilidade profissional e não gera horizonte claro de prosperidade.

Além de suas próprias aflições produzidas pelo lulismo e incerterzas de um governo que prioriza a retórica e não a prática, que ama gastar mal o dinheiro público e vive dislumbrado desde 2023, os jovens assistem as dificuldades de seus pais no dia a dia para manter a família funcionando, mesmo com os preços altos frutos de uma inflação que o governo Lula não tem capacidade de conter, mesmo qual a falta de serviços públicos condizentes aos impostos que pagam. Esses jovens avaliam menos o que foi feito ontem e mais o que está sendo entregue hoje. E os dados indicam que as respostas que vêm de Brasília não estão convencendo.

O recorte da escolaridade reforça esse diagnóstico. A maior rejeição entre brasileiros com ensino médio completo revela um grupo social situado no meio do caminho: distante das políticas assistenciais mais focalizadas e, ao mesmo tempo, excluído das oportunidades de ascensão econômica mais robustas.

É o cidadão que trabalha, paga impostos, enfrenta serviços públicos ineficientes e percebe um Estado cada vez maior, mais caro e menos responsivo. Para esse segmento, a expansão de gastos públicos sem melhora perceptível da qualidade de vida soa menos como política social e mais como desorganização administrativa. Aqui, a frustração não é ideológica e sim prática.

O governo tende a se apoiar em pesquisas que apontam empate técnico ou leve vantagem na aprovação para sustentar a narrativa de estabilidade. Essa leitura é perigosa. A pesquisa AtlasIntel/Bloomberg expõe uma verdade incômoda: a base social de sustentação do governo é mais frágil do que os números médios sugerem.

Há uma diferença substantiva entre governar com maioria social sob custódia e governar sob tolerância dividida. No segundo caso, qualquer crise econômica, fiscal ou institucional tende a ter efeitos amplificados. A margem para erro diminui. O custo político de decisões impopulares aumenta. E a capacidade de liderar o debate público se enfraquece.

O dado mais sensível dessa pesquisa não está apenas no presente, mas no futuro. Jovens de hoje são eleitores decisivos amanhã. Uma geração que se afasta agora dificilmente será reconquistada apenas com retórica eleitoral às vésperas de 2026.

Além disso, a rejeição crescente entre jovens e classe média baixa abre espaço para mais discursos alternativos, não necessariamente mais responsáveis. A reprovação acima de 50% registrada pela AtlasIntel/Bloomberg deve ser lida como o que ela é: a realidade de um País preocupado com seu futuro. Não apenas sobre a avaliação de um governo, mas sobre o esgotamento de uma narrativa que já não dialoga com parte significativa da sociedade.