Editorial
Entre os 10 mais violentos
O novo ranking da Armed Conflict Location & Event Data (Acled) — organização sem fins lucrativos e independente que monitora, avalia e mapeia dados sobre conflitos e protestos, sediada nos Estados Unidos, coloca o Brasil na incômoda sétima posição entre os dez países mais violentos do mundo, com um conflito classificado como extremo.
Segundo o índice, nos últimos doze meses, o Brasil registrou 9.903 eventos de violência política — expressão usada pela Acled para definir o uso da força por um grupo com propósito ou motivação política, social, territorial ou ideológica, incluindo violência contra civis e força excessiva contra manifestantes, por exemplo.
A constatação é triste: o Brasil está lado a lado com regiões mergulhadas em guerras civis, colapsos institucionais ou disputas armadas pelo controle territorial. Não é exagero. É o diagnóstico de uma entidade internacional independente, que monitora conflitos em mais de 240 países e territórios. Quando uma democracia de dimensões continentais aparece ao lado de Palestina, Sudão e Mianmar, algo está profundamente errado.
Esses números deveriam gerar comoção nacional e reposicionar a agenda pública, mas foram recebidos com a indeferença de sempre por um governo que parece ter se acostumado a comandar um País em estado de alerta permanente.
A violência brasileira não é obra do acaso, tampouco um fenômeno isolado. É resultado direto da deterioração das políticas de segurança e da incapacidade do governo federal de reconhecer a gravidade da situação. A atual administração prefere se esconder atrás de narrativas ideológicas, minimizar o problema ou transferir responsabilidades a Estados e municípios e até mesmo para as vítimas. Enquanto isso, o crime organizado expande fronteiras, as milícias ampliam seu poder econômico e político, e o território nacional vai sendo recortado por forças paralelas que tratam brasileiros como súditos, não como cidadãos.
O próprio levantamento da Acled aponta o óbvio: a explosão da violência é um dos motores do caos brasileiro. E, como enfrentar organizações criminosas cada vez mais sofisticadas quando o governo hesita em assumir uma postura firme? Como proteger populações inteiras se o Estado não controla sequer áreas urbanas capitais, onde facções e milícias impõem regras, cobram taxas e substituem serviços públicos?
O discurso oficial repete a mesma ladainha: “a situação está sob controle”. Mas não está. Os dados internacionais escancaram isso com realidade.
O governo também prefere ignorar que a violência — quase dez mil eventos no período — cresceu em um ambiente de radicalização alimentado por disputas internas, retóricas inflamadas e ausência de condução responsável. Quando a liderança nacional abdica de atuar como moderadora e passa a colocar gasolina no debate público, o País inevitavelmente paga a conta nas ruas.
A perspectiva para 2026 é ainda mais preocupante. A Acled projeta que a América Latina será foco de instabilidade crescente, impulsionada por tensões políticas, militarização da segurança e fortalecimento de grupos armados. O Brasil, já fragilizado, entra nessa equação em posição vulnerável. E o governo? Continua mais preocupado com alianças eleitorais para 2026 do que com o desmonte das estruturas criminosas que corroem o Estado por dentro.
Trata-se de uma escolha com consequências. A violência brasileira não será enfrentada com discursos vazios, operações midiáticas ou medidas improvisadas para agradar a opinião pública. É necessário planejamento de longo prazo, coordenação federativa e coragem política, atributos que o governo tem demonstrado não possuir.
A inclusão do Brasil entre os países mais violentos do mundo é um alerta, mas também um espelho. Nele, vemos a imagem de um Brasil que o governo insiste em negar: desigual, inseguro e cada vez mais à mercê de poderes paralelos. Fingir que tudo vai bem não apenas desonra a realidade como coloca milhões de brasileiros em risco diário.
Enquanto Brasília prefere olhar para 2026, o restante do País continua com medo. E o mundo inteiro está vendo. Para entender o tamanho do problema, segue o ranking da Acled: 1º) Palestina; 2º Mianmar; 3º Síria; 4º México; 5º) Nigéria; 6º) Equador; 7º) Brasil; 8º) Haiti; 9º) Sudão; e 10º) Paquistão.